HR Talks. Sustentabilidade: Um pequeno passo para as empresas, um salto gigante para a sociedade

A sustentabilidade já é uma aposta real e estratégica nas empresas? Sendo o seu âmbito muito mais abrangente do que a vertente ambiental, que áreas estão a ser trabalhadas (e como)? De que forma estão empresas, trabalhadores, clientes e restantes stakeholders a contribuir para a sociedade como um todo? Especialistas da Ikea, Fnac e Randstad reflectiram sobre o tema na primeira HR Talks.

 

Por Tânia Reis | Fotos Nuno Carrancho

 

A Human Resources, em parceria com a Randstad, estreou online as HR Talks, uma rubrica vídeo que aborda temas relevantes no mundo da Gestão de Pessoas e das empresas, com o objectivo de partilhar boas práticas e reflectir sobre desafios e tendências. Ao longo do ano, 12 temas e 12 conversas, com protagonistas diferentes, vão juntar profissionais de realidades e sectores distintos.

A primeira HR Talk reuniu Ana Barbosa, responsável de Sustentabilidade da IKEA Portugal; Joaquim Almeida, director de Recursos Humanos e responsável de Sustentabilidade da Fnac; e Pedro Empis, director de Outsourcing da Randstad, em torno do mote “Gives back to society”, numa conversa moderada por Ana Leonor Martins, directora de redacção da Human Resources.

 

Um caminho que já não é opcional
Na Ikea, tudo começa com uma visão – criar um melhor dia-a-dia para as pessoas –, e isso passa obrigatoriamente pela sustentabilidade. «Tentamos sempre fazer mais com menos. É muito orgânico para nós», sublinhou Ana Barbosa. Há mais de 10 anos, é uma área que está integrada de forma estratégica no negócio da marca sueca, ao longo da cadeia de valor e em todas as funções. «Trabalhamos para criar um impacto positivo nas pessoas e no planeta, com metas ambiciosas comuns até 2030», afirmou.

A redução do consumo de recursos e da pegada carbónica em toda a cadeia de valor é uma dessas metas. É calculada anualmente e, desde 2019, tem vindo a diminuir, motivo de grande orgulho para a empresa. Outro foco passa por uma área mais comercial, ou seja, de que forma podem os produtos ajudar os consumidores a ter uma vida mais sustentável. E, por fim, a área das pessoas, pilar igualmente importante na estratégia de sustentabilidade, que contempla as comunidades e a sua população mais vulnerável, os colaboradores dos fornecedores e, por último, os colaboradores Ikea. «E quando pensamos nestes, analisamos o que podemos fazer para ter uma força de trabalho mais envolvida, e em que áreas temos de nos focar», explicou a responsável.

Quando se fala em sustentabilidade, é comum o foco estar mais na vertente ambiental, mas o alcance do tema é muito mais abrangente. Igualdade, diversidade e inclusão são também vistas neste âmbito e uma das bandeiras da marca sueca. Ana Barbosa garante: «Temos igualdade de género salarial e em posições de chefia, mas não paramos aqui. Uma melhor representatividade da sociedade em termos de raça, etnia e nacionalidade é o nosso próximo passo.» Até porque «a sustentabilidade não pode ser apenas para fora, tem de começar de dentro». Assim, em Janeiro, aumentaram o salário de entrada para mil euros, para todos os colaboradores. «No fundo, devolver à comunidade acaba por ser devolver ao negócio. O negócio não pode prosperar numa comunidade que não prospera.»

Apesar da pressão a que muitas empresas, principalmente as cotadas em bolsa, estão sujeitas, Joaquim Almeida reconheceu que, actualmente, «já não é viável uma organização, grande ou pequena, ignorar o seu papel na sociedade e passar ao lado de temas como a paridade de género, a inclusão de pessoas com deficiência ou a pegada ambiental». E o director de Recursos Humanos e responsável de Sustentabilidade da Fnac acredita que, mesmo num tecido empresarial nacional maioritariamente de pequenas e médias empresas (PME), estes temas estão presentes – ainda que possam não ser os prioritários – e, cada vez mais, o resultado e a actividade das empresas depende do seu posicionamento sobre estas matérias no mercado, e também perante os clientes e colaboradores. «As novas gerações olham para estes temas de outra maneira, têm um interesse maior na protecção do ambiente, na integração, na qualidade de vida profissional e pessoal.»

