Joana Pita Negrão, Nova SBE. A mulher e o trabalho: Estamos a construir caminho?

Sei que o Dia da Mulher já passou, mas este artigo é para as mulheres de todos os dias.

 

Por Joana Pita Negrão, directora de Pessoas e Cultura da Nova SBE

 

Na última década, em Portugal, temos assistido a avanços significativos na redução da desigualdade de género em várias áreas, mas ainda existem desafios que persistem. Em termos de participação no mercado de trabalho, a taxa de emprego feminino aumentou ao longo dos anos, mas mantém-se uma diferença entre os salários de homens e mulheres. Estima-se que, em Portugal, e apesar dos esforços para reduzir a disparidade salarial, as mulheres ganham, em média, cerca de menos 15% do que os homens pelo mesmo trabalho.

Por outro lado, na área da Educação, onde trabalho, vemos que as mulheres têm taxas de conclusão de ensino superior mais altas do que os homens e, em particular, na Nova SBE, o número de colaboradores do sexo feminino é superior ao sexo masculino (incluindo em cargos de liderança).

Até no próprio equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional as mulheres têm marcado pontos, não só pelas políticas de licença parental e medidas de apoio à família que têm vindo a ser implementadas, mas também pelo papel do homem/pai que se tem vindo a transformar. Contudo, ainda estamos distantes do ideal. Cada vez mais, e muito por experiência própria, vejo mulheres/mães que se dedicam à vida profissional sem ter uma logística familiar fácil, porque simplesmente ser mãe a tempo inteiro não é suficiente e prescindir do estímulo profissional e intelectual não é uma opção. O tempo que se passa com os colegas no trabalho e os desafios que nos fazem sair da zona de conforto não deveriam ser fonte de ansiedade nem deveriam criar sentimentos de culpa ou crenças de que “sou pior mãe por isso”. Esta é a realidade que, infelizmente, ainda conhecemos.

Acredito que este cenário vá mudar nos próximos anos, principalmente depois de o relatório “Future of Jobs”, do Fórum Económico Mundial, ter indicado que competências como “pensamento crítico” e “capacidade de resolução de problemas” irão crescer, de forma proeminente, nos próximos cinco anos. Escuta activa, resiliência, tolerância ao stress e flexibilidade deverão também emergir a curto prazo e de forma consistente.

A Humanocracia nunca foi tão desejada e tão necessária. Será que este conceito não se encontra intimamente relacionado com características tipicamente associadas às mulheres, como a empatia, a colaboração, o desenvolvimento e apoio, a flexibilidade e a adaptabilidade?

A questão que agora se impõe é se, face a este momento crítico e épico de alteração de paradigma, e com a procura deste novo estilo de competências, se abre espaço para as lideranças femininas? E será que as mulheres estão preparadas, disponíveis e com vontade de o agarrar?

Este tipo de mudanças deve ser sistémico e estrutural e, por isso, pode demorar algum tempo. Nesse sentido, acredito que o discurso das mulheres – e da sociedade em geral – possa, e deva, mudar para uma visão mais positiva! Precisamos de viver mais integradas enquanto mulheres, profissionais e mães que somos. Lidar com os desafios do trabalho, da gestão da casa, dos filhos, e ainda da vida pessoal (desporto, amigos e hobbies), tudo ao mesmo tempo, não é fácil e exige uma enorme capacidade de gestão de tempo, organização e planeamento. Será que as organizações dão o devido apoio? Será que estas competências são verdadeiramente valorizadas? E será que a nossa cultura de trabalho facilitará este processo de maior integração família/trabalho no universo feminino?

Quero acreditar que sim. Estamos a construir caminho.

 

Este artigo foi publicado na edição de Abril (nº. 160) da Human Resources.

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