Desemprego actual – conjuntural ou estrutural?

Por António Saraiva, Business Development Manager na ISQ Academy

 

Conjuntural ou estrutural? É sempre a questão que se coloca quando o desemprego aumenta ou diminui. Certamente uma análise mais fria e detalhada às estatísticas remete-nos para as duas vertentes, dependendo, por exemplo, do setor de atividade. Mas não desvalorizemos as estatísticas agora divulgadas: o número de desempregados inscritos no Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) no final de julho era de 277.466, valor mais baixo “desde que há registo”, sendo menos 91.238 do que no período homólogo do ano passado.

Em março de 2021, no pico da pandemia, em termos de desemprego registado, estavam 432.851 pessoas inscritas no IEFP, das quais 50.906 jovens. No final do último mês havia 26.670 pessoas com menos de 25 anos inscritas no IEFP, sendo, igualmente, o valor mais reduzido “desde que há registo”.

Entre junho e julho, o desemprego registado baixou em cadeia em todas as regiões no país – com exceção do Alentejo, onde subiu 1,1%. Ainda em termos regionais, verificaram-se diminuições face a julho do ano passado em todo o país, destacando-se a redução de 52,7% no Algarve. Todos os grandes setores de atividades registaram descidas homólogas, com o desemprego oriundo do alojamento, restauração e similares a baixar 38,7% contra o mesmo mês de 2021. Também o número de desempregados de longa duração caiu entre junho e julho, com uma variação de 3,7%, para 132.469 pessoas. Em termos homólogos, este indicador caiu 25,6% face a julho de 2021.

Evidente que estes indicadores revelam uma certa retoma, em particular no setor do Turismo. Mas existe um registo muito mais importante: no último trimestre, foi alcançado um novo máximo de trabalhadores com contrato sem termo, mais 196 mil face a 2021 (+6,0%), o que pode ser revelador de uma diminuição da precaridade.

Mas já podemos claramente afirmar que existe uma intervenção inequívoca sobre os fundamentos estruturais da economia nacional? Talvez seja pouco prudente irmos por este caminho, no imediato. Até que ponto se está a investir em qualificações que enfrentem os desafios atuais e os que se perspetivam? Não esqueçamos que só 35% dos nossos jovens já terminaram formação superior e que o sistema educativo ainda está a refletir sobre a resposta às profissões do futuro.

E até que ponto os salários e benefícios são estimulantes e motivadores para acomodarem as necessidades de quem trabalha, retendo o designado talento? Não esqueçamos que estudos recentes (Fundação Francisco Manuel dos Santos e PRM Market Intelligence), revelam que três em cada quatro jovens que trabalham ganham até 950 € líquidos por mês e que 57% vivem com os pais ou familiares, apontando como principal razão a instabilidade económica (58% destes). E sem detalharmos aqui outros grupos etários que estão condicionados por uma inflação galopante.

Há que encarar os números do desemprego, agora divulgados, como altamente positivos. Mas com um nível de responsabilidade acrescida para projetar no futuro um posicionamento que se pretende estrutural, a este nível. Sem um investimento claro no aumento das qualificações dos profissionais, em particular upskilling e reskilling para se enfrentarem desafios atuais e futuros, assim como numa consciência plena de que há níveis de compensação salarial e de bem-estar a serem incrementados, poderá perder-se inequivocamente uma oportunidade única de sermos uma Economia de sucesso. É em tempos difíceis, como os atuais, que se vê quem tem “unhas para tocar guitarra”! Se não, estas estatísticas, não passam de… números!

Ler Mais