Diz-me por quem te rodeias, dir-te-ei como lideras

“Rui, diz-me por quem te rodeias, dir-te-ei como lideras.” Falo várias vezes com o meu inquilino sobre isto! A liderança continua – e continuará por largos anos – a apaixonar em todos os seus ângulos e facetas.

Por Rui Lança, director desportivo no Ittihad Club e docente universitário

 

Com distintas perspectivas, com teorias aqui e acolá, costumo sugerir, para quem quer iniciar-se no tema da liderança, que deve começar por tentar analisar-se enquanto líder de algo, como será o seu perfil, os seus comportamentos, as suas abordagens consoante os contextos. E quando perguntamos quais os verbos que melhor identificam o que é ser líder ou o que é uma liderança eficiente, esses mesmos verbos ajudam-nos a perceber onde nos enquadramos, se numa liderança mais vocacionada para as pessoas, para os resultados, para as tarefas, para o poder, etc.

O que nos permite perceber o nosso perfil, as nossas zonas de conforto e as zonas de conflitos internos, é o que dizemos, o que sentimos e o que realmente fazemos no que diz respeito a algumas sub-áreas do nosso comportamento enquanto líderes. E que melhor para nos analisarmos, se não observamos em nosso redor e percebemos que tipo de pessoas chamamos para perto de nós quando temos poder e temos o poder de escolher as pessoas que queremos a trabalhar connosco nas denominadas batalhas da liderança e na prossecução dos nossos objectivos e propósitos.

Podemos observar isto pelo lado das excepções. Há contextos onde claramente a confiança e a lealdade são as variáveis mais importantes e, por vezes, quase que parecem ser as únicas. A duração dessa liderança também tem impacto. Um projecto estilo empreitada empurra-nos para uma escolha focada na competência em algo, no conhecimento que essas pessoas podem atribuir, no aqui e no agora.

Mas também podemos – e devemos – olhar para aquilo que é a nossa regra. Para aquilo que é o nosso denominador comum e perceber o que nos custa assim tanto fazer e isto pode ser compreendido através do perfil das pessoas que escolhemos para estarem ao nosso redor.

Nem faço juízo de valor se há algum mal em escolher A ou B. Mas faço o juízo de facto que estamos mais propícios para determinados contextos (que nem sempre são os contextos onde estamos) e que isso nos impede de ter desempenhos eficientes para a exigência e as regras que se jogam em determinados contextos. Onde o nosso perfil e as pessoas que estão connosco, encarem esse contexto e as decisões que são necessárias tomar constantemente como algo que se torna desconfortável e com o tempo, possamos sempre fugir para onde estamos mais confortáveis.

A liderança não é uma prova de curta duração, embora não nos dê assim tanto tempo, até porque cada percalço come-nos mais tempo do que aquele que a vitória nos dá. E também não é uma corrida que se faça sozinho, daí que se deva olhar para a escolha das pessoas que estão connosco como um passo fulcral para o possível sucesso da liderança.

Não existindo muitas receitas para dar sempre certo, se for para escolher pessoas iguais a nós, já sabemos de antemão que namorar connosco vai correr mal e que devemos escolher pessoas que nos complementam, que nos façam crescer, que sejam os nossos advogados do ‘diabo’, que nos possam equilibrar, que não nos digam apenas as coisas que gostamos de ouvir e especialmente que nos omitam verdades em prol de estados de espírito falseados.

São escolhas! E ainda não existem muitas evidências científicas que nos façam acreditar que geralmente vencemos mais facilmente com pessoas escolhidas por nós, dado que, por vezes, somos nós próprios a enviesar para o lado errado e a cairmos na tentação de escolhermos os que nos fazem sentir bem e não aqueles que nos façam melhorar, mesmo nos fazendo sentir mal por vezes.

Por último, uma verdade la palisse: no final, cabe sempre ao líder máximo tomar a decisão final, o que nos remete para o facto de a liderança ser um processo que acaba por ter muita solidão no momento da decisão. Também por causa disso é essa a pessoa que está lá e não outra. Sendo a vontade uma característica muito valorizada – e bem -, isto não é para quem quer…

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