Entrevista a Pedro Moreira: «Na creator economy existem 50 milhões criadores de conteúdo e mais de 2 milhões são profissionais»

Ganhar dinheiro com conteúdos criados para o mundo digital é uma tendência que cresceu com a pandemia. Mais conhecidos como influencers, há criadores de conteúdo profissionais que já ganham 6 dígitos por mês. E num relatório já de 2021, o Linkedin identificou-a como uma das profissões em maior crescimento. Estes profissionais são também, cada vez mais, uma aposta das marcas. Em entrevista à Human Resources, Pedro Moreira, gerente regional para a Península Ibérica da Hotmart, fala do “admir+avel mundo novo” que é a creator economy.

Por Sandra M. Pinto

 

A pandemia da Covid-19 impulsionou a creator economy, a qual ganhou ainda maior relevância em 2021, alimentada pela tendência crescente de pessoas que querem ganhar dinheiro a fazer o que realmente as apaixona. A existência de várias plataformas digitais ajudou esta “economia” a prosperar, pois permitiu aos criadores alojarem os seus conteúdos e estarem conectados a pessoas de qualquer parte do mundo, como explica Pedro Moreira, gerente regional para a Península Ibérica da Hotmart, em entrevista à Human Resources.

 

O que é e quais as funções de um criador de conteúdo?

Um(a) criador(a) de conteúdo é a pessoa que produz conteúdos para o ambiente digital. São pessoas especializadas em temas que vão de maquilhagem a decoração; instrumentos de música a desenvolvimento pessoal. São aqueles que também são conhecidos como digital influencers ou creators, tendo total domínio de redes sociais e ferramentas do mundo online. São valorizadas nesta área competências de edição de vídeo, imagem, som e copywriting (textos com foco em vendas e ofertas).

A pessoa que cria conteúdos é responsável por propor temas e conteúdos, editá-los, publicá-los e rentabilizar o acesso aos mesmos. São pessoas que também podem trabalhar sozinhas a partir de casa ou até mesmo ter uma equipa e um escritório físico.

 

Pode ser considerada uma das novas profissões?

Sem dúvida. De acordo com relatório do LinkedIn de 2021, esta é uma das profissões em forte crescimento. Entre as profissões anteriores estão ilustradores, artistas e escritores. São pessoas que desenvolvem conteúdos sobre um tema específico, que dominam, e que são reconhecidos como sendo uma referência. E isto não está, necessariamente, vinculado a um diploma.

 

Émuito procurada no mercado de trabalho? Por quem?

É muito procurada no mercado de trabalho por profissionais autónomos que desejam trabalhar com total liberdade e rentabilizar o seu conhecimento num determinado assunto. Esta profissão também é procurada por marcas e empresas que desejam que estes criadores sejam embaixadores ou os promovam, numa relação comercial de publicidade. De acordo ainda com o LinkedIn, espera-se que 150 milhões de trabalhos de transformação digital, incluindo o cargo de criador de conteúdo, sejam criados nos próximos anos a nível global. Além disso, há a possibilidade de oferecer os serviços de copywriting, edição de vídeos ou gestão de anúncios online a outros criadores de conteúdo ou até a empresas.

 

Em que consiste a creator economy?

A creator economy é uma nova economia na qual as pessoas que são especialistas num determinado assunto e que produzem conteúdo sobre esse assunto online (redes sociais, sites, plataformas, entre outros), rentabilizando esses conteúdos através da compra por parte das pessoas que têm interesse nesse tema. Na Hotmart, ajudamos os criadores a irem além da rentabilização de seu conteúdo, permitindo que estes criem um negócio digital.

 

Qual a filosofia por detrás da creator economy, e o que a diferencia?

