Dídia Gabriel, Celfocus: «Decidimos usar o nosso ADN tecnológico para promover a igualdade de oportunidades»

“Agir com Propósito” é o mantra da Celfocus para o seu programa de responsabilidade social, que tem por base um a vontade de usar o ADN tecnológico para promover a igualdade de oportunidades. Neste âmbito, lançou recentemente o “Dia do Voluntariado”. Dídia Gabriel, do Departamento de Comunicação e responsável pelos projetos de Responsabilidade da Celfocus fala-nos desta aposta e da importância que assume para a empresa. Neste trabalho, damos também a palavra aos “Celfies”.

Por Ana Leonor Martins

 

Dídia Gabriel garante que o contributo não vem apenas da Celfocus enquanto entidade, mas também das suas pessoas, através de um programa integrado que envolve a todos.

 

Qual a importância que a responsabilidade social assume para a Celfocus?

No nosso dia-a-dia ajudamos os nossos clientes a modernizar, automatizar e digitalizar os seus negócios. Ao longo do tempo, fomos percebendo que as nossas capacidades e experiências são fundamentais para a evolução da sociedade em que vivemos. Porém, sabemos que nem todos têm acesso a esta realidade e, por isso, decidimos usar o nosso ADN tecnológico para promover a igualdade de oportunidades, para que mais pessoas possam usufruir dos benefícios que a tecnologia oferece.

O contributo não vem apenas da Celfocus enquanto entidade, mas também das suas pessoas, através de um programa integrado que nos envolve a todos. A responsabilidade social assume, assim, um papel essencial para a Celfocus, que é reflectido nos comportamentos diários de todos, e na colaboração com as causas que nos movem.

 

Como é que isso se concretiza? Que estratégia assumem neste âmbito?

“Agir com Propósito” é o mantra que assumimos para o nosso programa de responsabilidade social.  Fundamentalmente, somos motivados pela vontade de contribuir para um mundo social e economicamente justo e focado na democratização do acesso à tecnologia.

O programa está assente em três pilares basilares: tornar a tecnologia, enquanto alavanca de progresso social, acessível a cada vez mais pessoas; promover uma comunidade de pessoas dedicadas e motivadas para agir; e criar um ecossistema de impacto sustentável, com escolhas ecologicamente responsáveis e o mínimo de desperdício.

  

E que iniciativas em concreto têm desenvolvido?

Criámos um programa de responsabilidade social que, para já, está maioritariamente focado em contribuir positivamente para o meio ambiente e criar impacto na comunidade, com iniciativas interligadas.

No que diz respeito ao meio ambiente, procuramos reduzir o plástico, removendo todos os copos e garrafas deste material dos escritórios. Por outro lado, garantimos que qualquer material produzido e oferecido às nossas pessoas tem um propósito específico e é reutilizável.

Com base na redução de plástico e das escolhas conscientes que fazemos ao longo do ano, conseguimos reverter um valor para a comunidade, com fundos e meios tecnológicos que ajudam a contribuir para o desenvolvimento da literacia tecnológica. Adicionalmente, promovemos internamente o Dia de Voluntariado, em que cada um pode usar um dia útil laboral para ajudar uma instituição à sua escolha.

 

É uma forma de envolverem os colaboradores no tal mantra…

O programa vive do envolvimento voluntário e activo das pessoas, desde a criação, activação e manutenção das suas iniciativas. Essencialmente, é um programa impulsionado pelos “Celfies” – designação que usamos para nos referirmos às pessoas que trabalham na Celfocus –, que valorizam procurar formas de ajudar o outro e de criar impacto positivo na sociedade. Nesse sentido, temos um grupo de trabalho que reúne mensalmente de forma a manter o programa activo, sugerindo futuras acções e promovendo instituições que conhecem e que precisam do nosso contributo.

O voluntarismo que existe na activação e manutenção do programa significa que quando escolhemos uma instituição para contribuir com doações, ou como sugestão interna para voluntariado, estamos a ajudar causas que as nossas pessoas já conhecem, confiam e nas quais acreditam.

