Factor determinante no desempenho profissional? Dormir

Pesquisas mostram que a falta de sono tem várias consequências que podem afectar negativamente o desempenho profissional. Então, por que razão tantos locais de trabalho modernos condenam práticas que ajudam a bons horários de sono?

 

O que têm em comum Indra Nooyi, CEO da Pepsi, Sir Richard Branson e Martha Stewart? Não precisam de muitas horas de sono; tem sido revelado que cada um deles dorme normalmente apenas seis horas ou menos por noite. Ao debaterem a sua capacidade de se aguentarem com poucas horas de sono, estes executivos servem de exemplo para uma norma que indica que uma noite de sono é opcional, ou até um luxo, se quisermos estar na vanguarda dos negócios.

Acreditamos que, neste aspecto, estes executivos não estão a dar um bom exemplo, nomeadamente no que respeita a obter o melhor desempenho do talento. Os gestores assumem que obter simplesmente o melhor talento nas suas organizações levará a níveis altos de produtividade. Mas esta hipótese ignora o facto de que as pessoas não funcionam a 100% na maioria dos dias.

Quando as exigências profissionais são muitas, ficam ansiosas, esgotadas e, em geral, cansadas – o que resulta num desempenho menos bom. Por simples que pareça, o sono regular é o melhor antídoto para um colaborador cansado ou ansioso. Claro que, como o sono faz parte da vida privada dos colaboradores, as organizações normalmente não o tentam influenciar, através do encorajamento de comportamentos preventivos.

Pior, muitas organizações têm líderes que exemplificam activamente comportamentos que não se coadunam com práticas de sono saudáveis. Por exemplo, se um líder chega regularmente ao raiar do dia e fica até tarde, está a criar a expectativa de que os outros precisam de estar no escritório a toda a hora, dia e noite. Além disso, se os líderes enviam e- -mails muito tarde e esperam uma resposta antes da manhã seguinte…

Neste artigo, argumentamos que o sono é um recurso estratégico. Descrevemos as condições ineficazes e até perigosas sob as quais os colaboradores trabalham com poucas horas de sono e os vários efeitos que a sua falta de sono tem no desempenho. Um pormenor importante é que até os pequenos défices de sono podem ter consequências negativas. Apesar de os colaboradores muitas vezes se convencerem de que perder umas horas aqui e ali não faz grande diferença, estudos sugerem que fazê- -lo pode causar problemas. Perder menos de uma hora de sono numa noite leva a um declínio na memória e a um aumento de acidentes.

 

O sono perdido

Ainda que as necessidades de sono individuais variem, a Fundação Nacional do Sono nota que normalmente os adultos precisam de sete a nove horas por noite. Contudo, em qualquer altura, 29,9% dos norte-americanos reportaram que dormiam menos de seis horas. Detectou-se níveis semelhantes de falta de sono na Coreia, Grã-Bretanha, Finlândia e na Suécia.

A falta de sono pode levar a níveis mais baixos de esforço, de comportamento interpessoal e uma maior prevalência de comportamentos pouco ético ou desviantes. Além disso, leva a níveis mais baixos de confiança e cooperação nos processos de negociação. Similarmente, enfraquece o desempenho polivalente: as pessoas sonolentas têm mais dificuldade em concentrar-se numa tarefa em particular e o desempenho sofre.

Tendo em conta a relevância que as empresas dão aos cortes nos custos, também é importante reiterar a ligação entre bons padrões de sono e saúde. As pessoas que sofrem de sono crónico têm mais probabilidade de ficarem doentes, de se sentirem deprimidas e de serem obesas.

 

Como gerir o recurso

A perda de sono é influenciada pelas exigências do local de trabalho e pelas expectativas dos empregadores. Quer os colaboradores viajem por vários fusos horários para uma reunião, estejam em videoconferências à noite com um cliente global ou respondam a mensagens depois da hora de trabalho, os seus empregos estão inextricavelmente ligados à sua capacidade de estabelecer hábitos de sono saudáveis. É por isso que sugerimos que os gestores tomem medidas activas para protegerem e preservarem o recurso estratégico do sono. Eis sete estratégias:

1. Criar uma cultura de trabalho que valorize o sono. Talvez a estratégia mais importante para a gestão do sono nas organizações esteja ligada aos comportamentos e à cultura dos líderes. Tanto o CEO da Amazon Jeff Bezos como a presidente e editora do Huffington Post Arianna Huffington fizeram declarações públicas onde referiram como beneficiam de uma boa noite de sono. Huffington escreveu que «não existe praticamente nenhum aspecto da nossa vida que não seja melhorado com o sono». Como líderes, devem ter em mente Bezos e Huffington. Lembrem-se que as políticas e acções da empresa servirão de exemplo. Por exemplo, um gestor continuou a enviar emails à noite, mas começou a usar uma ferramenta para que os emails só seguissem nas horas normais de trabalho.

