Flash Talk: Como domar a atenção num mundo de distracções

Tem dificuldade em desligar-se? Nunca foi tão difícil manter o foco como nos dias que correm. São os e-mails a chegar, as conversas paralelas dos colegas, os telefones a tocar freneticamente, as notificações das redes sociais a cair, televisões. No trabalho, como em casa, não faltam distracções que não nos deixam pensar com clareza e tudo isso afecta a nossa produtividade. O segredo está em saber domá-las.

 

Por: Ana Rita Rebelo

 

Em entrevista à Human Resources, Chris Bailey, autor do livro “Hiperfoco: como ser mais produtivo num mundo cheio de distracções”, deixa algumas dicas sobre como criar o ambiente, físico e mental, ideal para trabalhar. Explica também a fórmula para melhor gerir a motivação, dominar o multitasking e como podemos focar a atenção nas coisas que realmente interessam.

 

Quais as diferenças entre hiperfoco e disperfoco? 

Hiperfoco é um estado de concentração imersiva, enquanto o disperfoco deve ser accionado quando queremos ligar ideias de forma criativa. No fundo, é o estado no qual a nossa mente divaga. São dois modos de atenção e ambos têm benefícios, mas o estado mais produtivo do cérebro é o hiperfoco e há dias em que conseguimos produzir mais numa hora do que num dia inteiro de trabalho. Mas se voltarmos atrás para pensar nos seus momentos mais brilhantes, raramente estamos hiperfocados. Talvez estejamos a lavar ou a dobrar roupa, a tomar um banho, a beber um café e, de repente, a nossa cabeça conecta as ideias que andam por ali a vaguear. Ao entrar neste modo mais frequentemente conseguimos activar o estado mais criativo da nossa mente. Ou seja, quando estamos focados numa tarefa conseguimos terminar a tarefa, mas em modo disperfoco conseguimos escolher como vamos fazer essa tarefa avançar.

É possível reconhecermos os limites do nosso poder de atenção?

Há um limite finito para o número de coisas em que conseguimos focar-nos e esse limite é mais pequeno do que pensamos. Muitos especialistas defendem que não conseguimos funcionar bem em multitasking. Nós estamos convencidos de que conseguimos fazer tudo, mas na realidade estamos apenas a mudar o foco do e-mail para o relatório e isso acaba por tornar-se ineficiente e consome o dobro do tempo. Por outro lado, conseguimos funcionar bem em modo de multitasking com os hábitos, sobretudo porque despertam sentidos diversos. Conseguimos caminhar enquanto bebemos um café ou ouvimos um audiolivro, por exemplo.

Que estratégias podemos accionar quando queremos ser mais produtivos e entrar no modo hiperfoco?

Para accionar o hiperfoco, comece comece por escolher um objectivo de atenção produtivo ou significativo e elimineo maior número possível de distracções externas e internas. Depois, concentre-se no objectivo escolhido, traga o seu enfoque continuamente de volta para esse objecto e foco acabará por surgir naturalmente.

O que mudou nos últimos anos para que parte das pessoas estejam mais irrequietas e tenham problemas de concentração?

As nossas mentes têm um desejo básico pela novidade e essas informações geram descargas de dopamina, uma das principais substâncias químicas do prazer. Isso normalmente acontece porque os objectos de distracção são mais atractivos do que aquilo que deveríamos estar a fazer e o cérebro gratifica-se.

Que dicas podem ajudar a criar um ambiente propício para trabalhar?

Modifique o ambiente à sua volta. Livre-se das distracções tecnológicas. Eu, por exemplo, tenho um grande quadro no meu escritório, através do qual penso de forma visual, uma almofada de meditação para aguçar a minha atenção, plantas, uma cadeira suspensa e um piano. Estes objectos não me distraem quando estou a trabalhar, mas são muito úteis quando preciso de encontrar soluções.

Como definir prioridades para focar nas coisas que realmente interessam?

Um dos meus rituais de produtividade favoritos é a regra dos três. É simples. De manhã, escolha as três coisas que quererá ter concretizado até ao final do dia. Essas três coisas devem ser voltadas para as tarefas diárias mais importantes. Se reparar, nós estamos preparados para pensar em três: há o bom, o mau e o feio; sangue, suor e lágrimas; atribuímos três medalhas olímpicas; divimos as histórias em três partes, ou seja, o início, o meio e o fim; e crescemos a ver “Os Três Ursos”, “Os Três Porquinhos” e “Os Três Mosqueteiros”. Outra forma é perguntar-se a si próprio: quais as tarefas que trazem mais valor à organização para a qual trabalho? Para este exercício, escolha quatro tarefas.

Como é que se trabalha a motivação? Por que temos tanta dificuldade em fazer isso?

A verdade simples e feia é que a maior parte do nosso trabalho é menos excitante do que as distracções em que tantas vezes caímos, o que faz de nós presas fáceis. Quando é dada à nossa mente essa escolha ela vai sempre gravitar para as distracções, os prazeres e tudo o que é novo. Temos de recentrar a nossa mente e deixar o telefone longe da vista durante um bom período de tempo e recuar. Há uma razão pela qual nós estabelecemos tantas intenções em torno do Ano Novo e isso acontece porque temos uma oportunidade de começar de novo.

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