Barómetro. Empresas querem mais trabalho presencial, e profissionais mais remoto
Agora que finalmente as empresas puderam tirar as intenções do papel, qual o modelo de trabalho que estão a adoptar? Ainda que a tendência se mantenha inquestionavelmente na adopção de modelos de trabalho híbridos, comparando os resultados com os de há seis meses, há diferenças assinaláveis que demonstram o presencial a “ganhar terreno”. Porque, aparentemente, empresas e colaboradores não querem o mesmo.
Por Ana Leonor Martins
Há seis meses, a 35.ª edição do Barómetro Human Resources centrou- se nas intenções das empresas em relação ao modelo de trabalho a adoptar quando as restrições acabassem. Isso verificou-se em Setembro, por isso voltámos ao tema para perceber o que estão as empresas a fazer, agora que finalmente as intenções podem finalmente sair do papel. Chamaram todos os colaboradores de volta, ou só alguns? Todos os dias ou parte? E as pessoas podem escolher? Como foi a decisão recebida? Foi tomada ouvindo aquilo que as pessoas queriam?
Por outro lado, são realmente estes os temas mais importantes nas organizações, no presente contexto? São estas as únicas mudanças que interessam ou estão a ser promovidas outras? As prioridades mudaram? Qual é o foco dos líderes actualmente? Foi isto que fomos tentar perceber junto do painel de especialistas do Barómetro Human Resources, comparando agora os resultados com os obtidos em Abril deste ano.
Primeiro, e com o fim da obrigatoriedade do teletrabalho em Setembro, será que os colaboradores já foram “chamados” de volta aos escritórios? Referindo-se à realidade das suas empresas, mais de um quarto dos inquiridos (27%) partilhou que sim, já tinham regressado todos os colaboradores, enquanto 33% fez regressar apenas os profissionais de algumas funções. No entanto, a maioria (38%) afirmou que não, sendo que 22% referiram que iriam voltar ainda este ano, 4% partilharam que apenas em 2022 e 11% responderam simplesmente que não, deduzindo-se que, ou não planeiam fazer os colaboradores voltar, ou ainda não decidiram quando fazê-lo.
Sobre como os colaboradores estão a reagir a esse regresso, 38% garantem que a maioria mostrou entusiasmo e motivação, mas 18% admitiram estar a sentir resistência. É de notar, como ficou também espelhado na pergunta anterior, que em muitas empresas (27%) o regresso ainda não é uma realidade.
De acordo com a partilha dos especialistas, em 80% das empresas o modelo de trabalho adoptado é híbrido (ainda assim, mais baixa do que em Abril passado, onde 96% afirmaram que seria esse o modelo). Em mais de metade das empresas (51%), esse regime híbrido terá mais dias de trabalho presencial. A tendência é igual à registada no 35.º Barómetro, mas igualmente menos expressiva (há seis meses, 60% afirmavam que ia ser esse o modelo). Já 29% revelam que será híbrido, mas com mais dias de trabalho remoto (menos 7 pontos percentuais do que em Abril). Mas o dado que se destaca é a motivação. Por outro lado, ninguém considera que a maioria dos colaboradores prefira um regime 100% presencial ou 100% remoto. Apesar desta discrepância entre o que seria a expectativa e vontade dos profissionais e o que foi a opção das empresas, 60% do painel garante que os seus colaboradores foram ouvidos para a definição do modelo de trabalho a adoptar (11% não responderam). Outra questão que tem sido bastante debatida, e que pode fazer aumentar a complexidade desta equação, é sobre quem define quantos dias se trabalha onde. Mais uma vez, há alterações significativas àquela que era a intenção da maioria em Abril de 2021. Nessa altura, quase metade (47%) dos inquiridos partilhou que deveriam ser definidos momentos obrigatórios (como reuniões) de presença na empresa, percentagem que neste Barómetro desce para 18% (meca é que, ao contrário de há seis meses, altura em que ninguém afirmou que o modelo seria 100% presencial, agora 13% reconheceram ser essa a opção. Em relação ao 100% remoto, tal como em Abril, continua a não haver ninguém a admitir essa hipótese.
As empresas querem o mesmo que os colaboradores? Ainda que a opção de mais de metade das empresas seja o modelo híbrido com mais dias de trabalho presencial, só 35% dos responsáveis do painel acreditam que seja essa a preferência da maioria dos colaboradores. Para 62%, a percepção é de que a preferência é por um modelo híbrido, com mais dias de trabalho remoto. O que não deixa de ser estranho, visto que à pergunta sobre como estão os colaboradores a reagir ao regresso ao trabalho presencial, a maior afirmou que têm mostrado entusiasmo e motivação. Por outro lado, ninguém considera que a maioria dos colaboradores prefira um regime 100% presencial ou 100% remoto.
Apesar desta discrepância entre o que seria a expectativa e vontade dos profissionais e o que foi a opção das empresas, 60% do painel garante que os seus colaboradores foram ouvidos para a definição do modelo de trabalho a adoptar (11% não responderam).
Outra questão que tem sido bastante debatida, e que pode fazer aumentar a complexidade desta equação, é sobre quem define quantos dias se trabalha onde. Mais uma vez, há alterações significativas àquela que era a intenção da maioria em Abril de 2021. Nessa altura, quase metade (47%) dos inquiridos partilhou que deveriam ser definidos momentos obrigatórios (como reuniões) de presença na empresa, percentagem que neste Barómetro desce para 18% (menos 29 pontos percentuais). A maioria (31%) admite agora que vão ser definidos dias obrigatórios de presença no escritório (em Abril a percentagem foi de 27%), mas ganha também relevância (13%) uma opção que em Abril não tinha expressão (2%) – todos os dias de trabalho remoto são definidos pelos colaboradores. Em 11% dos casos, essa prerrogativa recai sobre as empresas. De notar ainda que 18% não sabem (ou não respondem) como o modelo vai ser definido.
Ainda relacionado com este tema, e quando questionados sobre se acreditam que, nas empresas em que a actividade o permita, um modelo de trabalho 100% flexível – ou seja, sem regras definidas sobre quantos dias e quando trabalhar em remoto ou presencial – é viável, quase metade (47%) dos inquiridos afirma que sim, mas ressalvando que só numa minorias das empresas. 29% confiam que é possível na maioria das empresas, mas ninguém afirma que é viável em todo o tipo de empresas ter um regime 100% flexível. Já 20% não acreditam que seja exequível, independentemente do tipo de empresa.
Fique a conhecer todos os resultados do XXXVIII Barómetro Human Resources está publicado na edição de Outubro (nº.130) da Human Resources (se preferir comprar online, tem disponível a versão em papel ou a versão digital).
Conheça também o comentário dos especialistas:
– Conceição Zagalo, empreendedora social
– Pedro Fontes Falcão, director do Executive MBA do Iscte Executive Education, e gestor de empresas
– Filipa Ferreira, senior director of People Portugal & Global EX da Talkdesk
–Célia Carrasqueiro, directora de Recursos Humanos e Comunicação da Verallia Portugal