Maioria das empresas continuam a não divulgar salários nos anúncios de emprego. A excepção é quando o salário é… baixo

Apesar da pressão de Bruxelas para combater a falta de transparência salarial nos anúncios de emprego, em Espanha, menos de 18% do total incluem uma menção explícita ao salário. No entanto, nos últimos anos, surgiu um “curioso paradoxo”, revela o El Economista.

Os empregos com pior remuneração são os únicos que ganharam em transparência, enquanto os empregadores escondem cada vez mais a remuneração de cargos que exigem mais qualificações ou experiência. Algo que deixa claro que a “guerra pelo talento” em Espanha não está a ser favorável aos trabalhadores.

De acordo com dados da Indeed, apenas 17,8% das ofertas de emprego espanholas contêm informação explícita sobre os salários. Uma percentagem que ultrapassa a da Alemanha, mas fica abaixo dos 19,3% de Itália, dos 40,3% da Irlanda, dos 45,3% dos Países Baixos, dos 50,7% de França e dos 69,7% do Reino Unido. Em Portugal, segundo um estudo da Coverflex, em 2024 registava-se nos 33%.

Curiosamente, Espanha é um dos países que mais aumentou os salários incluídos nestas ofertas, de acordo com o monitor salarial da Indeed. Isto revela que as empresas estão dispostas a pagar mais para contratar, simplesmente não querem mostrar os “trunfos” aos candidatos.

O economista-chefe da Indeed, Pawel Adrjan, explicou ao El Economista o que está por trás desta estagnação. «Entre 2019 e 2024, a transparência salarial aumentou nos sectores de baixa e média remuneração, como os transportes, os serviços de cuidados pessoais, a logística e a hotelaria. Ao mesmo tempo, diminuiu nas ocupações com maior remuneração, como as TI, a saúde, as finanças e outras categorias profissionais e técnicas.»

Adrjan sugere que o aumento da procura de profissionais, após a pandemia, para ajudar muitas empresas na urgente adaptação digital, é uma explicação possível, embora alerte que «não existe uma correlação clara entre o nível de transparência e o crescimento do número de ofertas de emprego em cada ocupação».

No caso de Espanha, o especialista sublinha que os sucessivos aumentos do salário mínimo interprofissional são outro factor: «facilitaram a publicação dos salários». As empresas podem, assim, destacar «remunerações que tenham crescido acima do índice geral de preços no consumidor durante esse período», mesmo que tal lhes seja imposto por determinação legal.

O facto de Espanha ter uma taxa de desocupação “muito baixa” em relação à taxa de desemprego também é relevante para esta tendência. «Por isso, talvez muitas empresas espanholas simplesmente não sintam tanta pressão competitiva como noutros países europeus para serem mais transparentes sobre o salário oferecido nos anúncios de emprego», acrescenta.

Esta opacidade faz parte de uma estratégia de gestão de Recursos Humanos. Quanto mais qualificações ou experiência um cargo exigir, mais poder terão os candidatos para exigir melhores salários do que aqueles que lhes são oferecidos. Por este motivo, as empresas preferem não fornecer estas informações desde o início. Em muitas destas vagas, expressões como “salário competitivo” ou “ajustado pela experiência” são as únicas referências ao salário futuro.

De qualquer modo, o economista-chefe da Indeed sublinha que, embora a proporção de ofertas que incluem informação salarial continue a ser baixa em comparação com outros países europeus, os dados extraídos daqueles «que as publicam são surpreendentemente representativos». O ponto-chave é que, no mercado de trabalho espanhol, os empregos com salários médios e baixos também têm um peso maior e têm agora as vagas mais transparentes.

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