Humanizar o Virtual

Por João Nuno Bogalho, Gestor de Pessoas. Coordenador de pós-graduações no Instituto Piaget
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Ao passarmos por esta experiência de, compulsivamente, termos experimentado o trabalho remoto – mais especificamente a partir de casa pelas condicionantes da pandemia, surgiram inúmeros desafios para as organizações e para as pessoas. Sendo que, se alguns se revelaram difíceis e limitadores, é também verdade que este cenário abriu algumas possibilidades que o trabalho presencial não permite, ou dificulta pelo menos.

Quer nas aulas que vou dando, quer através dos convidados que vou tendo nas Pós Graduações, quer ainda pelo que vamos sabendo de distintas organizações, há experiências que surgiram com o trabalho remoto, e que no regresso que se vive aos escritórios – os que regressam, claramente serão transpostas da realidade virtual para a realidade física.

Neste novo mundo do trabalho remoto, um dos grandes desafios que as nossas pessoas mais sentem a diferença, é a inexistência do contacto físico, da conversa presencial, do poder cumprimentar os colegas de trabalho e conversar um pouco cara-a-cara.

Pelo lado profissional, para as dinâmicas de trabalho, reuniões, gestão de projetos e tarefas, entre tantas outras, rapidamente entraram no nosso quotidiano soluções como Zoom®, Teams®, Meet® e outras. E aquelas expressões já adotadas para o nosso vocabulário, do tipo “estás mute”… E ficou muito mais fácil organizar, coordenar e reunir, seja qual o número de pessoas. Porque num instante todos entramos num link. Estejamos onde estivermos. E passamos a ter catadupas de reuniões, mais rápidas e eficazes também.

Mas o desafio está mais no lado pessoal. Ficou evidente que somos pessoas, seres sociais, e que necessitamos interação uns com os outros. Faz parte da nossa condição humana. E esta dimensão do remoto parece ter descaracterizado grande parte desta vertente relacional interpessoal. Com a pessoa e não com o colega.

Acresce ainda que muitas empresas continuaram a contratar e a crescer, neste mundo remoto. E cada vez mais pessoas que trabalham juntas, na mesma equipa até, nunca se viram pessoalmente. Não se conhecem para lá da interação profissional.

Sendo evidente que a dimensão física não se resolve, há que encontrar espaço e dinâmicas para as pessoas se conhecerem. E há distintas soluções que o permitem fazer.

Na empresa onde trabalho, temos uma dinâmica semanal, com o objetivo de que as pessoas se conheçam pessoalmente, sem falar do trabalho. Esta dinâmica é obrigatória para todos os elementos da empresa, sem exceção e a todos os níveis, equipas e geografias da empresa. Em termos processuais, foi criado um algoritmo que organiza de forma absolutamente aleatória, todos os elementos da equipa, em grupos de 3 pessoas. Durante essa semana, esses grupos reúnem-se, em horário de trabalho, em espaços de 30 minutos. O objetivo é falar de nós, partilhar experiências, conhecer as pessoas por trás dos colegas de trabalho.

Uma dinâmica simples, extremamente fácil de organizar, e que se revela ser um dos pontos fortes no engagement, no sentimento de pertença, na motivação. Um dos pontos altos da semana. Traz uma transversalidade imensa à organização, colocando em contacto informal e pessoal, todas as pessoas. Permitindo estabelecer laços pessoais, encontrar interesses comuns, hobbies semelhantes, partilha de pensamentos e opiniões.

Acessoriamente, mas também relevante, as pessoas acabam por conhecer melhor a organização, o que cada um faz, em que áreas trabalha, incrementando a noção de organização global, com uma personalidade por trás daquela função.

É remoto. Sim. Mas potencia uma dimensão humana muito forte que, garantidamente, continuará e se reforçará, seja em que modelo de trabalho venhamos a trabalhar no futuro.

Porque as organizações são Pessoas. E só depois elementos de uma equipa.

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