Já a pensar (e desesperar) com o trânsito que vai ter que enfrentar amanhã? Estas oito dicas provavelmente não lhe passariam pela cabeça, mas vão ajudar

Nunca vi o trânsito lisboeta como vejo actualmente. Creio que a pandemia e a procura de espaços mais apetecíveis que apartamentos seguida do aumento do preço das habitações, das crescentes taxas de juros sobre os empréstimos e da escassez de oferta de tetos e paredes humanamente sustentáveis, acabou por afastar do centro inúmeras pessoas. Pessoas essas que provavelmente até escolheriam fazer uso de transportes públicos, fosse a nossa rede provida de qualidade e profissionalismo.

 

Por Joana Russinho, People Enthusiastic, head of Human Resources e autora de Eu e os Meus

 

Assim, face à escassez de opções, entra-se no carro rumo ao centro e, seja o que a sorte quiser. Só que a sorte, no sentido da consequência positiva, não está a querer nada com quem se aventura nesta travessia. O que eleva o stress e ansiedade a níveis incomportáveis. Este, aliás, é para mim, um dos factores que mais contribuem para o desgaste físico e psicológico de muitas pessoas actualmente.

Solidária com todos os que como eu sofrem desta malfadada sorte, partilho algumas dicas, fruto de reflexões profundas comigo  durante as horas passadas no pára-arranca:

 

1) O volume conta e a carapaça também. Quanto maior for o veículo, e quanto mais futurista parecer, maior será o temor de terceiros, e menos aventureiros serão em ultrapassagens, manobras de diversão e outros descuidos. «À mulher de césar não basta ser, há que parecer». (Julio César)

 

2) A buzina quer-se resistente. Quanto mais tempo suportar um pulso forte a pressionar continuamente, melhor se fará ouvir. Esqueça a cabeça de fora do vidro e a sua voz. «Uma força menor aplicada persistentemente é igual a uma força maior.» (Gottfried Wilhelm von Leibniz)

 

3) Invista em vidros escurecidos. Quando as técnicas de mindfulness já não funcionam e se torna impossível esconder a ausência de serenidade, não se mostre. Finja que não existe. «Quem não é visto não é lembrado.» (Patrick Münzfeld”)

 

4) Importe um carro blindado. O car-burnout saiu à rua e actualmente qualquer um guarda no porta luvas uma arma de arremesso. Também há os que preferem dar o corpo ao manifesto. Cuidado com os fatos e tailleurs, conduza com roupa simples e resistente. «Less is more.» (Ludwig Mies van der Rohe)

 

5) Desenvolva, nem que forçado, respeito pelos tuc tucs e as trotinetes, mesmo que sem vontade. Surgem de um buraco negro a exibir os seus malabarismos e com uma carta de condução alternativa. Como são cúmplices uns dos outros, a falta de noção é metamorfoseada em loucura geral. «Não fuja dos problemas, fuja de criar problemas.» (Renan fehrer)

 

6) Aposte em capacitação sobre gestão do tempo e stress. Muito útil ao fim da primeira hora no slow das duas mudanças. Isso e um ansiolítico debaixo da língua, quando chegar à hora e meia e ainda não tiver dito bom dia ao chefe e/ ou, não tenha os miúdos no carro. «A necessidade aguça o engenho.» (ditado popular)

 

7) Desista do waze e do google maps. Estão em modo quiet-quitting. Vão também pôr baixa, apoiados pela segurança social contra vontade do ministério das infraestruturas. «Às vezes mais vale desistir do que insistir.» (Margarida Rebelo Pinto)

 

8) Fortaleça os músculos. Pela sua saúde e antes de se ver com uma contratura no corpo todo. Ganhe a força muscular de que vai precisar após quarta-feira, para aguentar sentado na cadeira do escritório até sexta. «Mais vale prevenir que remediar» (ditado popular)

 

8) Por fim seja grato. Grato por chegar descabelado, mas ileso, onde queria; grato ao transeunte que quase atropelou e que apenas lhe deixou uma leve palmada na sua porta. Grato por aquela subida ao passeio que danificou uma jante, mas que salvou uma trotinete de ser abalroada. Grato por (ainda) não ter enlouquecido apesar de hoje ser só segunda-feira. «A gratidão é a virtude das almas nobres.» (Esopo)

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