Ética no trabalho: Portugal 2018

Os trabalhadores portugueses consideram as suas empresas mais honestas do que a média dos trabalhadores europeus, mas sentiram-se mais pressionados para comprometer a ética, observaram mais más condutas e reportaram-nas menos.

Por Helena Gonçalves

São resultados do estudo europeu “Ethics at Work: 2018 survey of employees”, que inclui este ano, pela primeira vez, Portugal, através de uma parceria com a Católica Porto Business School.

O estudo trienal, realizado pelo Instituto of Business Ethics (IBE) é efectuado através de um inquérito a uma amostra de cerca de 750 pessoas (representativa da população activa de cada país) e inclui o Reino Unido, a Alemanha, França, Espanha, Itália, Irlanda, Suíça e agora Portugal. A amostra tem em conta a idade, género, sector de actividade e dimensão da empresa.

A cultura ética, a identificação de riscos éticos e o apoio à ética no local de trabalho são as três grandes áreas consideradas, tendo este ano, na análise dos resultados, sido dado especial destaque a dois aspectos: denunciar/reportar más práticas e o papel das chefias na ética. Estes resultados constituem, aliás, uma poderosa ferramenta para as empresa e organizações em cada país, uma vez que permitem ter uma noção da real percepção dos trabalhadores sobre ética e perceber como é que a experiência de ética no local de trabalho em Portugal difere da experiência da média dos trabalhadores europeus. Qual é a percepção dos trabalhadores portugueses sobre honestidade, más condutas e reporte? Quais são as pressões para comprometer padrões éticos a que estão sujeitos? São algumas das perguntas a que o estudo dá resposta.

Análise, por áreas
– Cultura ética
Avaliar a cultura ética é essencial para entender o papel que a ética desempenha na organização e quão profundamente os valores estão enraizados no processo de tomada de decisão.

Para isso, é importante conhecer a percepção de honestidade, a aceitabilidade de práticas questionáveis, a frequência com que se fala internamente sobre ética, mas também o comportamento relativamente a públicos externos.

Portugal (85%), juntamente com o Reino Unido e a Irlanda, são os países onde os trabalhadores consideram as suas empresas mais honestas. Quatro em cada cinco têm essa percepção, afirmando que a honestidade é praticada frequentemente nas suas empresas.

Para compreender se os trabalhadores são capazes de identificar questões éticas e se as consideram aceitáveis, foram feitas perguntas relativas a nove potenciais más práticas. Os trabalhadores portugueses consideram cada uma delas mais inaceitável do que a média dos europeus (ver figura 1). Os resultados apontam para uma maior tolerância em aspectos ligados ao uso de equipamentos e meios da empresa para uso pessoal, como o telefone ou a internet, e uma menor tolerância em aspectos que incluam falta de rigor em questões financeiras, tais como exagerar as despesas de deslocação.

Sobre o comportamento da empresa, foram feitas três perguntas (figura 2) e os trabalhadores portugueses estão em linha com os europeus na resposta a todas elas. Apesar deste alinhamento, e no que se refere ao debate interno sobre “certo e errado”, consideramos que os resultados, quer de Portugal quer da Europa, a rondar os 50%, evidenciam uma oportunidade de melhoria para o desenvolvimento de uma cultura ética nas organizações. Esta oportunidade de melhoria é especialmente notória se tivermos em conta as diferenças nesta percepção relativamente a chefias e a trabalhadores sem cargos de chefia: as chefias consideram maioritariamente (76%) que discutem o que é correcto e incorrecto nas reuniões, enquanto apenas um terço (39%) das não chefias afirma fazê-lo.

– Risco ético
A identificação de riscos éticos é essencial para compreender os assuntos que devem ser o foco do programa de ética de uma organização. Este estudo centra-se na observação de más condutas e na potencial pressão exercida nos trabalhadores para que comprometam as normas éticas, uma vez que, quanto maior a pressão, maior o risco.

Relativamente à conduta, foi perguntado se, durante o ano anterior, tinham tido conhecimento de qualquer conduta dos seus colegas ou empregadores que, na sua opinião, violasse a lei ou as normas éticas da sua organização. Portugal está acima da média em cinco pontos percentuais (35% vs 30%) no conhecimento destas violações.

Quanto ao tipo de práticas observadas (figura 3), tanto em Portugal como
nos outros países, as mais comuns dizem respeito a relacionamento interpessoal. Roubo e fraude, condutas passíveis de ser combatidas através de procedimentos, foram menos observadas.

Conheça todos os resultados e leia o artigo na íntegra na edição de Dezembro da Human Resources.

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