Dez lições de liderança… A partir da parentalidade

Como pai de três filhos pequenos, muitas vezes sinto que estou prestes a perder o controlo da situação lá em casa. Felizmente, muito do que aprendi em 23 anos de trabalho em equipa e com equipas permitiu-me desenvolver um conjunto de competências críticas para lidar com as diferentes dinâmicas familiares. Mas a verdade é que sete anos de experiência como pai me tornaram muito melhor líder.

 

Por João Guedes Vaz, Managing partner da Boyden Leadership Consulting em Portugal

 

Numa casa em que cinco pessoas partilham o mesmo espaço durante várias horas ao dia, para lidar com as suas diferentes expectativas e personalidades é necessária uma certa dose de estabilidade, improviso e inteligência emocional. Tudo competências que se podem adquirir e desenvolver ao longo da vida. E que podem ser úteis na vida profissional. Eis 10 lições que podemos aprender:

1. Usar sempre a melhor versão de nós próprios. Seja enquanto líder ou pai, estamos sistematicamente em destaque. A verdade é que não estamos simplesmente a liderar. Estamos a dar o exemplo para futuras gerações de líderes.

2. Ser paciente, saber esperar. Ser pai é uma experiência para toda a vida. Não é algo de que possamos abdicar ou suspender quando nos apetece ou dá jeito. Muito do que fazemos com e pelas nossas equipas só terá efeitos visíveis muitos anos mais tarde, pelo que é preciso saber esperar pelos resultados.

3. Ser consistente. Um dos maiores desafios dos líderes é a credibilidade. Ela constrói-se ao longo do tempo, e a consistência é uma das suas pedras basilares. Esta torna-se mais difícil de obter quando existem dois líderes (os pais) na equação, em que a dissonância pode minar a base da confiança e levar ao desentendimento e à frustração.

4. Não ter medo de admitir as nossas fraquezas. Os seres humanos são imperfeitos, por natureza, pelo que têm falhas e fraquezas. Não as admitindo, os líderes tendem a projectar uma imagem de perfeição, inatingível aos olhos das suas equipas, o que lhes pode causar uma enorme frustração.

5. Escolher as “batalhas” certas. Na liderança, como em família, é importante escolher as batalhas certas para ganhar a “guerra”. A guerra do sucesso de longo prazo das nossas equipas ou dos nossos filhos. É importante dar-lhes espaço para cometer erros. Não o fazendo podemos estar a minar a sua autoconfiança e a sua capacidade de crescerem, enquanto profissionais e pessoas.

6. É natural desiludirmo-nos. É muito fácil criar expectativas elevadas relativamente aos outros. Organizações não são fábricas e as equipas não são máquinas sem sentimentos, pelo que é natural e normal que nos desiludam. O segredo está em conseguir perdoar, esquecer e passar à frente rapidamente.

7. Criar espaço para o erro. Os erros fazem parte do processo de aprendizagem e a forma como se dá feedback é absolutamente crucial. Demasiado positivo poderá criar dependência de feedback para progredir, mas demasiado negativo poderá minar a autoconfiança e a capacidade de evoluir.

8. Cada pessoa é um indivíduo. Cada pessoa corporiza um conjunto único de competências, bagagem biológica, experiências e contextos socioculturais, pelo que não há uma receita única para o sucesso. No entanto, incorporando um propósito, um conjunto de valores e princípios, em tudo o que fazemos e dizemos, conseguimos comunicar directamente com o sistema límbico das pessoas e o seu cérebro fará o resto.

9. Escutar atentamente, usando mais do que apenas os ouvidos. Algumas emoções podem mostrar apenas a ponta do iceberg, a parte visível de problemas mais complexos, sendo nossa responsabilidade, enquanto líderes e pais, perceber as verdadeiras causas para conseguir actuar.

10. Criar um ambiente de segurança psicológica. A segurança dos nossos filhos e das nossas equipas promove o seu crescimento, o seu desenvolvimento, a sua curiosidade de explorar novos caminhos e sair da zona de conforto, porque reconhecem que nós, enquanto líderes ou pais, estamos lá para as apoiar e, com isso, ajudá-las a também serem as melhores versões de si próprios.

É importante que, enquanto líderes ou pais, nunca tenhamos medo de viver com paixão e de nos entregar ao máximo àquilo em que acreditamos.

 

Este artigo foi publicado na edição de Julho (n.º 115) da Human Resources.

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