A creator economy é uma evolução da economia da atenção, na qual os criadores de conteúdo apenas procuravam audiência nas redes sociais, e procuravam marcas ou empresas para patrocinar essas criações e gerar rendimento. Agora, os criadores de conteúdo podem tornar-se os donos dos seus próprios negócios digitais, tendo total controlo e vendendo directamente à sua audiência, o que lhes permite viver das suas paixões. Esse é o principal foco da Hotmart, que criou uma plataforma integrada e completa para facilitar a criação e gestão desses negócios digitais, permitindo aos criadores concentrarem-se nos seus conteúdos, na sua audiência e nas suas estratégias de venda. Ao mesmo tempo, ajudamos a criar uma comunidade de criadores de conteúdo, que também está a gerar toda uma procura de prestadores de serviços complementares que permitem que esses negócios digitais tenham um maior alcance, como os gestores de anúncios online, copywriters, editores de vídeo, produtores, entre outros.

 

Pode ser considerada uma tendência de 2021?

Claro que sim. Não só de 2021, mas dos próximos anos. O que antes era o marketing de influência apenas, focado nas redes sociais, hoje é uma nova economia, com plataformas de vídeo/streaming, criação de conteúdo, fotografia, assinaturas, cursos, comunidades e soluções, como a Hotmart, que oferecem não só o que chamamos de “front office”, mas também “back office” do creator, isto é: poder colocar o produto digital no ar e também trabalhar outras estratégias complementares, como as vendas e a publicidade do conteúdo, num só lugar (ou “all in one”). Antes, se o criador era dependente da plataforma, hoje o poder está também na mão dele, com diversas soluções que querem que o criador utilize os seus serviços e, por isso, cabe ao criador a escolha da opção que melhor responde às suas necessidades.

 

Que impacto teve a pandemia?

Na Hotmart, durante a pandemia, observámos um aumento exponencial. Não é algo que nos deixa extremamente felizes, porque temos consciência que durante este período se perderam muitas vidas, mas claro que, com os confinamentos, as pessoas voltaram-se mais para a internet. Sabemos que durante este período ajudámos milhares de pessoas a começar o seu negócio online e permitimos que outras aprendessem coisas novas. A nossa facturação cresceu +160% em comparação com 2019, e para atender à procura, tivemos mais de 700 novas contratações de colaboradores de Março de 2020 até ao momento.

 

Quanto a números, quantos criadores de conteúdo existem neste momento?

Segundo as estimativas da empresa de capital de risco SignalFire, mais de 50 milhões de pessoas no mundo consideram-se criadores de conteúdo, o que prova que esse é um dos mercados que mais cresce na actualidade. Na Hotmart, temos mais de 50 milhões de usuários nas quatro marcas que compõem a nossa holding: Hotmart, Sparkle (uma aplicação de comunidades), Klickpages e Teachable.

 

Todos profissionais?

Destes 50 milhões de criadores mencionados, ainda de acordo com a SignalFire, cerca de 2 milhões são criadores profissionais, ou seja, já vivem 100% disto. Vale a pena mencionar também que um dos maiores benefícios deste modelo de negócio é a facilidade de acesso e o baixo investimento inicial. Muitos começam apenas com um telemóvel, em casa, como sendo algo que fazem no seu tempo livre e, mais tarde, decidem tornar-se profissionais.

 

Desses profissionais qual a média do rendimento mensal? Existem dados que respondam a esta questão?

O Business Insider estima que, os criadores de conteúdo profissionais, já ganham 6 dígitos ou mais, e os influenciadores patrocinados já valem mais de U$ 8 mil milhões. Prevê-se que em 2022 este número aumente para U$ 15 mil milhões.

 

Relativamente a Portugal há dados que se possam divulgar?

Em 2019, notamos que os nichos nos quais os criadores de conteúdo mais investiram foram: 1º nos de desenvolvimento pessoal, 2.º saúde e desporto, 3.º espiritualidade, 4.º educação e 5.º negócios e carreiras. No primeiro semestre de 2020, no início da pandemia, tivemos um aumento de 73% nos novos criadores em Portugal em comparação com o segundo semestre de 2019. Em relação a criadores activos, a percentagem sobe para 86% e relativamente aos compradores dos produtos destes criadores, o crescimento foi de 116%.

