Já não aguenta a sua chefia? Calma, veja aqui o que deve fazer (e também o que deve evitar a todo o custo)

Perante uma situação em que a chefia ultrapassa os limites com a equipa, os colaboradores enfrentam o dilema: o que fazer? Fugir, ripostar ou ficar quieto? Dois coaches deixam alguns conselhos sobre como identificar o momento certo para confrontar a chefia, causando o mínimo de danos.

Os colaboradores defenderem-se acarreta algumas vantagens, «incluindo um ambiente de trabalho menos stressante, uma melhor relação com a chefia e melhores linhas de comunicação», salienta o coach de carreira Kyle Elliott à Fortune.

Contudo, no actual cenário económico, com cortes e despedimentos em massa, manifestar uma posição firme pode equivaler a pôr um alvo nas costas se os gestores tiverem de seleccionar a força de trabalho. Por isso, é fundamental escolher sabiamente que batalhas vale a pena “travar” com a chefia.

«Abordar todos os desacordos ou frustrações e manifestar demasiadas preocupações de uma só vez pode piorar a situação», adverte Ros Taylor, psicóloga clínica, coach corporativa e de liderança e professora da Strathclyde University.

Ambos deixam conselhos sobre como identificar o momento certo para confrontar a chefia, causando o mínimo de danos.

Avalie a situação e os seus sentimentos

O grande perigo, logo após uma discussão com a chefia, é levar a situação para o lado pessoal e “explodir”.

«Temos receio de que, se falarmos, vamos chorar ou gritar», refere Ros Taylor, destacando que, independentemente do grau de raiva ou irritação, «o importante é manter a calma ao lidar com a chefia».

Portanto, para se recompor calmamente (e evitar dizer algo de que se possa arrepender), é fulcral primeiro ter alguma objectividade. Taylor sugere que o colaborador classifique, numa escala de um a dez, como se sente, com que frequência isso acontece e o quão importante é esse tema para o colaborador.

«Se os números são elevados nos três aspectos, então o colaborador deve lidar com isso», aconselha. Porém se, depois de avaliar a situação e como se sente, perceber que a escala está baixa, isso pode indicar que a chefia está simplesmente a ter um dia mau.

«Por vezes, nem sempre tem que ver com o colaborador, podem existir uma série de factores que estão a acontecer na vida da chefia que, infelizmente, descarregou no funcionário», explica Taylor.

O timing é fundamental

«Embora decidir quando confrontar a chefia seja uma escolha pessoal, muitas vezes é mais fácil ir partilhando as preocupações individuais à medida que elas surgem, em vez de esperar semanas, meses ou até anos para apresentar uma lista de situações», salienta Elliott.

Ou seja, se algo está a incomodar fortemente o colaborador, o especialista defende que é melhor cortar o mal pela raiz mais cedo, em vez de deixar os problemas acumularem até chegar ao ponto de ruptura.

Geralmente, o limite de tempo para permitir que a raiva ou frustração diminuam, sem perder a janela de oportunidade para falar sobre o problema, é de até uma semana após o ocorrido. Porém, Taylor aconselha o colaborador a esperar, pelo menos, uma noite para se acalmar e praticar o que quer dizer.

«Se, por exemplo, o colaborador reúne com a chefia semanal ou quinzenalmente, pode ser um bom momento para expor as suas preocupações», sugere Elliott.

O método DESC

Para evitar entrar numa conversa acalorada e atribuir culpas – onde é pouco provável que o colaborador saia por cima – é melhor cingir-se aos factos e explicar que sentimentos daí advieram.

«Se o colaborador optar por confrontar a chefia, deve certificar-se de que apresenta soluções, não apenas problemas», diz Elliot. Além de apontar situações específicas, já que é normal a chefia pedir exemplos concretos de onde falhou, é importante o colaborador partilhar também algumas opções do que teria funcionado melhor para ele.

Da mesma forma, Taylor incentiva os colaboradores a criarem um roteiro usando o método “DESC”, que significa Descrição, Emoção, Solução e Consequência.

O primeiro a fazer é identificar a situação, descrever o que sentiu e, de seguida, oferecer uma solução e concluir com a consequência de que o desempenho e o profissionalismo permanecerão iguais.

Esteja preparado para a reacção

Seja de que maneira for, há riscos inerentes em enfrentar a chefia, principalmente se esta não estiver habituada a receber feedback. Portanto, antes de falar, considere primeiro qual é o seu objectivo final.

Se for simplesmente o colaborador dar a sua opinião, deve estar ciente de que isso pode não resultar em nenhuma mudança de comportamento e prejudicar ainda mais o relacionamento com a chefia.

«Se o colaborador pretende simplesmente desabafar ou apontar falhas de personalidade, então é preferível falar com um amigo ou mentor», aconselha Elliott.

Se o colaborador considera que um resultado específico pode ser alcançado ao confrontar a chefia, Elliott sugere ir devagar, com pequenos testes, «começando com pequenos feedbacks» e estar pronto para apontar exemplos e soluções, sem tornar a situação pessoal.

«Em última análise, o colaborador não pode prever como a chefia reagirá ao ser enfrentada. No entanto, pode aumentar as probabilidades de melhoria, se considerar como gostaria que alguém o tratasse se estivesse no lugar da chefia», conclui.

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