Empreendedorismo Social: quando os projectos são maiores do que os empreendedores

Ser empreendedor dá muito trabalho. Ser empreendedor social dá tanto ou mais ainda. A diferença é que o segundo pode gerar um impacto nas comunidades onde actua e na sociedade onde opera de tal grandeza que o seu projecto será sempre maior do que ele próprio.

 

Por Susana Martins, directora do Programa Jovens Empreendedores Sociais em Portugal da Universidade Europeia

 

Há pouco mais de 18 anos, quando estava prestes a concluir a minha licenciatura em Comunicação Empresarial, lembro-me de ter frequentado uma unidade curricular, intitulada Planeamento e Gestão de Projectos, onde, pela primeira vez, creio ter ouvido a palavra empreendedorismo. Praticamente duas décadas volvidas, assume, hoje, contornos ligeiramente diferentes, como uma espécie de catalisador das sociedades modernas, onde são depositadas as esperanças, sobretudo nos jovens, para se alcançar um mundo mais justo, tolerante e equilibrado.

Àquela data, o empreendedorismo surgia-nos como uma espécie de “varinha de condão”, em que cada um de nós, estudantes, por magia, ganhava um desejo profundo para conseguir desenhar, construir e implementar o seu próprio negócio, ganhando, assim, autonomia e ficando, ilusoriamente, patrão ou patroa de si mesmo num futuro próximo. Bastava seguir uma espécie de receituário, ou seja, ter uma boa ideia, desenvolver um conjunto de bonitas directrizes para a construção de um business plan, e beber uma boa dose de competências empreendedoras para criarmos a nossa empresa, aquela que um dia viria a ser o nosso ganha pão. Faltava ainda a parte do investimento, mas, até nesta matéria, vimos serem criados, nas últimas décadas, dezenas de apoios financeiros púbicos e não públicos para apoio à criação de pequenas e médias empresas, startups e outras de cariz semelhante.

Com excepção ao romanticismo exacerbado que, eventualmente, nos foi transmitido, empreendedorismo é, na sua essência, por definição, a capacidade de alguém para criar algo inovador, disruptivo, quer sejam produtos ou serviços, contribuindo, deste modo, para o desenvolvimento económico e social de um país ou sociedade.

Hoje, o empreendedor continua a ser aquele que apresenta uma enorme resiliência, capacidade de liderança e de fazer acontecer as suas ideias e projectos, com ideias inovadoras, e capaz mobilizar os seus stakeholders para o projecto que pretende desenvolver e para o problema quer pretende solucionar. A grande diferença nos tempos modernos é que, fruto do mundo em que hoje vivemos, foi sendo adicionada uma nova variável a esta equação, que se chama sustentabilidade; sustentabilidade económica, financeira, ambiental, social e todas as outras formas que permitam a permanência do ser humano no planeta terra e das futuras gerações, com condições de vida, de segurança e de estabilidade, que permitam a sua vivência em pleno, num ambiente saudável, próspero e equilibrado.

É com base nestas premissas, que o empreendedorismo social foi ganhando cada vez mais expressão e relevância, na sociedade portuguesa e um pouco por todo o mundo. Para Drayton, considerado o “pai” do Empreendedorismo Social e fundador da Fundação Ashoka, organização que premeia empreendedores sociais em todo o mundo, defende-os como “sendo indivíduos com ideias inovadoras e que permitem a solução dos problemas mais prementes da sociedade. Os empreendedores sociais são ambiciosos e persistentes, procuram não deixar as questões sociais para o Estado ou para o sector privado. É deste modo que, encontram formas de trabalhar e resolver os problemas – mudando o sistema, espalhando a solução e abrindo os horizontes da sociedade” (Ashoka, 2015).

Ser empreendedor dá muito trabalho. Ser empreendedor social dá tanto ou mais ainda. A diferença é que o segundo pode gerar um impacto nas comunidades onde actua e na sociedade onde opera de tal grandeza que o seu projecto será sempre maior do que ele próprio.

Este ano, pela primeira vez, em Portugal, a Universidade Europeia lançou um programa destinado a Jovens Empreendedores Sociais, entre os 18 e os 29 anos, que sejam fundadores ou co-fundadores de um projecto com impacto social e/ ou ambiental, em Portugal, em parceria com a Laureate e com a International Youth Foundation. Acreditamos que as universidades têm que ser o placo e a voz destes jovens líderes que estão realmente a querer mudar o mundo. Liderança, capacidade de inovação, sustentabilidade, impacto social e capacidade de entrega ao programa são os critérios base de avaliação. Serão eleitos cinco projectos vencedores, que passarão pelo escrutínio de um rigoroso júri de avaliação: Rui Marques (embaixador do JES, CEO da Forum Estudante e presidente do IPAV), Constança Morais (Askoca Portugal), Graça Rebocho (directora da Fundação PT); Joaquim Caetano, (Gabinete de Responsabilidade Social do Montepio), Luís Roberto (vice-presidente do GRACE) e Nuno Silva (CSR manager da Goundforce Portugal).

As inscrições estão abertas até dia 10 de Setembro. Mais informações aqui.

Vamos distinguir o que de melhor se está a fazer em Portugal, em matéria de empreendedorismo social, destacando jovens líderes sociais.

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