2. Aproveitem o programa de bem-estar para promoverem bons hábitos de sono. A nicotina que torna os cigarros tão viciantes tem propriedades estimulantes que podem criar dificuldade em dormir. Os programas para parar de fumar podem afastar os fumadores do fumo e, no processo, melhoram os hábitos de sono. Também podem ajudar os colaboradores a terem mais noção dos efeitos secundários negativos do excesso de peso. Os indivíduos obesos têm mais probabilidades de sofrerem de apneia do sono, uma condição na qual os indivíduos param de respirar por pouco tempo. Isto faz com que lhes seja mais difícil chegarem ao sono mais profundo que lhes permite acordar frescos, mesmo que tenham dormido pelo menos sete horas. Depois há o stress e a ansiedade, que muitas vezes fazem os colaboradores ficar acordados durante a noite a olhar para o tecto. Chegar à raiz da ansiedade é a intervenção mais poderosa, mas outras estratégias, como o exercício e a meditação, podem ajudar a aliviar o stress para que os colaboradores adormeçam rapidamente.

3. Permitam aos colaboradores afastarem-se do trabalho quando o dia de trabalho termina. Os bons hábitos de sono surgem quando os colaboradores sentem alguma separação da sua vida profissional no final do dia. Tecnologias como smartphones podem manter os colaboradores ligados ao trabalho. Ainda que estes ofereçam flexibilidade quando as pessoas estão longe do escritório para estarem presentes, por exemplo, num evento dos filhos, também podem criar a sensação de estar sempre “disponível”. Leslie A. Perlow, professora na Harvard Business School, partilhou estatísticas sobre um estudo que examinou de que forma gestores e profissionais integravam os seus smartphones nas suas vidas. Descobriu que 26% admitiam dormir com smartphones e 56% revelaram que verificavam o telemóvel uma hora depois de irem para a cama.

Perlow recomenda algum tempo longe do trabalho com o telemóvel desligado. Algumas pessoas poderão perguntar como colaboradores de serviços, como os consultores, podem escolher um tempo livre. Perlow levou a cabo uma pesquisa com consultores da Boston Consulting Inc. Uma das experiências exigia quecada participante tivesse uma noite livre por semana. Os consultores ao início estavam cépticos, mas no final reportaram benefícios, como uma maior satisfação profissional e melhor serviço oferecido aos clientes.

4. Criem salas de sestas e encorajem o seu uso. As sestas que ocorrem durante espaços naturais dos ritmos circadianos, como entre as 13h e as 15h, são particularmente eficazes. Além disso, manter as sestas abaixo dos 30 minutos minimiza a probabilidade de entrar nos estados mais profundos do sono que resultam na inércia. Assim, os colaboradores que lutam contra a falta de sono aguda ou crónica podem melhorar o problema. Se uns poucos minutos de sesta impede um erro dispendioso, então encorajar uma cultura de sono será um investimento inteligente. Um exemplo: a Google Inc. possui “nap pods” para facilitar as sestas dos colaboradores.

5. Limitem o número de horas de trabalho. Especialistas sugerem que as políticas de sono devem limitar o trabalho a não mais do que 12 horas por dia, e de preferência menos que isso. Numa semana, os colaboradores não devem trabalhar mais de 60 horas e não podem trabalhar mais de 80 horas. As empresas globais que exigem voos internacionais devem criar políticas que permitam aos viajantes descansar durante um dia após um voo.

6. Tentem reduzir o trabalho por turnos. Em média, as pessoas não foram feitas para dormirem durante o dia. Acontecem mais acidentes durante os turnos nocturnos. Os horários de trabalho que lutam contra os ritmos circadianos naturais alteram os padrões de sono e devem ser evitados. Algumas organizações tentam distribuir os turnos nocturnos por diferentes pessoas ao longo do tempo, num sistema de rotatividade. Apesar de as suas intenções serem boas, turnos rotativos são prejudiciais para os padrões de sono, principalmente quando andam para trás em vez de andarem para a frente (um turno matinal seguido de um turno diário e seguido de um turno nocturno).

Os turnos com mais de oito horas também têm o seu efeito, que se assemelha à falta de sono e que deve ser evitado se possível. O trabalho nos serviços que pode ser feito virtualmente e pode ser alterado geograficamente para que os colaboradores, independentemente do local onde estejam, estejam sempre a trabalhar nas horas diárias normais nos seus próprios locais, mesmo que estejam a comunicar com clientes de outras partes do mundo onde é de noite ou manhã cedo.

7. Certifiquem-se de que os planos contra problemas incluem descansos rotativos. A resposta a um problema pode ser uma altura complicada em que os colaboradores trabalham durante extensos períodos sem uma boa noite de sono Os planos devem incluir formas de assegurar que os colaboradores dormem o suficiente para que cumpram as suas tarefas durante a recuperação após uma crise.

 

Chave da Sustentabilidade

Dormir é um recurso estratégico importante. Em vez de verem o sono dos colaboradores como um dado adquirido, os líderes devem criar culturas e práticas que apoiem o sono. Práticas como a gestão de horários, bons exemplos e o reforço de comportamentos que protegem o sono podem ajudar as empresas a seguirem na direcção certa.

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