Há um «cenário de profunda escassez de mão-de-obra» neste sector. Associação propõe a criação de uma “via verde empresas”

A construção tem demonstrado uma «extraordinária resiliência» face aos problemas estruturais de mão-de-obra, sustenta a associação sectorial, apontando uma carência de 80 mil trabalhadores e lamentando as «dificuldades acrescidas» agora sentidas na contratação de estrangeiros.

«Os dados mais recentes demonstram que o nível de emprego assegurado pelas empresas do sector da construção manteve-se no segundo trimestre de 2024, quando comparado com o mesmo período de 2023, o que reflecte a manutenção da capacidade do sector de gerar valor e empregar trabalhadores», afirmou o presidente da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN) numa resposta escrita enviada à agência Lusa.

Segundo Manuel Reis Campos, registou-se uma «ligeira variação negativa» de 0,8% em relação ao primeiro trimestre de 2024, mas que atribui às «dificuldades estruturais no que toca à contratação de mão-de-obra qualificada e não propriamente a uma dificuldade do sector em criar postos de trabalho».

Salientando que o número estimado de trabalhadores em falta no sector da construção é de cerca de 80 mil, o dirigente associativo enfatiza que, face a este «cenário de profunda escassez, este equilíbrio no nível de emprego no sector demonstra uma extraordinária resiliência das empresas para manter a sua actividade».

Alguns economistas ouvidos pela agência Lusa indicam que Portugal está próximo do pleno emprego, mas existem indicadores, nomeadamente o desemprego jovem e a travagem que se regista em alguns sectores, que mostram o dinamismo a esmorecer, o que pode dar um impulso menor à economia.

Os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) indicam que a população empregada cresceu 1% no segundo trimestre, face ao período homólogo, mas entre as principais áreas de actividade só nos serviços é que se verificou um aumento. Assim, se a população empregada nos serviços aumentou 2,2%, na agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca caiu 8,6% e na indústria, construção, energia e água recuou 1,4%.

Para Reis Campos, o menor dinamismo na criação de emprego no sector entre Abril e Junho «não se prende com uma incapacidade de o sector de criar emprego, mas assenta, essencialmente, na dificuldade de contratação de mão-de-obra», que tem vindo a ser «reiteradamente identificada como o maior obstáculo ao crescimento pelas empresas de construção».

Neste contexto, o presidente da AICCOPN lamenta que as recentes alterações à lei de estrangeiros, ao imporem restrições à imigração e à concessão de vistos, tenha vindo «dificultar a entrada de novos trabalhadores no mercado» e «acrescentar complexidade a um problema que necessita de respostas urgentes».

Reis Campos alerta que um aumento das dificuldades de contratação de trabalhadores qualificados «poderá colocar em causa a capacidade do sector de dar resposta aos projectos de grande escala que estão em curso ou já planeados, como as obras constantes no Plano Nacional de Investimentos 2030», o que levou a associação a definir um plano de acção, que denominou de «Construir 2030», com medidas que visam «uma correcta e atempada aplicação dos fundos europeus disponíveis».

«No que concerne ao mercado de trabalho, com o objectivo de garantir às empresas do sector os recursos humanos necessários e devidamente qualificados, propõe-se, designadamente, uma aposta na capacitação e na inovação, tirando partido dos centros de excelência do sector, o CICCOPN e o CENFIC, a criação de uma ‘via verde empresas’ para a obtenção de vistos de trabalho, a pré-autorização de residência para vistos de trabalho e a simplificação dos processos de reconhecimento de qualificações», concretiza.

Para a associação, estas são «medidas fundamentais que visam remover os obstáculos burocráticos e legais existentes» e «criar um ambiente mais propício e eficiente que optimize a contratação de trabalhadores, essenciais para o desenvolvimento e para a sustentabilidade do sector e de Portugal».

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