Lições da sétima arte para a Gestão de Pessoas. Nós, os outros, e o poder imensurável da confiança

A longa-metragem “O Conde de Monte Cristo”, de Alexandre de La Patelliére e Matthieu Delaporte, com Pierre Niney e Pierfrancesco Favino nos principais papéis, é a versão mais recente do célebre livro com o mesmo nome, escrito pelo autor francês Alexandre Dumas no século XIX, que tem sido adaptado várias vezes ao cinema. Este facto confirma como a história aqui descrita é tão intensa e interpeladora para quem a lê e quem a vê.

 

Por Paulo Miguel Martins, professor da AESE Business School e investigador nas áreas de Cinema, História, Comunicação e Mass Media

 

A personagem principal, Dantès, é um jovem abusivamente preso no dia do seu casamento e atirado para as masmorras. Tudo se passara devido a interesses mesquinhos, para lhe roubarem a noiva, os bens, a reputação e destruírem a sua vida. A situação é difícil e desesperante. No entanto, na prisão conhece um padre, o abade Faria, que também lá está detido sem culpa. Curiosamente, a personagem inspira-se numa figura portuguesa.

Estes dois homens falam um com o outro e vão ganhando a confiança mútua. As conversas francas e abertas vão permitindo que se conheçam cada vez melhor. O abade Faria vai-se dando conta das injustiças cometidas e, antes de morrer, revela a Dantès o local de um tesouro escondido, para que ele o usasse quando um dia saísse da prisão. Tudo parece irrealista, uma fábula, mas de facto, quando recupera a liberdade, o protagonista confirma a história. Valera a pena acreditar e seguir as suas indicações.

Esta é logo uma das lições do filme: descobrir em quem confiar e, depois, seguir os conselhos de quem nos quer bem! Dantès, já livre, vai disfarçar-se e traçar uma estratégia para repor a justiça. Ele não se quer vingar. Ele não quer fazer o mal que lhe fizeram. O seu objectivo é restaurar o bem e impedir que o mal se perpetue. Claro que isso vai implicar “castigar os malvados”, mas o seu plano é que os injustos tomem consciência do que fizeram e que sejam os seus actos a denunciá-las.

Quando tudo já está pensado e planeado, avança com pequenos passos e conquista objectivos intermédios, que o coloquem de novo em contacto directo com os seus adversários. Para isso, disfarça-se e assume a identidade de Conde de Monte Cristo, ocultando a sua origem. Porém, o mais importante – e outra grande lição – é que, pouco a pouco, vai saber conquistar a lealdade e amizade de algumas pessoas que serão essenciais para o sucesso do seu plano.

Dantès aprendera a ver de que forma alguém poderia ser ou não de confiança, sabe como ir conhecendo bem os outros para os motivar, atraindo-os à sua iniciativa. No fundo, sabe dar a cada um o sentido de que “o outro” precisa para a sua vida, de modo que tenha gosto em participar numa determinada tarefa e função, tendo em vista um bem maior, um projecto pelo qual valha a pena lutar.

Dessa forma, com o desenrolar da acção, o Conde vai-se fazendo rodear de diversas pessoas, cada uma com o seu passado e diferentes competências: todos comprometidos por um objectivo comum: lutar por um ideal justo e salvar as pessoas que ainda pudessem ser libertadas de uma realidade opressora.

Portanto, mais uma vez se confirma que empenhar-se em algo “grande e nobre” atrai outros a colaborarem e a darem o melhor de si. No final, o típico “happy end” não se resume a “resolver uma questão”, mas sim a tornar possível que cada indivíduo se realize, atingindo os ideais a que se propôs alcançar, com o apoio dos outros.

 

Este artigo foi publicado na edição de Janeiro (nº. 169) da Human Resources, nas bancas.

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