Grupo do Casal Garcia conta como preserva o legado familiar, valorizando as pessoas

A primeira “empresa familiarmente responsável” do sector vinícola faz jus à certificação. Afinal, são mais de 150 anos de vida, construída ao longo de várias gerações, tanto dos proprietários como dos colaboradores. E se há palavra que define o grupo do Casal Garcia é “família”.

Por Tânia Reis

Aveleda, Casal Garcia ou Adega Velha dispensam apresentações. Com mais de 150 anos de história, hoje, o Grupo Aveleda está presente em quatro regiões do País, exporta para mais de 85 mercados e, em 2024, produziu mais de 22 milhões de garrafas. Uma empresa familiar «que se tem vindo a transformar e reinventar para fazer chegar ao mercado vinhos de excelência, de marcas fortes e com muito para contar», afirma Martim Guedes, co-CEO. «“Ser Aveleda” é fazer parte de uma família, de uma história, de um sonho. É saber que aquilo que o meu quinto-avô Manoel Pedro Guedes sonhou e começou a construir em 1870 é hoje um legado de tradições e um património a transmitir às próximas gerações.»

A experiência vai além do orgulho ao «olhar para uma garrafa de Aveleda, Casal Garcia, Quinta Vale D. Maria, Aguieira, Adega Velha», é também «saber trabalhar em espírito de ajuda mútua», com vista a ser sempre melhor e mais eficaz. Ética, exigência e paixão são os valores basilares que norteiam a empresa, cuja cultura está espelhada em três comportamentos fundamentais, que o responsável identifica: «ambição para juntos atingirmos mais e melhor; humildade para olharmos para nós próprios e para o que fazemos e reconhecer onde podemos melhorar; e curiosidade pelo nosso trabalho, pelo que nos fascina, que nos vai ajudar sempre a perseguir novos horizontes e a estarmos na dianteira da criatividade e da inovação».

Com 181 colaboradores – 102 homens e 79 mulheres –, a maioria é de nacionalidade portuguesa e vai dos 20 aos 65 anos de idade, alguns pertencentes à mesma família e de várias gerações. Aliás, essa intergeracionalidade é motivo de orgulho, pois «significa que existe um sentido de pertença destas famílias à Aveleda e uma dedicação genuína», explica Martim Guedes. «Este património humano que temos, e que muito se deve à forma como a nossa família sempre geriu a empresa e sempre se relacionou com os seus colaboradores, é um dos traços identitários da Aveleda e é algo que queremos preservar e valorizar.»

Para o gestor, o saber transmitido por gerações tem grandes vantagens, «no compromisso, na experiência, no conhecimento empírico daquilo que é a Aveleda», mas também os seus desafios, sobretudo quando se fala em inovação, reinvenção e disrupção. Por isso, considera que, para estes três propósitos, «“sangue novo” e uma visão isenta são muitíssimo importantes, porque ajudam a desafiar o status quo». Consciente de que «esta dedicação de uma vida e de várias gerações» está a mudar no mercado de trabalho – «em que os jovens profissionais se fixam cada vez menos, na busca de estímulo e mudança constante» –, defende que é crucial «saber cativar os talentos» que têm, de forma a conseguir o maior empenho e dedicação dos colaboradores.

«A família é um valor intrínseco e identitário da Aveleda desde a sua origem», por isso, as pessoas estão no centro de tudo o que fazem, garante Martim Guedes. Desde 2017, são Empresa Familiarmente Responsável, «a primeira empresa no sector do vinho a ter esta certificação», o que significa, «na essência, acreditar que a motivação e o bem-estar físico e mental dos colaboradores promove maior equilíbrio, tanto no trabalho como em casa».

Essa certificação assenta em cinco eixos: qualidade no trabalho; flexibilidade temporal e espacial; apoio à família do colaborador; desenvolvimento de competências profissionais; e igualdade de oportunidades. «Procuramos promover um trabalho digno, com oportunidades para todos, reduzindo as desigualdades sempre que nos for possível», destaca.

E, mais do que «criar apenas emprego », disponibilizam oportunidades de formação pessoal e profissional, com desenvolvimento de competências técnicas e humanas, ajudando a construir um percurso com sentido dentro do grupo. Sem esquecer a saúde física e mental dos colaboradores, as condições e segurança no trabalho e o acompanhamento das suas necessidades, de forma a promover a motivação e o bem-estar.

Entre as várias medidas estão as consultas de medicina curativa e de médico de família na empresa, a encomenda de refeições para take-away «em que os colaboradores podem encomendar e levar para casa refeições preparadas pela Aveleda», seguro de saúde para todos, oferta do dia de aniversário, criação de um fundo de pensões, flexibilidade de horário, possibilidade de teletrabalho dois dias por semana, e oferta de Kit Bebé e Kit Casamento, «como incentivo à família», reitera.

Dois marcos distintivos
No âmbito da inovação, em 2016 implementaram um portal de ideias, «como forma de envolver os colaboradores na melhoria contínua, e premiar a sua criatividade para ajudar a identificar necessidades e oportunidade», recorda o co-CEO.

Nessa plataforma interna, os colaboradores são convidados a reflectir sobre a eficiência dos processos e dos métodos existentes, e a propor novas soluções, produtos, serviços ou iniciativas. «As ideias são recolhidas e analisadas periodicamente, elegendo em cada semestre as melhores, que são premiadas e implementadas», refere, acrescentando que há também «o prémio de melhor ideia do ano, que tem um reconhecimento especial». Martim Guedes reconhece que, até à data, os resultados têm sido «excelentes» e com uma participação muito activa dos colaboradores. «Deste envolvimento têm surgido muitas melhorias nas nossas práticas diárias, nos recursos de que dispomos e nos espaços que frequentamos », abrangendo desde «melhorias de limpeza de espaços à oferta de garrafas de água aos colaboradores, e até por exemplo à criação de uma biblioteca».

Leia o artigo na íntegra na edição de Janeiro (nº.169) da Human Resources, nas bancas.

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