 

De acordo com um relatório da NeoReach, em parceria com o Influencer Marketing Hub, a creator economy tornou-se líder em marketing e negócios. Significa isto que as empresas procuram e apoiam estes criadores?

Sim, as empresas e plataformas já veem o potencial dos criadores não só como a geração de negócios B2C ao fazerem publicidades com eles, mas também B2B, ao oferecer serviços que permitam que eles entreguem os conteúdos aos seus seguidores e consumidores da melhor forma possível. Na Hotmart, por exemplo, temos como diferencial não só oferecer uma plataforma para venda e alojamento de produtos digitais como podcasts, e-books, assinaturas e cursos, mas também ferramentas complementares como e-mail marketing, funil de vendas e páginas de vendas, num só lugar, sem a necessidade do criador manter diferentes ferramentas em locais distintos.

 

Não será arriscado?

A barreira de entrada neste mercado para os criadores de conteúdo é muito baixa. Não é necessário investir muito para começar. Com um telemóvel e o conhecimento, já é possível começar. A grande diferença do passado para a creator economy é que antes muitos creators não viam potencial em comercializar o que produziam, e agora, isso mudou.

 

Qual é a dimensão total do mercado da creator economy?

Segundo um relatório feito pela NeoReach, em parceria com o Influencer Marketing Hub, estima-se que a dimensão total do mercado da creator economy é de U$ 104,2 mil milhões de dólares. Desde 2020, cerca de U$ 2,5 mil milhões de dólares, em capital de risco, foram investidos em startups da creator economy. Além disso, 78% dos criadores em tempo integral (aqueles para os quais a criação de conteúdo é sua principal fonte de renda) ganham mais de U$ 23 mil por ano, de acordo com o estudo da NeoReach.

 

Que tendências perspectivam relativamente a este tema?

A creator economy é um mercado com potencial enorme a ser explorado, especialmente pelo capital de risco. À medida que os criadores de conteúdo passam a ser empreendedores com a rentabilização dos seus conteúdos, são criadas uma série de necessidades, não só do ponto de vista das plataformas, mas também no que respeita a outras partes envolvidas, como agências, por exemplo.

 

Que desafios se vão colocar a estes “profissionais” bem como às empresas que contratam os seus serviços?

O maior desafio num mercado tão grande como o de 50 milhões de pessoas é conseguir destacar-se e provar que realmente é um especialista num determinado tema. Em tempos em que a autenticidade nunca foi tão crucial, os criadores de conteúdo precisam não só de entender a sua audiência e aquilo que ela quer consumir e o que procura, mas também dominar o assunto. Parece algo primordial, mas nem todos sabem eleger seu nicho de trabalho, e esse é um dos maiores erros ao começar a produzir conteúdo.

 

No futuro acredita que existirá uma maior profissionalização desta actividade?

Ela já existe. No mercado da Hotmart, por exemplo, temos agências credenciadas que trabalham connosco e são especializadas em fazer lançamentos de novos produtos, como cursos, por exemplo. É uma nova ponta do processo e que tem um grande potencial. Do lado do creator, há quem queira começar a expor seus conteúdos, mas não tem habilidades de oratória, por exemplo, e pode fazer cursos para melhorar isso. Em países como o é o caso do Brasil já existem cursos de especialização e de curta duração dirigidos a pessoas que querem tornar-se criadores de conteúdo. Na Hotmart também temos uma parte de educação muito forte, e oferecemos cursos gratuitos para quem deseja entrar no mundo da creator economy, como por exemplo, um desafio para criar o seu produto digital em 30 dias, ou como fazer a sua primeira venda como um afiliado (pessoa que revende produtos de outros e recebe uma comissão para isso).

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