Isabel Heitor, ANA Aeroportos. Ausência presente: Tempo, espaço e rituais (ter)… Oxímoros da gestão de hoje

Os profissionais de Recursos Humanos vivem este desafio de ausência presente, onde a única certeza é que o que foi válido durante anos, no presente deve estar ausente.

 

Por Isabel Heitor, directora de Recursos Humanos da ANA Aeroportos

 

Estamos no tempo da “ausência presente”, em que a ideia de ausência (que significa a falta de algo), convive com a ideia de presença (que implica a existência ou a disponibilidade de algo). Este oxímoro descreve situações em que algo parece estar simultaneamente disponível e indisponível.

Os profissionais de Recursos Humanos vivem este desafio de ausência presente, onde a única certeza é que o que foi válido durante anos, no presente deve estar ausente. Vive-se a “presença remota”, em que tanto se está presente (tipicamente associada ao trabalho presencial) como à distância (associada ao trabalho remoto). Este oxímoro retrata a situação em que as pessoas, mesmo não estando fisicamente no escritório, estão plenamente envolvidas e participativas nas suas tarefas e interacções.

A percepção de produtividade mudou, e hoje aqueles que trabalham remotamente, com horários flexíveis que permite a cada um escolher quando trabalhar, desde que sejam cumpridas as suas responsabilidades e prazos, consideram- -se mais produtivos por estarem livres das distracções que há no escritório.

Subjaz, contudo, a convicção em muitas empresas de que o trabalho remoto pode levar à diminuição da produtividade, porque deixa de haver o mesmo tipo de supervisão, controlo, e pode haver potenciais distracções em casa que ameaçam o garante de uma cultura empresarial unificada. Hoje, pede-se mais autonomia e menos controlo.

Enquanto as organizações tradicionais acreditam que o ambiente de trabalho é essencial para promover a colaboração, a orientação e a manutenção da cultura da empresa, outros acreditam que os trabalhos remotos e flexíveis promovem o equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional.

O oxímoro “presença remota” encapsula a dualidade e a integração dos tempos de trabalho remoto e presencial, destacando como os trabalhadores modernos podem estar profundamente envolvidos e presentes nas suas funções, independentemente da sua localização física. Isso reflecte as mudanças dinâmicas nas práticas de trabalho e a crescente flexibilidade que define o ambiente de trabalho contemporâneo.

O espaço é uma “proximidade distante” onde coabita proximidade, que normalmente se refere a estar fisicamente próximo, com distância, que implica separação física. Este oxímoro descreve a maneira como as pessoas podem colaborar de forma eficaz e estar “próximas” num sentido funcional e emocional, mesmo quando estão fisicamente distantes.

Há cada vez mais espaços colaborativos do que cubículos individuais. Espaços para reuniões e áreas sociais que são projectados para promover o trabalho em equipa e a inovação quando as pessoas estão no escritório.

O oxímoro “proximidade distante” reflecte a dualidade entre o trabalho presencial e remoto, destacando como a tecnologia e as práticas de gestão modernas permitem que as equipas mantenham uma colaboração próxima e eficaz, mesmo quando fisicamente separadas. Reflecte a evolução das dinâmicas de trabalho e a capacidade das organizações de criar ambientes de trabalho integrados e flexíveis.

Para além do tempo e espaço, os rituais completam a tríada do oxímoro “ausência presente”. Também os rituais estando “em silêncio” (ausentes) podem estar presentes. Os “rituais silenciosos” combinam a ideia de rituais, que são práticas estruturadas e visíveis, com a noção de silêncio, que sugere ausência ou falta de algo. Este oxímoro descreve as práticas e comportamentos organizacionais que, embora não sejam formalmente instituídos ou visíveis, ainda desempenham um papel importante na cultura e dinâmica da organização.

Os rituais de bem-estar no dia de trabalho, rituais regulares de reconhecimento, como mensagens em reuniões de equipa e plataformas de reconhecimento de pares, são cada vez mais prevalentes. As organizações modernas promovem reuniões de feedback frequentes e informais em vez das tradicionais avaliações anuais de desempenho.

As tendências actuais em RH e gestão organizacional enfatizam a flexibilidade, o bem-estar e a integração da tecnologia para apoiarem novas formas de trabalhar. Ao aproveitarem estas tendências, as organizações podem criar um ambiente de trabalho mais dinâmico, inclusivo e produtivo que atenda às necessidades.

O oxímoro de que os colaboradores querem trabalhar a partir de casa enquanto as organizações pressionam pelo regresso ao escritório reflecte uma tensão fundamental entre a autonomia individual e o controlo organizacional. Ao adoptar modelos de trabalho flexíveis e híbridos, melhorar a comunicação, focar nos resultados e melhorar a experiência no escritório, as organizações podem reconciliar estes desejos conflituantes e criar um ambiente de trabalho que beneficie tanto os colaboradores como a organização.

 

Este artigo foi publicado na edição de Junho (nº. 162) da Human Resources, nas bancas.

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