Noutras iniciativas do programa, as nossas pessoas são todas membros activos através das suas acções diárias. Um bom exemplo disso é a forma como estimam o seu computador e outros equipamentos no dia-a-dia, visto que o estado em que se encontram poderá fazer toda a diferença quando alguns deles forem doados a instituições.  Assim, contamos com a colaboração de todas as pessoas para que as doações vão em ótimas condições técnicas e estéticas.

 

O programa permite aos colaboradores utilizarem um dia de trabalho em prol de uma causa que os mova. Mas como funciona, exatamente?

Sim, o programa proporciona a todos os “Celfies” a oportunidade de usar um dia por ano do seu tempo laboral em prol de uma instituição à sua escolha. Acreditamos que as necessidades de voluntariado não acontecem apenas à noite ou aos fins-de-semana e, por isso, os dias úteis são diferenciadores para as instituições que apoiamos.

Ao longo do ano, quem connosco trabalha é convidado a escolher a causa que o move, encontrar a associação que actua nesse segmento e gerir, de acordo com as suas responsabilidades, o dia/horas onde irá fazer a diferença.

Na recente época natalícia, foram vários os que partilharam com a organização as necessidades que conheciam nas suas instituições, e conseguiram juntar grupos de 10 a 12 pessoas em instituições como o Banco Alimentar e a Associação Jovem Despertar.

 

A adesão dos colaboradores tem então sido boa…

Consideramos que foi um início positivo e, como já prevíamos, há muito espaço para crescimento no futuro. Como o grupo de trabalho costuma dizer, são “pequenos grandes passos” que queremos continuar a fomentar. Só na época natalícia, tivemos cerca de 40 pessoas a usar o seu dia de voluntariado em três instituições diferentes. Também foram realizadas recolhas de bens essenciais para quatro instituições de cariz solidário em todos os nossos escritórios.

Estamos conscientes que estes programas precisam de continuidade, perseverança e energia para se tornarem parte da nossa rotina. É uma aprendizagem para todos e, com tanto a acontecer no nosso dia-a-dia, é necessário criarmos espaço e tempo para as causas solidárias que nos movem. Ao possibilitar que tenhamos todos um dia do nosso trabalho dedicado a uma instituição, a Celfocus potencia uma solução para esta necessidade, e contribui não só para as causas às quais se alia, como também para a motivação das suas equipas.

 

Que tipo de causas têm sido mais escolhidas?

Uma das características que nos define como “Celfies” é o facto de gostarmos de estar juntos, de “arregaçar as mangas”, de trabalhar em equipa e ligar cada contributo individual. Por isso, as iniciativas que têm tido mais expressão são aquelas em que conseguimos juntar, de forma orgânica, um grupo considerável de pessoas que consiga fazer a diferença na literacia tecnológica, na luta contra à fome e na sustentabilidade.

 

E que “trabalho” os colaboradores têm feito?

Destaco o trabalho que foi realizado na Associação Jovem Despertar, uma instituição de Solidariedade Social fundada pela Família Missionária Comboniana, em que conseguimos transformar radicalmente uma sala de trabalho usando aquele que é o nosso maior skillset: a tecnologia.

Numa sessão em equipa, foram colocadas 12 workstations completas na Associação, reorganizando a sala e recondicionando os desktops existentes, melhorando uns para doação e encaminhando os restantes para reciclagem. Esta nova sala tecnológica permitirá que uma comunidade fortemente carenciada, sem possibilidade de acesso a equipamentos informáticos, tenha acesso a tecnologia que contribuirá para o seu desenvolvimento pessoal, para a sua formação e, consequentemente, terá impacto na sua inserção laboral.

 

Qual o feedback que têm tido das pessoas que já participaram?

Temos uma equipa entusiasta e exigente no que toca aos desafios que actualmente afectam a nossa sociedade. No contexto actual, não é suficiente ter conhecimento de que a empresa fez uma doação monetária a uma ou mais instituições. As nossas equipas querem ter voz activa nessas escolhas, querem participar e envolver as suas próprias redes nas causas em que mais acreditam, ou às quais de alguma forma estão ligadas. O posicionamento da Celfocus vai ao encontro deste feedback, temos dado voz às nossas pessoas e às suas causas, o que tem resultado num clima de pertença e orgulho.

 

Sabemos que o programa ainda é recente, mas ponderam aumentar a sua abrangência?

