
Crise no sector Tech: os despedimentos ultrapassaram os 280 mil em 2024 (e continuam em 2025)
Em 2024, num cenário de incerteza económica e de mudanças nas exigências do mercado, o sector tecnológico foi fortemente afectado globalmente, com 280.991 colaboradores a perderem os seus empregos. Mais de metade destes despedimentos – 157.950 – foram anunciados por empresas norte-americanas, revela uma análise da RationalFX.
Estes números reflectem uma tendência mais ampla de redução de pessoal em todo o sector tecnológico, impulsionada por medidas de redução de custos e por uma reavaliação das prioridades após anos de rápido crescimento. A implementação em larga escala de ferramentas de Inteligência Artificial tem vindo também a remodelar as estruturas empresariais, levando à eliminação de equipas inteiras.
A RationalFX analisou esta onda de cortes de emprego que ocorreram em 2024, com base em várias fontes, como TrueUp, TechCrunch e Layoffs.fyi. Este ano não mostra sinais de abrandamento, pois só neste primeiro mês, mais de 10 mil colaboradores do sector tecnológico já perderam os seus empregos.

Considerando que as maiores empresas tecnológicas estão nos EUA, não é de admirar que mais de metade de todos os despedimentos no sector em 2024 tenham sido de empresas sediadas nos EUA.
Entre 1 de Janeiro e 31 de Dezembro de 2024, 267 empresas tecnológicas americanas despediram um total de 157.950 funcionários. Isto representa mais de metade (56,2%) de todos os despedimentos no sector tecnológico no mundo, que totalizam 280.991. Grandes economias como a China, a Índia, a Alemanha, a Coreia do Sul e o Japão também perderam um número significativo de empregos na indústria tecnológica.
Despedimentos em massa num momento de lucro crescente
Os despedimentos nos EUA, incluindo em muitas empresas de Silicon Valley, são o resultado da sobrecontratação durante a pandemia e da elevada inflação. Mas há outros factores em jogo, sendo os receios da recessão e o crescente foco das empresas na IA apenas dois deles. Muitas empresas anunciaram planos de reestruturação destinados a aumentar a eficiência e a rentabilidade.
Curiosamente, 2023 e 2024 foram fortemente rentáveis para muitas empresas que reportaram um aumento das receitas, lucros recorde para os accionistas e expansão para novos mercados. Então, por que estão as empresas tecnológicas a despedir quando deveriam estar a contratar?
De facto, no sector tecnológico dos EUA estão sempre a ser criados empregos e a contratar profissionais. No entanto, há uma diferença no mercado de trabalho de há vinte ou dez anos, agora muitas das posições são temporárias. E à medida que as empresas migram para novas tecnologias, como a IA, certos empregos tornam-se redundantes, enquanto novas posições são abertas.
Na Alemanha, muitos dos despedimentos foram também o resultado de esforços de reestruturação e de foco na IA. No início de 2024, a SAP, sediada em Walldorf, anunciou um programa de reestruturação que “daria prioridade a áreas de crescimento estratégico, incluindo a IA empresarial”. O número exacto não é claro, mas acredita-se que esteja entre 9 e 10 mil cargos eliminados. Segundo a SAP, nem todos os colaboradores foram despedidos e alguns receberam ofertas de cargos “centrados na IA”.
Outro factor importante na Alemanha foi a estagnação económica, sendo 2024 o segundo ano consecutivo de contracção na economia. O sector transformador entrou numa crise profunda devido ao aumento dos preços da electricidade e à queda da procura externa. Isso reflectiu-se nas demissões do ano passado no sector tecnológico, que quase chegaram aos 20 mil.
Gigantes da indústria lideram despedimentos na tecnologia em 2024

Em 2024, a liderar os despedimentos esteve a Dell, que despediu 18.500 colaboradores. Entre as razões para esta medida está a queda da procura por computadores pessoais e hardware empresarial. Logo de seguida, a Intel cortou 15.100 posições, no meio da queda nas vendas de chips e do aumento da concorrência no mercado global de semicondutores.
A Amazon também anunciou despedimentos significativos, cortando quase 15 mil empregos. Estas reduções de emprego fizeram parte da reestruturação contínua da empresa, que começou no final de 2023 para optimizar as operações e adaptar-se às mudanças nos hábitos de consumo dos consumidores.
Os fabricantes de electrónica não ficaram imunes, com a Samsung a despedir 14.455 trabalahdores, destacando os desafios nos mercados globais de smartphones e electrodomésticos. Da mesma forma, a Toshiba cortou 9000 postos de trabalho ao reestruturar as suas divisões de electrónica e energia. A Siemens também reduziu o seu pessoal em cerca de 5000. A maioria das vagas está no sector da automação industrial.
O sector dos veículos eléctricos também sofreu despedimentos, apesar do seu potencial de crescimento. A líder do sector, Tesla, despediu 14 mil colaboradores na tentativa de reduzir os custos operacionais, no meio do aumento das despesas de produção. O fabricante chinês de veículos eléctricos Li Auto fez o mesmo, cortando 10 mil postos de trabalho, reflectindo desafios mais amplos no mercado automóvel chinês.
Os fornecedores de software e de serviços tecnológicos também contribuíram significativamente para a redução da força de trabalho. A Cisco reduziu o seu pessoal em 9600, enquanto a SAP despediu 9500 trabalhadores. Até a Microsoft, conhecida pelos seus sólidos negócios de cloud e software, anunciou quase 5000 cortes de emprego.
Mas os despedimentos não se limitaram às empresas tecnológicas tradicionais. A aplicação turca de entrega de comida Getir cortou 6000 empregos, ilustrando o impacto mais amplo das dificuldades económicas nos negócios da economia gig. A entrega de alimentos e mantimentos, em particular, cresceu imenso durante a pandemia, mas desde então tem vindo a diminuir.
Na Primavera de 2024, a Getir confirmou a sua saída do Reino Unido, Europa e Estados Unidos para se concentrar no mercado doméstico, um movimento que foi seguido por uma reestruturação que dividiu a empresa em duas entidades separadas.
Da mesma forma, empresas de tecnologia financeira como a Paytm e a PayPal reduziram a sua força de trabalho em 5000 e 2500 posições, respectivamente, à medida que o financiamento diminuiu e a rentabilidade assumiu o centro das atenções.
A onda de despedimentos no sector tecnológico continua em 2025
Observando os últimos anúncios das empresas, os despedimentos nas Big Tech vão continuar em 2025, embora a um ritmo mais lento. Desde o início do ano, pelo menos 11.299 trabalhadores do sector perderam os seus empregos, tendo as maiores reduções sido anunciadas pela Meta. O CEO Mark Zuckerberg anunciou que a empresa está prestes a cortar cerca de 5% da sua força de trabalho, ou aproximadamente 3600 colaboradores, com foco nos “colaboradores com baixo desempenho”.
Os despedimentos por desempenho também foram anunciados pela Microsoft, que alegadamente reduzirá o seu pessoal em cerca de 2280. Num esforço para optimizar as operações e reduzir os custos, a Amazon disse que iria eliminar um “pequeno número de funções” no seu departamento de comunicações, mas acredita-se que o número de despedimentos seja próximo de 2000.