Erradicação da Pobreza! Um Pacto para o Futuro, Exige-se!

Por António Saraiva, Business Development Manager na ISQ Academy

Os números recentemente publicados relativamente à pobreza em Portugal são avassaladores. “Cerca de 4,5 milhões de portugueses tinham rendimentos abaixo dos 554 euros mensais em 2020, número que se reduz para 1,9 milhões quando são considerados os apoios sociais”. Isto situa o País no 13º País mais pobre da União Europeia. Um outro dado catastrófico é que Portugal é o segundo País com mais pessoas a viver em habitações com más condições. Pior que Portugal, só o Chipre.
Estamos a falar de 2020! Certo que o impacto da pandemia teve influência neste aumento de 12,5% da pobreza em Portugal. Mas estamos no final de 2022, em que ainda o impacto da pandemia se pode fazer sentir, mas que juntamos uma guerra na Europa no início do ano e uma inflação galopante. E muito preocupante é verificar-se que trabalhar não garante erradicar a pobreza – em 2020, 11,2% dos trabalhadores portugueses eram pobres.
Dissecar estes indicadores e detalhá-los é uma tarefa assaz importante. Relatórios bem estruturados detalham claramente o que pode representar a vulnerabilidade das pessoas e, de uma forma geral, o estado social do País. Há, a registar, em contraponto, uma evolução ligeira, mas positiva, no que respeita à taxa de privação material. Fazer férias fora de casa, fazer face a despesas inesperadas, casas aquecidas contribuem para a análise deste indicador, mas evoluções de 1% a 1,6% não retiram as preocupações de ordem mais estrutural. E não falamos de acesso a cuidados de saúde específicos, mas necessários, à população acima dos 65 anos… Já para não se falar na pobreza energética vivida no País: 43% da população pobre não consegue manter a casa aquecida! E face ao que nos confrontamos hoje em dia, a tendência é… piorar!
A verdade é que a sociedade civil acaba por se mobilizar, através de algumas instituições, suprindo pelo menos uma condição fundamental – somos dos países que tem mais refeições asseguradas a quem necessita. Mas falemos claramente. Sem dúvida que existem políticas de apoio social e que se procuram suprir algumas das necessidades básicas. Mas, mais uma vez, respondendo-se à conjuntura. Políticas e respetivas medidas que, à partida, se esgotam num determinado período. É errado? Não, não podemos considerar errado, já que no mínimo existiu consciência do problema e se procurou uma resposta. O problema situa-se numa outra questão: e depois? Como mantemos uma sociedade em equilíbrio, em particular na resposta às suas necessidades básicas e com impacto determinante na sua Saúde Mental?
A Gestão de Pessoas tem aqui, também, um contributo fundamental. Pode influenciar a estratégia de responsabilidade social corporativa, com propostas de intervenção objetivas e, em simultâneo, internamente, canalizarem esforços para atenuarem carências efetivas dos colaboradores, algumas certamemente materiais, mas muitas do ponto de vista do desenvolvimento pessoal e mental, com impacto na vida dos seus colaboradores e das suas famílias.
Mas um fio condutor é necessário, mais que nunca. Justiça feita a muitas instituições e organizações pelo contributo que oferecem. Mas há que ir mais longe: eventos pontuais, alguns apenas para enriquecer relatórios de sustentabilidade, não chegam. Estado, instituições de solidariedade social e empresas têm de estar mais imbrincados na luta pela erradicação da pobreza. Não é um assunto de questiunculas políticas, é um assunto de sobrevivência da sociedade, é um pacto para o futuro!