Os “pequenos grandes passos” que temos dado nos últimos anos permitiram-nos propor iniciativas mais abrangentes e estruturadas ao longo de 2021.

O caminho será continuar a incentivar e a mobilizar esta comunidade de pessoas, dar voz e força às suas causas e onde elas nos levarem. Nesse sentido, acreditamos que no futuro o programa tem muito espaço para crescer e ganhar uma nova amplitude.

 

No âmbito da sustentabilidade, e já referiu um pouco este tema, a Celfocus tem uma política de zero desperdício. Também envolvem colaboradores neste objetivo…

A nossa “Zero Waste Policy” implica que qualquer material produzido e oferecido tenha um propósito específico e vida útil para além do momento em que chega às mãos das nossas pessoas. Esta questão leva-nos a tomar decisões ambientalmente conscientes quando queremos, por exemplo, marcar um momento junto da nossa comunidade.

Neste percurso de redução da pegada ambiental, começámos por eliminar  o uso de plástico nas nossas instalações em 2018, através da distribuição de garrafas de vidro. Actualmente, de forma a assegurar a continuidade desta prática, esse item faz parte do nosso kit de boas-vindas. Mais recentemente, oferecemos uma manta produzida de rPET (plástico reciclado) para celebrar o fecho do ano.

Anualmente, contabilizamos a poupança da redução de plástico e distribuímos o valor equivalente a esse gasto pelas causas identificadas e seleccionadas por todos. Em 2021, colaborámos com o projeto Student Keep, uma iniciativa que apoiou estudantes sem acesso à internet ou sem computador e permitiu que acompanhassem as actividades lectivas à distância.

 

Qual a importância que acredita que este tipo de iniciativas assume para os colaboradores?

Actualmente, trabalhar numa empresa que tem impacto e sucesso no mercado em que actua é apenas um dos factores de selecção no momento de escolha. As gerações de hoje procuram organizações com uma visão mais ampla e acção nas causas que afectam a nossa sociedade diariamente, com valores nos quais se revejam e onde também possam contribuir.

É um motivo de orgulho “vestir a camisola” por uma empresa que usa a sua dimensão e alcance para apoiar na luta contra a fome, combater a iliteracia tecnológica e promover a sustentabilidade.

 

O impacto estende-se ao bem-estar e até à produtividade dos colaboradores?

Acreditamos que o bem-estar é consequência de todas as iniciativas que criámos internamente a nível de formação, celebração e partilha. Criar momentos para as pessoas aprenderem, ensinarem, ajudarem e apoiarem os colegas, as suas causas, é, sem dúvida, uma das formas de manter as nossas equipas saudáveis e motivadas.

 

Como é que este tema se integra na vossa política de Gestão de Pessoas?

Iniciativas como o Dia de Voluntariado são formas de dar relevância à voz de quem connosco trabalha e delegar responsabilidade nas pessoas. Enquanto organização, cabe-nos criar o espaço necessário para que a escolha individual reflita as prioridades, crenças e vontades de cada um. Procuramos fazer o mesmo no nosso dia-a-dia com equipas ágeis, que se organizam e trabalham de forma autónoma, e são responsáveis por distribuir o seu tempo de acordo com as suas responsabilidades.

 

O futuro das organizações passa, incontornavelmente, pela responsabilidade social e sustentabilidade?

Deixou de ser opcional para organizações como a Celfocus não ter um papel activo na responsabilidade social e sustentabilidade. Revemos nas nossas equipas a curiosidade, perspicácia e energia para moldar e influenciar o futuro.

Cabe às organizações assumir o papel de facilitador e referência, agilizando momentos e formas para uma contribuição activa das suas pessoas, e disponibilizando meios diferenciadores.

Nos tempos que correm, mais do que contribuições individuais, valorizamos as experiências e conexões que cada um e cada uma nos traz.

 

Na primeira pessoa

A Human Resources quis também ouvir, na primeira pessoa, os colaboradores, para perceber a importância que assume esta oportunidade que a empresa lhes dá de dedicar um dia a uma acção de voluntariado. E também qual a causa escolhida e porquê.

