
Despedimentos colectivos atingem o pior registo desde 2014
O número de trabalhadores despedidos em processos de despedimento colectivo entre Janeiro e Setembro deste ano já vai em quase 5400 casos, naquele que é já o pior registo desde 2014, o último ano da troika em Portugal, avança o Dinheiro Vivo.
De acordo com a Direcção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT), que pertence à esfera do Ministério do Trabalho, nestes nove meses de 2020 – até ao final do terceiro trimestre, ainda dentro dos meses de proibição de despedimento para quem recorreu ao lay-off simplificado -, as empresas já levaram à saída mais 50% de trabalhadores do que em todo o ano de 2019. Alguns casos de despedimento ainda são relativos a processos iniciados no ano passado.
A publicação revela que no entanto, o alastramento dos despedimentos colectivos é uma realidade galopante, na sequência da crise económica que se abateu sobre Portugal por causa da pandemia e das medidas de resposta, que passam por limitar fortemente muitas actividades económicas e a circulação de pessoas (confinamento).
Os despedimentos bem como o desemprego são fenómenos que se manifestam com algum desfasamento face à evolução da conjuntura. Num primeiro momento, as empresas pararam (no sector do turismo assistiu-se mesmo a uma interrupção da actividade durante os meses de Abril e Maio, como refere o INE), mas ainda tentaram manter-se à tona.
O Dinheiro Vivo avança que muitas recorreram ao lay-off simplificado, mecanismo em que o Estado subsidiou uma parte grande dos salários, obrigando as empresas que aderiram ao apoio a manterem os postos de trabalho, ficando a maioria das que aderiram impedida de despedir até ao fim de Setembro.
No entanto, muitas empresas preferiram não prolongar o status de apoio público (o sucessor do lay-off) para poderem começar a fazer reestruturações profundas e reduções severas nos quadros de pessoal. É o que começa a acontecer agora – e um dos indicadores mais claros de que isso está em marcha são os despedimentos colectivos.
De acordo com um levantamento feito pelo Dinheiro Vivo, a situação é cada vez mais grave. O número de trabalhadores que já foram afastados das empresas em Portugal continental através despedimento colectivo ascende a 5382 casos, mais 49% do que em todo o ano de 2019.
As intenções de despedir também subiram nessa proporção. Segundo a DG tutelada pela ministra Ana Mendes Godinho estão no rol de pessoas “a despedir” 5850 (Janeiro a Setembro), mais 49% do que no ano passado inteiro.
Segundo a publicação, analisando apenas períodos homólogos, os dados oficiais mostram que o número de pessoas despedidas mais que duplicou (subida de 142%) no terceiro trimestre deste ano (Julho a Setembro). Este são os meses do desconfinamento, em que a actividade até conseguiu recuperar um pouco, mas não o suficiente para apagar o rasto de destruição dos meses do confinamento.
Também é possível ver que a pandemia fez duplicar o número de trabalhadores afastados em despedimentos colectivos. Foram cerca de 1107 no primeiro trimestre. No segundo trimestre, o grupo de afectados duplicou para 2196. E subiu 88% (quase que duplicou) para 2079 casos consumados no terceiro trimestre, mostram a DGERT.
Os dados mais desagregados do Ministério do Trabalho indicam que, no período em análise (Janeiro a Setembro de 2020), a maioria dos despedidos trabalhava em empresas pequenas e médias.
A região mais afectada é Lisboa e Vale do Tejo, que responde por mais de 57% do total de trabalhadores despedidos. O Norte é a segunda região, carregando quase 30% dos despedidos nestes nove meses de 2020.