José Luís Carvalho, CUF: Quando a vida te der limões, faz sumo de pêra e surpreende-os a todos

Tive a oportunidade de ouvir esta frase na sessão de cinema com os meus filhos onde víamos o “Panda do Kung Fu 4”. Escolhi-a para este artigo porque me parece adequada para o desafio que, muitas vezes, os profissionais de Gestão de Pessoas e as lideranças enfrentam.

 

Por José Luís Carvalho, director de Gestão de Pessoas da CUF

 

A premissa, para percebermos isto, é que os modelos de gestão de desempenho, os modelos de compensação e benefícios e os modelos de organização e estrutura são, maioritariamente, bem definidos pelas organizações. Há muita prática sobre os mesmos, há muitas e boas consultoras a ajudarem no desenho, e as empresas portuguesas seguem as boas práticas. Por aqui tudo bem. E temos os limões necessários.

Qual é então a dúvida, o desafio? O grande desafio é termos a clara percepção de que não estamos a implementar estes modelos numa folha em branco, numa realidade nascente. Estes modelos são implementados em realidades vivas, com impacto nas pessoas, que têm um histórico na organização e fazem parte de uma equipa.

É nestes casos que, por vezes, me parece que as direcções de Pessoas e Talento estão com limões a fazer sumo de pêra, numa abordagem que tem em conta apenas a realidade prática e actual das organizações.

Não se trata de ser incoerente, de não ter princípios e objectivos em vista, mas o que a minha experiência me tem ensinado é que, como temos uma realidade histórica e dinâmica nas nossas organizações, temos de, muitas vezes, adaptar os modelos, criando fases de transição para chegar a determinados fins.

A arte de comunicar novos modelos, de ajustar e fazer adaptações pontuais, de comunicar constantemente e desconstruir mensagens contrárias à mudança, chama-se gerir… gerir os diferentes stakeholders, os timings, as prioridades.

Neste capítulo, de gestão na implementação e mudança, a responsabilidade recai muito sobre as direcções de Pessoas e Talento, mas é necessário conquistar e ter connosco um actor muito importante para surpreender todos: as lideranças.

As lideranças de uma organização madura têm de ter uma visão estratégica, transversal, têm de ser um suporte para estes processos de mudança, mesmo que não ganhem no concurso de popularidade. É necessário estar à altura da ocasião e ajudar a organização a surpreender, esperando que seja pela positiva, a todos.

Claro que, para isto, é necessário uma boa dose de envolvimento, comunicação e preparação para as diversas fases de implementação. O que tenho aprendido é que não temos várias oportunidades para contar a história da mudança, para desconstruir falsos credos ou mitos, etc.

Esta parceria é crucial, contudo, sabemos que poderemos ter duas perspectivas, algumas lideranças podem ter uma compreensão completa e abrangente do panorama geral, uma visão transversal, enquanto outras enfrentam grandes desafios diários de desempenho, e a sua perspectiva está muitas vezes limitada à sua área específica de actuação.

Para que esta parceria corra bem, o tema da comunicação, já citado, é imprescindível, ao qual acresce ainda o conhecimento das tendências, para que as lideranças estejam a par do que se passa no respectivo sector e no mercado do talento.

No final do dia, fazer sumo de pêra com limões é uma jornada extremamente gratificante e onde os responsáveis de Recursos Humanos podem ter um impacto forte, podem crescer e aprender. Vamos a isso.

 

Este artigo foi publicado na edição de Abril (nº. 160) da Human Resources.

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