 

Homilzio Santos, Senior Software Engineer

A causa que Homilzio Santos escolheu foi os moradores da antiga Roça Ubá Budo Praia, em Santana, São Tomé e Príncipe, por estar nos últimos tempos a trabalhar de São Tomé e a viver de perto a realidade das pessoas da zona. «Por ver e lidar diariamente com a pobreza dos moradores e não conseguir ficar indiferente à situação», partilha, «Sozinho não consigo fazer muito, mas acredito que é importante começar e, com certeza, mais pessoas com vontade de ajudar se juntarão à minha luta. É importante sabermos esticar a mão à aqueles que menos têm, observar e ouvir com atenção. Muitas das vezes quem precisa de ajuda está mesmo ao nosso lado e nós não vemos.

A oportunidade que tive de poder passar um dia com estas pessoas, de poder observar com atenção, levou-me a seguir em frente com a intenção que já tinha há algum tempo, criar uma associação para responsabilidade social e angariação de fundos para combate a pobreza e desigualdade social aqui em São Tomé e Príncipe, com foco no bairro onde moro.

Há muitas crianças que não estudam, ou por desinteresse ou por falta de condições dos pais, muitas não passam sequer pela pré-escola e acabam por ingressas tarde na primária e sem as devidas bases, acabam por se atrasar muitas das vezes, o que leva a uma taxa de abandono/insucesso escolar muito grande.»

O senior Software Engineer considera de «extrema importância ver que a Celfocus tem essa responsabilidade e dá essa liberdade de escolha aos seus colaboradores. Não ficar indiferente as causas e ceder um dia de trabalho a cada colaborador para apoiar uma causa a sua escolha, mesmo com os custos elevados que isso acarreta, é fantástico. Dá-nos ainda mais ânimo de trabalhar na empresa, pois vemos que não somos apenas números e que o fazemos e sentimos também é importante», afirma. «Este ano tive a oportunidade de fazê-lo e no meu país de origem, poder proporcionar sorrisos e alegrias à aqueles que menos têm, não tem preço, foi um dia simplesmente fantástico!»

 

 

Angela De Dominicis, Project Assistant

Angela De Dominicis sugeriu apoiar a “Jovem Despertar: Associação para a Cidadania em Desenvolvimento”, uma instituição de solidariedade social fundada pela Família Missionária Comboniana, que promove um projecto de Inclusão e Inovação Social e Educação Digital, em Camarate.

Explica: «Trabalhando no mundo das telecomunicações há mais de 20 anos, e actualmente na Celfocus, uma empresa que potencia a inovação tecnológica, senti que poderíamos impulsionar significativamente a missão desta Associação. Conseguimos disponibilizar equipamentos que serão utilizados por uma comunidade fortemente carenciada, sem possibilidade de acesso a equipamentos informáticos, promovendo o desenvolvimento pessoal, a formação e inserção laboral.»

A Project assistant partilha que se sente «muito grata e privilegiada por ter esta oportunidade no âmbito profissional. Acredito que as empresas que implementem modelos sustentáveis e inclusivos, consigam fortalecer o compromisso, a motivação e a realização das sua pessoas. E é também uma ocasião para promover relações mais próximas entre colegas e reforçar a colaboração», realça.

«A entreajuda que houve entre todos os voluntários foi muito significativa! Um agradecimento especial à incansável equipa de IT, liderada pelo Carlos Malosso, essencial para a concretização deste projeto de transformação.»

 

 

 

Michael Fernandes, Software Engineer

Já Michael Fernandes escolheu apoiar o Banco Alimentar contra a Fome do Porto, uma vez que já é voluntário naquela casa há algum tempo, nas campanhas sazonais, abrindo as portas aos voluntários semestralmente, tipicamente em Junho e Dezembro. «Este tema sempre foi importante para mim, e ainda mais o é neste momento, tendo em conta o período peculiar em que vivemos de pandemia, com o aumento considerável do número de pessoas necessitadas», faz notar.

Para o Software engineer, «ter um dia dedicado a apoiar causas sociais, em que a empresa permite escolher uma instituição à escolha é realmente gratificante, pois além de podermos ajudar quem mais precisa, a empresa está a ter um papel fundamental na sensibilização dos seus colaboradores, em apoiar as necessidades da sociedade em que se inserem», enaltece. «E numa altura como esta, fazê-lo é realmente uma sensação única de bem-estar e um sentimento de contributo para a humanidade.»

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