Europass: Atentos a um mundo em mudança
O Europass conta já com 15 anos de existência, tendo atingido mais de 100 milhões de utilizadores. Mas, consciente de que estamos numa fase de transição a todos os níveis e que não sabemos o que o futuro nos reserva, em particular, no mercado de trabalho, o Europass tem apresentado novidades.
No passado dia 1 de Julho, foi lançada a plataforma Europass, disponibilizando informação sobre ofertas formativas no estrangeiro e possibilidade de consultar ofertas de emprego a nível europeu, fazendo- se as candidaturas no imediato. Disponibiliza modelos editáveis deixando de ser só o modelo estandardizado. E disponibiliza também credenciais digitais Europass para usar nas candidaturas a emprego.
São três novidades que Catarina Oliveira, coordenadora do Centro Nacional Europass, revelou em entrevista à Human Resources.
O Europass foi criado em 2005. Que balanço faz destes 15 anos de actividade?
Um balanço extremamente positivo, na Europa e, em particular, em Portugal. O Europass surgiu em 2005 sendo um modelo transversal a toda a Europa. De acordo com as estatísticas da Comissão Europeia, em 15 anos atingimos mais de 100 milhões de utilizadores, o que demonstra que é um programa de muito sucesso. Em Portugal, estivemos em primeiro lugar no ranking europeu da utilização do CV, de 2009 a 2017, revelando que os empregadores procuravam sobretudo este modelo. No ano passado – 2019 – tivemos aproximadamente três milhões e 200 mil CV feitos por cidadãos portugueses. Parte destes CV são para candidaturas a entidades empregadoras/ recrutamento nacionais, outras europeias. Estes números permitiram a Portugal continuar a manter a segunda posição no ranking europeu. Em mais de uma década, o mundo do trabalho tem mudado bastante.
Num mundo cada vez mais digital, considera que ainda existe espaço para o CV tradicional ou este foi ultrapassado pelas redes sociais, pelos pitch em vídeos, entre outros?
Neste momento estamos numa fase de transição a todos os níveis: não sabemos o que o futuro nos reserva e, em particular, o mercado de trabalho. Todavia, creio que irão coexistir vários modelos, entre o tradicional e um modelo para a nova geração. É importante os jovens estarem preparados para os diferentes empregadores. As redes sociais, os pitch, os CV vídeos já existem há vários anos, no entanto, na minha perspectiva, têm funções diferentes. As redes sociais acabam por ser um complemento ao CV, pois servem para promover o candidato e facilitar a análise do empregador, mas não são plataformas de emprego.
Na sua opinião, porque é que um CV Europass mantém a sua importância e continua a ser a melhor opção, quer para os profissionais quer para as empresas?
Para as empresas, cujo recrutamento seja em massa, este modelo é vantajoso porque: R Permite ao empregador analisar, comparar e seleccionar facilmente todos os CV recebidos, uma vez que se sabe onde se localiza a informação que se pretende obter do candidato. Ou seja, não se perde tempo à procura de informação, que muitas vezes não está lá; R A criação da plataforma Europass permite ao empregador enviar todos os CV Europass recebidos. A própria plataforma converte toda a informação contida nos CV para uma base de dados Excel, facilitando assim ao empregador a análise da informação recebida por sessão.
E quais são as principais vantagens na construção de um CV em modelo Europass para o candidato?
Para o candidato que está a desenvolver pela primeira vez um CV é importante fazê-lo no formato Europass porque estrutura está desenhada para facilitar a apresentação dos requisitos, levando o candidato a fazer uma perspectiva do que fez ou está a fazer, principalmente no que respeita ao preenchimento das competências.
Trata-se do modelo mais indicado para todas as ocasiões?
Atendendo ao mercado de trabalho actual, costumo aconselhar a ter os dois formatos de CV. Sendo o Europass o modelo oficial, o candidato deve utilizá-lo sempre que concorrer a empregos públicos, a empresas mais tradicionais e/ou quando num anúncio não mencionam o modelo preferencial. Para concorrerem a empresas mais jovens, ou quando o próprio anúncio solicita um modelo personalizado, deve ser desenvolvido num formato original. Todavia, é importante que nestes modelos livres se certifiquem que a informação pertinente para o empregador se encontra no CV; ter em atenção as autoavaliações que fazem.
O Europass tem novidades recentes?
Sim. A 1 de Julho deu-se o lançamento da plataforma Europass, atingindo 100 mil visitantes só no primeiro dia. Esta plataforma pretende disponibilizar informação sobre ofertas formativas (cursos e formação) no estrangeiro, bem como consultar todas as ofertas de emprego a nível europeu e fazer as candidaturas no imediato. Paralelamente, disponibiliza modelos editáveis que simplificam a redação de CV e cartas de apresentação e dicas de preenchimento. A plataforma Europass vai ser um chapéu de oportunidades, disponibilizando informações fiáveis a quem pretende estudar e trabalhar em diferentes países europeus, fornecendo ligações a fontes europeias e nacionais. Desta forma, ajuda a encontrar cursos e empregos adequados e a obter orientação e apoio quando for necessário validar e reconhecer as qualificações. Outra novidade são as credenciais digitais Europass, que têm o mesmo valor legal dos certificados impressos. As instituições podem emitir, gratuitamente, qualificações digitais e outras credenciais de aprendizagem. Estas credenciais são usadas para uma candidatura a um posto de trabalho, aceder a uma universidade, entre outros. Assim, vai ser possível guardar e partilhar essas credenciais em segurança, deixando de depender de versões em papel dos certificados e diplomas. Mais informações em www.europass.pt e www. europass.eu
Qual a vantagem de um jovem ter uma credencial digital Europass?
O sistema de credenciais digitais Europass é gerido pela Comissão Europeia e é totalmente gratuito e seguro. Uma credencial digital Europass é um ficheiro digital emitido pela instituição onde o candidato estudou, descrevendo a qualificação que obteve, bem como informações sobre disciplinas, notas, projectos e outras realizações. Este sistema vai permitir ao jovem partilhar as suas credenciais digitais Europass com empregadores, estabelecimentos de ensino e formação ou outras organizações que solicitem informações sobre as qualificações que o candidato possui. Ao receber a credencial digital Europass é possível comprovar automaticamente que a qualificação é verdadeira e, ao mesmo tempo, permite às organizações compreender melhor as competências e experiências. No entanto, é necessário que o candidato se certifique que conhece a identidade daqueles com quem partilha as credenciais.
Que estratégias podem os candidatos adoptar para melhor apresentarem e destacarem as suas competências mais pessoais e sociais nos CV?
Num contexto socioeconómico radicalmente diverso, o desafio está hoje na possibilidade do candidato dar uma contribuição específica, demonstrando que a sua performance profissional resulta em benefícios para o stakeholder, ou seja, demonstrar vantagens no seu recrutamento. As tradicionais competências transversais/ soft skills já são consideradas clichés, pois foram termos que se tornaram banalizados/ frequentemente utilizados/ apresentados em todos os CV. Este novo período exigirá não apenas um novo mindset mas também um novo skillset.
É necessário criar uma nova caixa de ferramentas constituída por competências de uma complexidade cognitiva acrescida, sobretudo no domínio das soft skills – pensamento crítico e complexo; flexibilidade cognitiva e inteligência emocional, demonstrando que estão preparados para o imprevisto e que têm capacidade de decisão, mesmo perante as adversidades. Estas serão as soft skills mais procuradas pelos empregadores.