Fórum Económico Mundial identifica os temas que estão a impactar a criação de emprego (e apresenta soluções para as lacunas)

Várias tendências e desafios globais estão a levar à necessidade de criação de emprego em todos os sectores, países e regiões. Para ajudar a clarificar o ecossistema de criação de emprego, o Global Future Council on the Future of Job Creation, do Fórum Económico Mundial, mapeou as principais questões que estão a moldar e a impulsionar a criação global de emprego.

Os líderes devem enfrentar os desafios e oportunidades para os mercados de trabalho resultantes das mudanças demográficas, da deslocação de empregos e da IA. Para serem benéficos para as sociedades e economias, o Fórum Económico Mundial alerta que os novos empregos devem ser “bons empregos”.

Qualidade do emprego: uma condição prévia necessária para a criação de emprego

Garantir que os cidadãos tenham oportunidades de emprego para sustentar a si próprios e às suas famílias é um requisito de qualquer sociedade desenvolvida. Mas nem todo o emprego é um bom emprego. Um “bom trabalho” é aquele que proporciona ao trabalhador horários estáveis e previsíveis, que o faz sentir-se seguro, valorizado e apoiado, que proporciona oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento e que lhe dá voz nas decisões que o afectam. Isto não é bom apenas para o trabalhador, mas também para as empresas e para a economia em geral – o investimento em bons empregos pode ajudar a absorver os choques no emprego a curto prazo, tornando as sociedades e as economias resilientes à mudança. Garantir a qualidade do emprego exige, no mínimo, relações laborais fortes baseadas na liberdade de associação, no diálogo social e na negociação colectiva.

Várias tendências globais estão a criar a necessidade de criação de emprego à escala global, enquanto proporcionam novas oportunidades para os mercados de trabalho.

Resultados divergentes no mercado de trabalho e migração laboral

Os resultados do mercado de trabalho são divergentes. Alguns países de elevado rendimento enfrentam escassez de mão-de-obra, enquanto um conjunto de países de baixo e médio rendimento enfrentam níveis de emprego abaixo do ideal. Estes resultados são agravados pelas alterações demográficas. As populações de muitas economias emergentes e em desenvolvimento estão a expandir-se, criando a necessidade de novos empregos nos quais os jovens talentos possam ingressar. Por outro lado, muitas economias desenvolvidas estão a envelhecer rapidamente e a enfrentar mercados de trabalho restritivos. A migração laboral pode ser uma solução para resolver o problema do desemprego em algumas áreas e da escassez de mão-de-obra noutras, mas os líderes precisam de ter a certeza de que isso conduz a resultados positivos no mercado de trabalho regional e sub-regional. Em alternativa, aumentar a acessibilidade aos sistemas digitais, juntamente com a crescente aceitação do trabalho em equipa com colegas noutros locais, poderia fomentar cadeias de valor de talentos mais globalizadas. Isto permitiria uma maior criação de emprego em regiões que actualmente têm menos emprego e uma população em idade activa crescente.

Deslocação e realocação profissional

Um dos temas que está a levar à necessidade de criação de emprego a nível mundial é a deslocação e a realocação de empregos dentro dos países e dos sectroes, causada em grande parte pela adopção de novas tecnologias e pela transição verde. De acordo com o “The future of jobs report 2023”, do Fórum Económico Mundial, mais de metade dos empregadores esperam que a tecnologia impulsione o crescimento do emprego e mais de 20% esperam que conduza à deslocação de empregos. Do mesmo modo, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que os investimentos verdes poderão resultar na criação líquida de 8,4 milhões de empregos nos próximos anos. Os líderes precisam de garantir que os novos empregos criados devido a estas tendências sejam bons empregos e que os trabalhadores sejam apoiados nas novas funções.

A transição da IA no mercado de trabalho

A Inteligência Artificial (IA) e a Inteligência Artificial Generativa (IA Gen) terão um grande impacto nos mercados de trabalho nos próximos anos. A IA Gen, em particular, com a sua capacidade de realizar análises avançadas, criar conteúdos originais e executar tarefas com uma precisão quase humana, moldará uma nova direcção para os mercados de trabalho, criando empregos anteriormente inimagináveis, ao mesmo tempo que deixará algumas funções em risco de automatização. Isto abriu novas portas para quem procura emprego, empregadores e economias em geral, mas os decisores políticos e os empregadores precisam de garantir que a IA Gen é implementada cuidadosamente e em estreita colaboração com os trabalhadores.

Para colmatar as lacunas no emprego, aumentar as oportunidades económicas e facilitar a transição de novos talentos, os líderes devem considerar o seguinte:

Apoiar as PME e os empreendedores

Nas economias do Sul, onde a criação de emprego é mais necessária, as micro, pequenas e médias empresas representam 70% do emprego. Mas abrir um negócio e transformá-lo numa empresa que crie empregos nem sempre é fácil. Apoiar o crescimento das pequenas empresas é fundamental para desbloquear mais oportunidades de emprego. A acção colectiva e as parcerias podem apoiar o crescimento e a resiliência das PME através da formação de empresários, ligando-os a fornecedores, mercados e financiamento, e criando um ecossistema mais favorável ao empreendedorismo.

Acesso e investimento em infraestruturas

Investir em infraestruturas, como a tecnologia dos transportes e das comunicações, é vital para criar condições para novas oportunidades de emprego. Além de permitir a criação directa de emprego através da criação de novos projectos, a melhoria da conectividade física e digital aumenta o acesso a oportunidades de emprego. Os governos e as empresas devem investir de forma eficiente, equitativa, estratégica e adequada para aumentar as oportunidades de emprego que proporcionem valor duradouro e garantir que os planos de investimento incluam um elemento de capacitação para garantir a sustentabilidade de novos projectos.

Comércio internacional

O comércio global pode ser um motor para a criação de emprego a nível mundial, estimulando o crescimento económico e revitalizando as indústrias, permitindo às empresas explorar mercados maiores e aumentar a procura de bens e serviços. Esse aumento da procura permite a expansão dos negócios, aumentando o emprego local. No entanto, o comércio pode levar a uma maior rotatividade de empregos e, em alguns casos, a salários mais baixos. Os governos devem garantir que as indústrias afectadas pelos choques comerciais tenham acesso a programas de formação que preparem os trabalhadores para uma economia globalizada e a redes de protecção social para os trabalhadores durante um período de transição.

Upskilling, new skilling, reskilling e aprendizagem ao longo da vida

A fim de garantir a resiliência e a adaptabilidade da força de trabalho em contexto de um mundo do trabalho em rápida transformação, é vital que os trabalhadores também se tornem aprendizes contínuos. O desenvolvimento do capital humano através da melhoria de competências, de novas competências, da requalificação e da aprendizagem ao longo da vida é fundamental para equipar os profissionais para satisfazer as exigências do sector, reforçar novos mercados, ajudar as economias na transição e permitir o desenvolvimento sustentável. Mas o acesso limitado à formação de competências de qualidade é uma barreira comum ao aumento de competências. Remover estas barreiras é crucial para promover uma força de trabalho global mais qualificada, inclusiva e capacitada.

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