Entrevista a João Baptista Leite, CEO da Unicre: Ligar pessoas, empresas e tecnologia

É este o propósito da Unicre, empresa com quase meio século de existência e que continua a apostar na inovação, com base no digital. Mas, apesar da (inevitável) evolução tecnológica, João Baptista Leite acredita que nada virá substituir o contacto humano, naquilo que é essencial. Tal como a presença física é fundamental à humanização do trabalho.

 

Por Ana Leonor Martins

 

A Unicre foi criada há 45 anos e foi a primeira empresa portuguesa a oferecer cartão de crédito aos consumidores nacionais. No início do ano apostou num rebranding, como parte de uma estratégia para promover esta instituição financeira enquanto «marca moderna, de base tecnológica». Esta transformação digital também se estende à Gestão de Pessoas, sendo que, já antes da pandemia, tinham em curso um projecto de flexibilização do posto de trabalho. João Baptista Leite, que lidera este caminho de modernização desde Fevereiro de 2019, não tem dúvidas de que «o digital permite aumentar a velocidade, a agilidade, a produtividade e a inovação dos métodos de trabalho», mas não acredita «na substituição total do modelo presencial». E defende: «Num contexto cada vez mais tecnológico, digital, volátil e de incertezas, temos de conseguir criar ambientes que, por um lado, promovam o conhecimento, o desafio, o empowerment e a cooperação e, por outro, apostem no work life balance.»

 

No início do ano, a Unicre apostou num rebranding, para reforçar a vertente tecnológica. Com o que assistimos a partir de Março, e dado o boom do digital, diria que foi o timing perfeito?
O rebranding foi concebido em 2019, antes da pandemia, e fazia parte do nosso plano estratégico, com o objectivo de promover a Unicre enquanto marca moderna, de base tecnológica e com uma presença digital forte.

Este boom do digital, não só de pagamentos mas a todos os níveis da sociedade, permitiu que a nossa transformação se fizesse notar com maior impacto e, por isso, o timing foi bom, sim. Mas seria sempre a nossa nova realidade, independente do cenário.

 

Em que consistiu o rebranding e que objectivos o motivaram?
Consistiu num reposicionamento da Unicre e das nossas marcas, o Unibanco e a Reduniq, com o pressuposto de construção de uma imagem mais inovadora e direccionada para o digital e, sobretudo, uma imagem que nos permitisse estar mais próximos dos clientes, afirmando o nosso propósito de “ligar pessoas, empresas e tecnologia, proporcionando experiências de pagamento únicas”.

Percebemos que o digital é um meio que está a crescer cada vez mais e a ganhar bastante importância no sector financeiro, pelo que pretendemos reforçar a nossa oferta e o nosso serviço tirando partido desta nova realidade. Porque o futuro traz simplicidade.

 

Ainda que fosse uma aposta previamente definida, a pandemia veio de alguma forma alterar a vossa estratégia? Os pagamentos digitais deverão ter aumentado, mas os presenciais ter-se-ão ressentido…
O contexto pandémico veio reforçar ainda mais o caminho que vínhamos a trilhar de colocar o digital ao serviço dos clientes e na evolução dos nossos serviços. A estratégia passava muito por toda a componente do e-commerce e por toda a componente ligada aos pagamentos com tecnologia contactless. Havia um conjunto de campanhas preparadas para sensibilizar e apelar à utilização desta tecnologia, visto que em Portugal estávamos bastante atrasados relativamente ao resto dos países da Europa e do mundo. O actual cenário ajudou, claramente, a acelerar a introdução dos sistemas de contactless no dia-a-dia dos portugueses. Os pagamentos por esta via valiam cerca de 5% do total de pagamentos e hoje representam mais de 30%.

Por outro lado, o acelerar do e-commerce ajudou-nos a posicionar as nossas soluções inovadoras neste âmbito, que estão preparadas tanto para o grande comerciante – com soluções avançadas – como para o pequeno comerciante, que ainda não dispõe de um site para o seu negócio, mas que pode de uma forma simples e através de plataformas como o WhatsApp ou o e-mail, realizar e receber pagamentos de forma rápida e segura.

 

Que crescimento registaram nos pagamentos digitais?
O e-commerce registou um aumento de mais de 110% face ao período homólogo. Após o final do Estado de Emergência, assistimos a um breve desacelerar de compras via e-commerce, que nos parece natural, dado que as pessoas puderam passar a ir às lojas. Mas acreditamos que este hábito de consumo se está a enraizar junto dos consumidores.

 

E os pagamentos presenciais, como é que se “comportaram”?
Quando foi decretado o Estado de Emergência, tivemos uma diminuição nas transacções da nossa rede, que evoluiu em Abril para uma quebra sem precedentes, transversal a todos os sectores com excepção do grande retalho alimentar.

Com o início do desconfinamento e com a reabertura dos estabelecimentos, assistimos à gradual recuperação dos pagamentos presenciais, mas o que mais se destacou foi a preferência dos consumidores por pagamentos com tecnologia contactless, o que gerou uma forte procura por parte dos comerciantes que ainda não tinham esta solução, de forma a garantirem a segurança dos seus clientes e colaboradores no momento do pagamento. Este método de pagamento cresceu a um ritmo de mais de 500%, comparativamente com 2019.

 

A pandemia veio trazer uma mudança de paradigma ou veio apenas acelerar um caminho já em curso? Acredita que, a médio prazo, vamos deixar de ter pagamentos físicos?
Os pagamentos físicos estão a mudar e continuam a conhecer vários processos de reinvenção e de inovação, como é o exemplo da utilização da tecnologia contactless ou dos nossos smartphones. Julgo que continuarão a conhecer cada vez mais evoluções na forma como vão sendo feitos. Contudo, acredito que o caminho para uma sociedade cashless será certamente inevitável num futuro não muito longínquo.

 

Quais são agora os principais desafios?
Um dos projectos mais interessantes que estamos a desenvolver e que vamos lançar nos próximos dois meses em parceria com a Visa e os Transportes do Porto é o Mass-Transit. Uma solução de pagamentos nos transportes públicos, através da qual o cartão bancário assume a função de um “passe contactless”, garantindo a segurança e rapidez necessárias num ambiente confinado e bastante movimentado. Será a primeira implementação do género no nosso país e que esperamos poder vir a expandir para o restante território nacional.

Mas temos muitos desafios que vamos enfrentar, com uma cada vez maior procura pelas soluções digitais e pela evolução tenológica que os nossos clientes exigem. Queremos enfrentar estes desafios com o foco na eficiência e simplicidade dos processos.

 

Como concorrem com as fintech, que muitas vezes oferecem serviços financeiros sem custos? Ou são “campeonatos” diferentes?
Acreditamos que devemos olhar para este tema como uma relação de cooperação e já estamos em vários campos a desenvolver projectos de cooperação com algumas fintech. Para nós, o mais importante é que a introdução de inovações e a realidade digital que hoje vivemos venham trazer mais benefícios para o consumidor final e para os nossos parceiros, em todo o processo de pagamento.

Quanto ao custo dos serviços, acreditamos – e a realidade visível até noutros sectores, como é o caso do Spotify ou da Netflix, mostra isso – que os consumidores estão sempre disponíveis para pagar pelos serviços de excelência e de valor acrescentado, mesmo quando existem soluções gratuitas.

 

Leia a entrevista na íntegra na edição de Novembro (n.º 119) da Human Resources, nas bancas.

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