“Como não cair no “vale do desespero” na curva da mudança?”

Por António Saraiva, Business Development Manager na ISQ Academy

 

Transição! Um dos termos do momento ou um termo sempre atual. Preocupação dos pais na fase de passagem da infância para a adolescência, ou desta para a vida adulta. Preocupação dos jovens, em particular quando terminam a vida académica e entram na vida profissional. Mais tarde a transição de carreira ou de mudança de entidade empregadora. Já para não falarmos da transição da designada vida à ativa para a reforma. No fundo, a nossa existência é pautada por muita mudança. Muitos resistem, procurando alguma estabilidade, mas outros, seguem o desígnio de procurarem sempre novas soluções. Umas vezes por ambição, outras por aumentar a satisfação, por progressão ou aumento dos ganhos de competência ou, simplesmente, novos desafios.

Seja qual for a transição, a ansiedade está sempre presente. Há sempre um questionar de como vou lidar com a mudança. Qual o impacto? Em particular, qual o efeito que a transição produzirá? Estará em alinhamento com um sucesso? Ou será uma desilusão? Será algo que ultrapassará os meus limites? Sem dúvida nenhuma que, inicialmente, a ansiedade deverá ser positiva, até de uma grande satisfação, mas o receio da novidade acompanha todo o processo.

Este processo de transição é, muitas vezes, uma ato isolado. Contudo, não tem de o ser. Em termos pessoais, o suporte familiar é sempre crucial, assim como da respetiva ambiência social. Mas foquemo-nos no âmbito organizacional. E aqui a prevenção é fundamental. Por isso, a preocupação cada vez mais incisiva e estruturada dos processos de onboarding, tentando que a transição seja realizada de forma suportada. Quando não o é, os números de turnover durante o primeiro ano de imersão disparam significativamente, representando um ónus relevante para o investimento realizado, mas também do ponto de vista para o próprio, muitas vezes a um sentimento de culpa, ou de falha que tem repercussões até na sua própria auto-estima.

Se por uma lado, a teoria nos demonstra que é normal cair-se no que alguns autores designam de “vale do desespero” na curva da mudança, já não será normal que esta fase seja acompanhada de momentos de stress excessivo, ou mesmo de depressão, por falta do devido acompanhamento. Sentimentos de alguma incapacidade e de desilusão na fase de transição são próprios do processo, mas não têm de ser angustiantes, devem apenas fazer parte de uma aprendizagem evolutiva, de adaptação e de perceção de uma nova realidade e quais os passos que devem ser efetivamente dados.

Organizacionalmente, os tempos são complexos. Os modelos de trabalho estão a alterar-se, o próprio contexto externo está a sofrer novos impactos, os desafios são cada vez mais inesperados. Há que trabalhar sobre uma aceitação gradual de toda uma transição, com um posicionamento de futuro, sem perder o presente. Uma atitude de complacência, esperando que tudo corra pelo melhor não é o caminho. Mais que nunca, há que explicar e comunicar a mudança. Imbrincar e fazer participar as pessoas na mudança é uma visão de ganhar uma transição positiva. Fornecer-lhes as ferramentas essenciais, incluindo competências de valorização pessoal, e prevenir um bem-estar duradouro são âncoras essenciais deste processo.

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