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Como ser mais feliz no trabalho?
Domènec Melé acredita que a felicidade pode estar associada ao trabalho, a que dedicamos tanto tempo e esforço ao longo da vida. Conheça a opinião deste especialista, chair of Business Ethics do IESE.
Todos queremos ser felizes, mas em que consiste a felicidade? E como se alcança? Há algo que possamos fazer para a atingir, ou depende totalmente de factores que estão fora do nosso controlo, tais como o temperamento ou circunstâncias externas? Foram estas as questões colocadas pela AESE – Escola de Direcção de Negócios, que convidou Domènec Melé, especialista do IESE, a desenvolver o tema “Como ser mais felizes no trabalho”, numa sessão em que foram apresentados resultados de investigações empíricas e diversas teorias sobre a felicidade tratadas no mais recente livro do orador, intitulado “Fundamentos Antropológicos de la Dirección de Empresas” (Enusa, 2015).
É possível sentir-se feliz num trabalho de gestão, com incertezas, contratempos e conflitos a surgir diariamente?
Domènec Melé | As incertezas costumam gerar sentimentos de angústia e os contratempos sentimentos de insatisfação provocados por não se satisfazer o desejado, mas a gestão pode também levar a sentimentos de satisfação pela concretização de objectivos ou pelo reconhecimento do trabalho de gestão. O desenvolvimento profissional alcançado, inclusivamente aprendendo com os erros, e o serviço prestado aos outros, gera outro tipo de satisfação mais profunda: a satisfação de saber que se consegue proporcionar produtos ou serviços valiosos, que se criam ou se mantêm postos de trabalho e se proporciona suporte material a muitas famílias. A empresa é uma actividade árdua mas valiosa. Quando se entende assim, saber que se está a levar para a frente a empresa é também fonte de felicidade.
Como é que os líderes de uma empresa podem contribuir para que os colaboradores se sintam mais felizes no seu trabalho?
Domènec Melé | Refira-se os motivos salientados pelos especialistas pelos quais se deixa a empresa: falta de reconhecimento (pode incluir remuneração, mas não necessariamente), trabalhos que não nos preenchem e motivam, limitadas possibilidades de promoção, más práticas de gestão, uma liderança com falta de confiança, culturas laborais disfuncionais e/ou tóxicas. Os líderes de uma empresa podem contribuir para que os seus colaboradores se sintam mais felizes através de reconhecimento, de uma carreira laboral e de promoções, mas, talvez ainda mais, procurando que o trabalho preencha a pessoa, que haja um bom ambiente laboral e com uma liderança que faça sentido, que apresente as razões porque se pode confiar no líder, porque não procura tanto o seu interesse próprio como o bem de toda a equipa.
Que factores influenciam a felicidade no trabalho e como podem as pessoas ultrapassá-los?
Domènec Melé | Há factores (…) tipo incertezas e contratempos, que estão fora do controlo do dirigente. Mas algo depende dele: encontrar um sentido para o que faz, que lhe preencha as suas necessidades e a vontade de ser útil e de servir os outros.
A felicidade no trabalho depende mais da posição individual dos colaboradores ou da relação destes com os colegas e das circunstâncias externas com que se deparam?
Domènec Melé | No que depende de nós, a atitude é fundamental para sermos mais felizes. Esta atitude exige reflexão, encontrar uma causa nobre pela qual trabalhar e que contribua para uma vida conseguida. Nos Estados Unidos, um amplo inquérito pôs em relevo que os factores mais citados na influência para ser feliz eram: a fé (sentido profundo da existência), a família (com quem partilhar e pela qual vale a pena trabalhar e esforçar-se), o trabalho (sentir-se útil) e a amizade, incluindo o serviço à comunidade (doação aos outros).