Elites em Portugal têm pior qualidade do que a média da União Europeia

A Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP) e a Universidade de Saint Gallen (Suíça), em colaboração com uma rede internacional de parceiros e instituições académicas, lançaram a quarta edição do Índice de Qualidade das Elites (EQx) 2023, um ranking internacional de economia política que fornece uma perspectiva sobre a criação de valor, categorizando os países pela qualidade das suas elites.

 

Entre os 151 países analisados neste estudo, Portugal surge na 30ª posição, degradando a sua posição no índice global (em 2022 ocupava a 22ª posição) e cada vez mais abaixo da média da União Europeia.

«Os dados mostram que, em Portugal, as elites continuam a revelar uma tendência crescentemente extractiva, que importa corrigir, mantendo-se um país pouco competitivo, muito aberto ao exterior, muito dependente da situação económica dos seus principais parceiros, endividado e centralista, estando fortemente dependente do turismo», destaca o director da FEP, Óscar Afonso, e a professora Cláudia Ribeiro, responsáveis pelo estudo a nível nacional.

O índice baseia-se em 134 indicadores e quatro áreas conceptuais – poder económico, valor económico, poder político e valor político – categorizando as elites em “muito alta qualidade” (posição de 1 a 10), “elites de alta qualidade” (posição de 11 a 25), “elites de qualidade” (posição de 26 a 75), “elites de qualidade média” (posição de 76 a 124) e “elites atrasadas” (posição superior a 125).

Face ao ranking anterior, Portugal manteve a posição ao nível do poder político (19ª lugar), mas viu deteriorado o respectivo valor criado (37ª posição em 2023 e 11ª posição em 2022); em termos económicos, registou uma maior concentração do poder económico (42ª posição em 2023 e 25ª posição em 2022), sem reflexo no valor económico criado (39ª posição em 2023 e 37ª posição em 2022).

«Portugal é um país com uma dívida pública expressiva, obrigando a uma austeridade significativa, como revela a enorme carga fiscal. Os constrangimentos que o endividamento impõe impedem que o governo tenha capacidade para promover a actividade económica, mesmo com a ajuda de fundos comunitários. É preciso ainda reconhecer que a inflação tem vindo a dificultar, e muito, a actividade económica, pois os custos dos investimentos programados aumentaram face aos orçamentos iniciais», explicam os professores da FEP.

A classificação obtida por Portugal de “elite de qualidade” resulta do desempenho positivo obtido em diferentes indicadores, que se traduzem na tolerância à inclusão de minorias, liberdade académica e liberdade religiosa (poder político), bem como na facilidade de encerramento de negócios, na dispersão das exportações pelas firmas e na dispersão do valor acrescentado pelo universo das empresas (poder económico).

No valor político destacaram-se pela positiva o desempenho na segurança alimentar, a fraca diferença salarial entre os sectores público e privado e a qualidade ambiental, enquanto no valor económico há a salientar a ausência de barreiras ao Investimento Directo Estrangeiro e a taxa de crescimento da produtividade do trabalho.

A nível global, pela primeira vez na história do índice, a Suíça ultrapassou Singapura, passando assim a liderar em termos de qualidade de elites, em reflexo da capacidade de criação de valor e crescimento económico.

O Japão (4º lugar, subida de 14 posições) e a Alemanha (8º lugar, subida de três posições) registaram progressos impressionantes. O mesmo se aplica à Índia (59º lugar, subida de 38 lugares), ao Brasil (69º lugar, subida de 12 lugares) e à África do Sul (83º lugar, subida de 16 lugares). Estas conquistas contrastam fortemente com a Rússia (103º lugar, descida de 36 lugares), também país membro dos BRICS.

Os Estados Unidos (21º lugar, descida de seis posições) e a China (22º lugar, subida de cinco posições) estão agora lado a lado. Não foi um bom ano para outras nações anglo-saxónicas, com o Reino Unido, na 9ª posição, a descer um lugar e a Austrália, na sétima posição, a descer quatro lugares; a excepção notável é a Nova Zelândia, na terceira posição, que subiu 11 lugares.

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