Na Fnac, a sustentabilidade e a responsabilidade social têm objectivos muito concretos e um caminho já trilhado. Se antes, o tema era abordado através de acções dispersas – «e nem era comunicado internamente» –, há dois, três anos, está incluído numa política integrada, assente em diferentes dimensões: «a ambiental, em duas vertentes, externa, na consciencialização dos consumidores, e interna, na redução do consumo de energia; o apoio à cultura, à comunidade e ao meio em que nos inserimos; a ética e corrupção; e, por fim, mas não em último, claro, as pessoas».

Também na Randstad há uma maior consciência da importância do tema da sustentabilidade e um «percurso já feito», garantiu Pedro Empis, fazendo notar que «nenhuma empresa sobrevive no mercado ou numa comunidade que não prospera». Sendo indiscutível que as empresas têm de apresentar resultados e cumprir objectivos financeiros concretos, o director de Outsourcing acredita que «existe uma maior noção de que isso, por si só, não é suficiente ou que, a ser suficiente, não é sustentável».

Na qualidade de organização prestadora de serviços especializada em Recursos Humanos, e que abrange todos os sectores de mercado, sentem uma responsabilidade adicional perante um conjunto de circunstâncias, como por exemplo, na segurança e saúde no trabalho. «Não basta termos um projecto em que vamos colocar 100 pessoas, é importante saber e assegurar que aquela fábrica ou centro logístico tem as condições necessárias para as pessoas trabalharem», salientou. Esse e outros indicadores são medidos, e a Randstad promove acções de sensibilização e formação. Pedro Empis garante que «os resultados são positivos, já que a sinistralidade tem vindo a diminuir». E acrescenta: «Apesar de não parecer óbvio, iniciativas que contribuam para evitar acidentes de trabalho ou doenças profissionais já são um caminho para a sustentabilidade.»

O director de Outsourcing defende que «as grandes empresas têm um papel ainda mais importante a desempenhar neste ecossistema, pois os padrões que determinam devem ser disseminados pelos fornecedores, maioritariamente PME. É um caminho que está a ser feito. E sentimos que é cada vez menos uma coisa administrativa e burocrática, para ter o selo, algo mais genuíno, feito de uma forma sustentada, que vai trazer resultados.»

Do mesmo modo, na área do talento, o foco também tem de ser uma gestão sustentável. «Se um colaborador não está a ter uma boa performance, muitas vezes, o caminho mais fácil pode ser arranjar outro colaborador, mas pode tentar perceber-se antecipadamente o porquê e fazer algo relativamente a isso, evitando que vá para desemprego», exemplificou. E é aí que a Randstad faz a diferença, procurando não deixar ninguém para trás, «o que acaba por ser muito relevante nestes momentos de verdade para a própria pessoa». Transformar um trabalhador “não empregável” num candidato “empregável” é precisamente o que está por trás do objectivo global da empresa – “tocar a vida de 500 milhões de pessoas até 2030”.

 

Um factor de atracção e fidelização
Os próprios candidatos também estão atentos ao tema da sustentabilidade, e é factor de peso na tomada de decisão na hora de escolher, o que acaba por ter impacto directo na capacidade de atracção e fidelização de talento das organizações. «As pessoas não querem trabalhar para uma empresa que não queira saber destes temas», assegura Pedro Empis. «Quando se está a atrair, ainda se pode dizer algo que não se pratica, mas se depois não acontecer, quando se trata de manter o talento, é mesmo preciso fazer algo.»

Sendo responsável pelos pelouros da Sustentabilidade e dos Recursos Humanos, «coincidência feliz e que faz sentido», Joaquim Almeida revelou que, graças à boa reputação da Fnac, não sentem dificuldades na atracção de talento. Mas a “facilidade” já não é tão evidente quando se fala em evitar a rotatividade de colaboradores. «Sentimos que, actualmente, as novas gerações olham para estes temas com maior preocupação, e até de outro ponto de vista. A flexibilidade, por exemplo, é encarada não só do ponto no equilíbrio da vida profissional e pessoal, mas também das questões ambientais.» A atenção está, portanto, virada para dar respostas a essas pretensões. E, na Fnac, esse trabalho é feito, no curto prazo, através de metas estabelecidas anualmente e que abrangem também a área das Pessoas, olhando para índices desde a taxa de turnover ao número de participantes femininas em programas de desenvolvimento.

 

Leia o artigo na íntegra na edição de Fevereiro (nº. 146)  da Human Resources, nas bancas.

Caso prefira comprar online, tem disponível a versão em papel e a versão digital.

O vídeo da talk está disponível aqui.

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