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Como transformar a multiculturalidade em vantagem competitiva em 2025?
Por Maria João Oliveira, directora de Recursos Humanos da valantic BT
A multiculturalidade, uma realidade inevitável nos dias de hoje, tem experimentado um crescimento notável nos últimos anos, sendo, por norma, uma característica de empresas com uma mentalidade receptiva e uma cultura colaborativa no seu ADN.
No que diz respeito, por exemplo, em específico, ao contexto empresarial português, o “Índice DEI Europeu”, da EY, publicado em 2024, posiciona o país no terceiro lugar nesta matéria, com uma pontuação de mais de 5 em 10, destacando-se em áreas como a diversidade de género e a diversidade cultural.
Mas quais são os segredos para alcançar um posicionamento desse tipo? Como é que as empresas devem abordar este assunto? Quais os benefícios e vantagens envolvidos?
A multiculturalidade, para além de trazer diversos benefícios que enriquecem a estrutura das empresas, através da integração de diferentes culturas no ambiente profissional, é um dos maiores activos de uma empresa, sendo uma fonte de inovação, criatividade e adaptação aos desafios do mercado.
Com o “cruzamento” de diferentes culturas surgem novas ideias e abordagens, por exemplo, para resolver problemas, o que é fundamental no actual cenário empresarial caracterizado pela constante mudança. A criatividade estimulada pela interacção entre diferentes formas de pensar permite que as empresas desenvolvam produtos e serviços mais inovadores e adaptados a um público diverso. Uma equipa diversificada, ao incorporar diferentes perspectivas, é capaz de oferecer soluções mais amplas e eficazes, com maior probabilidade de sucesso nos mercados internacionais.
O conhecimento das diferenças culturais facilita também a adaptação da empresa a novos mercados, uma vantagem decisiva para expandir o alcance de uma empresa. Uma equipa multicultural, com experiência e entendimento de diversas e diferentes realidades, tem uma compreensão mais profunda dos desafios e oportunidades que possam surgir neste âmbito. Essa capacidade é, certamente, um factor diferenciador importante para empresas que procuram não só sobreviver, mas, acima de tudo, prosperar num mercado globalizado e competitivo.
Contudo, para que as empresas consigam transformar a diversidade em vantagem competitiva, é necessário um olhar atento e uma gestão estratégica que vai muito para além da simples implementação de políticas consideradas de inclusão, muitas vezes, superficiais. É crucial pensar em iniciativas que realmente favoreçam a troca e a integração entre as diferentes culturas onde colaboradores de diferentes origens culturais possam compartilhar conhecimentos e experiências e não haja espaço para o preconceito, que, muitas vezes, está presente de forma subtil nos ambientes de trabalho e que é um dos maiores obstáculos para a plena integração.
Para levar a cabo essas acções e iniciativas e garantir que a diversidade se reflecte nas decisões estratégicas das empresas, as lideranças surgem como cruciais. É fundamental que os líderes empresariais saibam identificar os pontos fortes de cada cultura representada nas empresas. Cada uma delas traz consigo uma forma distinta de abordar problemas, tomar decisões e comunicar. Reconhecer e valorizar essas diferenças é um diferencial importante.
Por outras palavras, as chefias devem assumir este tema como uma responsabilidade e liderar, pelo exemplo, até às camadas mais jovens, entre as quais, a geração Z. Esta, segundo dados do estudo “Diversity at Work”, do ManpowerGroup, vai representar 27% da força de trabalho já este ano e 50% dos profissionais da mesma prevê-se que escolham trabalhar em empresas com acções claras no que concerne à diversidade e à inclusão. Estes elementos consolidam-se assim como factores importantes para a atracção e retenção de talentos no contexto empresarial.
Dentro das estratégias a implementar, podem incluir-se, por exemplo, eventos culturais e educativos que celebrem as diferentes culturas e fomentem a compreensão mútua, a redução de preconceitos e o respeito, ou programas de mentoria que estimulem a inclusão, ao criar um espaço seguro onde os colaboradores das diferentes origens podem aprender uns com os outros.
De acordo com o estudo já mencionado, desenvolvido pela EY, as empresas que são referência em matéria de diversidade, equidade e inclusão destinam, em média, 5,45 milhões de euros por ano a iniciativas relacionadas ao tema, o que representa um investimento 25% superior ao das demais empresas.
Em 2025, as empresas que souberem integrar a multiculturalidade de forma estratégica no seu funcionamento diário vão ter, certamente, um grande potencial de crescimento. Esta não se trata apenas de uma questão de responsabilidade social ou de conformidade com as leis de igualdade – trata-se de um factor chave para o sucesso empresarial, a longo prazo.
Ao ultrapassar os preconceitos, identificar os pontos fortes de cada cultura e implementar iniciativas que promovam a inclusão, as empresas podem transformar a multiculturalidade numa verdadeira vantagem competitiva, capaz de gerar novas oportunidades e posicioná-las como líderes no mercado global.
Um novo ano significa uma nova oportunidade de as empresas integrarem a multiculturalidade no seu funcionamento diário, fazendo uso das diferenças culturais como um motor estratégico para serem bem-sucedidas.