Sistema de pensões foi avaliado a nível mundial. Europa destaca-se pela positiva, mas Portugal nem tanto

Pela primeira vez, Portugal integra o Índice Mundial de Pensões 2022 (MCGPI), um estudo que abrange 44 sistemas de pensões, representando 65% da população mundial, iniciativa da Mercer e do CFA Institute e as conclusões são algo preocupantes.

 

Recorrendo a um sistema de média ponderada para medir os indicadores de Adequação, Sustentabilidade e Integridade de cada sistema de pensões face aos mais de 50 indicadores, o sistema de pensões da Islândia voltou a liderar a lista, com o maior valor global do Índice (84,7), seguida de perto pelos Países Baixos (84,6) e Dinamarca (82,0). A Tailândia teve a pontuação mais baixa do Índice (41,7). Comparativamente com 2021, o México foi o país que apresentou os níveis de melhoria mais elevados, resultado das reformas de pensões, o que melhorou os resultados para os indivíduos e a regulamentação de pensões.

Portugal surge em 24º lugar, com pontuação de global de 62,8, ligeiramente abaixo do valor médio (63,03). Em termos de Adequação, obteve 84,9 pontos, e 73,9 pontos no indicador de Integridade. A prestação menos positiva foi no indicador de Sustentabilidade, onde pontuou 29,7, tornando-se o 6º país com a pontuação mais baixa.

Esta14ª edição anual do estudo aponta ainda que, à medida que mais empresas se afastam dos planos de benefício definido (DB) e se aproximam dos planos de contribuição definida (CD), leva os cidadãos a assumirem os riscos e oportunidades antes e durante a reforma. Diversificar as economias para a reforma com soluções de poupança individual afigura-se um caminho para reduzir a incerteza dos reformados.

«As famílias terão de considerar qual é o equilíbrio certo entre receber uma remuneração estável, acesso a algum capital e proteção contra riscos futuros, dadas as muitas incertezas que os reformados enfrentam», referiu David Knox, Senior partner na Mercer e autor-líder do estudo.

Ao contrário dos planos DB, em que um cidadão recebe pagamentos regulares de remuneração vitalícia ao se reformar, os planos DC, por norma, disponibilizam um benefício de montante fixo na reforma. Além disso, muitos governos estão a considerar reduzir o seu nível de apoio financeiro durante a reforma para garantir a sustentabilidade financeira do país a longo-prazo.

O resultado é que muitas pessoas não vão poder contar mais com um apoio financeiro relevante por parte dos seus antigos empregadores e/ou do governo durante os seus anos de reforma. Portanto, é essencial que tomem as melhores decisões financeiras para a reforma, de forma a maximizar o valor dos seus activos de pensão por CD disponíveis.

Tal como a diversificação é uma parte fundamental de qualquer estratégia de investimento, as pessoas também podem procurar diversificar as suas economias para a reforma, entre pensão regular, protecção adequada e acesso ao capital, bem como diferentes fontes de apoio financeiro, incluindo governo, pensões privadas e poupança individual.

«Não existe uma resposta única ou perfeita – o melhor sistema é aquele que ajuda as pessoas a manterem os seus estilos de vida pré-reforma. Governos, empresas, decisores políticos e o sector das pensões devem usar todo um leque de produtos e políticas disponíveis para que os cidadãos possam reformar-se com dignidade, confiança e segurança financeira», acrescentou o responsável.

«As pessoas têm vindo a assumir mais responsabilidade pelas suas poupanças para a reforma há algum tempo; em pleno período de elevados níveis de inflação, taxas de juros crescentes e maior incerteza sobre as condições económicas, as pessoas fazem-no num ambiente cada vez mais complexo e volátil», destaca Cristina Duarte, Principal de Wealth da Mercer em Portugal.

Apesar das diferenças nas influências sociais, políticas, históricas ou económicas entre os territórios, muitos destes desafios são universais, acrescenta. E embora as reformas necessárias possam levar tempo e uma ponderação cuidadosa, «os decisores políticos devem fazer o máximo para garantir que os sistemas de pensões tenham os devidos apoios e sejam bem regulamentados».

«O mercado dos fundos de pensões tem enfrentado significativos desafios nos anos recentes, destacando-se, em particular, o período de taxas de juro atipicamente baixas que marcou a última década», refere Marcos Soares Ribeir, presidente & CEO na CFA Society Portugal. «Depois de um período tão longo, é normal que o novo regime económico de elevada inflação e taxas de juro em rápido crescimento tenha o seu impacto na indústria, um impacto que chega tanto por via das responsabilidades, como por via dos activos», acrescenta.

Marcos Soares Ribeiro conclui que, do lado do aforrador ou beneficiário, «destaca-se o evidente desequilíbrio dos sistemas de segurança social como o português perante a expectável evolução demográfica. Num país com baixo nível de poupança para a reforma, a redução da taxa de substituição deverá representar um desafio muito relevante a enfrentar nas próximas décadas».

Ler Mais