
Marco Serrão, Galp: «A tecnologia só faz sentido se melhorar as nossas competências»
Para a Galp, a transformação digital nas organizações deve ser vista como uma simbiose entre o ser humano e a máquina, onde a tecnologia tem o poder de melhorar as competências e as capacidades das pessoas.
A sessão de encerramento da 29.ª Conferência da Human Resources Portugal, realizada no Museu do Oriente, em Lisboa, focou-se na forma como a tecnologia pode ajudar na criação de um ambiente organizacional mais ágil e eficiente. Intitulado “Data, IA e Cultura Organizacional: A Nova Tríade da Gestão”, esta intervenção teve como objectivo reflectir sobre como a Inteligência Artificial (IA) e os dados podem transformar a gestão de pessoas, colocando os colaboradores no centro dessa mudança.
Nesse sentido, Marco Serrão, Chief People & Spaces Officer da Galp, começou por contextualizar a presença crescente desta ferramenta tecnológica no dia-a-dia das pessoas, referindo que há muito tempo que existem plataformas que fazem recomendações personalizadas com base nos nossos dados. De acordo com o responsável, esta realidade reflecte-se no modelo de negócio de várias plataformas digitais, sobretudo nas redes sociais, que obtêm lucros através da recolha e comercialização das informações dos utilizadores. Além disso, destaca que a inteligência artificial vai além da simples automatização de tarefas repetitivas e pode contribuir para uma melhor experiência dos colaboradores nas empresas, tornando os processos mais eficientes e interactivos.
Outro dos dados trazidos para o debate prende-se com a magnitude do investimento global das grandes multinacionais em IA, que, segundo Marco Serrão, rondou os 320 mil milhões de dólares – excedendo, em larga escala, o produto interno bruto de Portugal. De acordo com o responsável, a crescente aceleração dessa mudança exige uma reflexão contínua sobre o impacto da tecnologia e a necessidade de inovação, sem perder de vista os riscos associados, como o enviesamento da informação.
Simbiose entre tecnologia e pessoas
No contexto da Galp, Marco Serrão revela que a jornada digital começou em 2023, com a criação de uma equipa dedicada à transformação digital, focando-se especialmente na gestão de dados. Na altura, a organização entendeu que, sem uma arquitectura de dados clara e acessível, não seria possível explorar o verdadeiro potencial das tecnologias inteligentes. Segundo o responsável, a introdução de plataformas como o SuccessFactors foi o primeiro passo, mas a empresa procurou melhorar a experiência dos colaboradores e obter insights valiosos a partir da análise de dados, optimizando a tomada de decisão.
Nesse sentido, a transformação digital não se limitou apenas às plataformas, mas também ao ecossistema da aprendizagem digital. A Galp investiu em ferramentas como o LinkedIn Learning, promoveu a aprendizagem contínua e criou uma cultura de “Lifelong Learning”. Para o orador, a IA, integrada nessas plataformas, acabou por facilitar a personalização das jornadas de aprendizagem, permitindo que os colaboradores seguissem as suas carreiras de forma mais autónoma e informada.
Outro exemplo de inovação apresentado pelo Chief People & Spaces Officer da Galp foi a utilização de um chatbot, que embora ainda esteja em desenvolvimento, «pretende proporcionar um serviço de auto-atendimento e reduzir o backlog de solicitações em Recursos Humanos». Embora a tecnologia seja fundamental, o orador continua a destacar o lado humano na gestão de processos, com a IA a servir mais como uma ferramenta de apoio do que como uma solução autónoma.
Em relação aos desafios éticos e aos riscos associados à utilização desta ferramenta, o responsável aborda a necessidade de equilibrar inovação com regulamentação. Apesar de a tecnologia ter um enorme potencial positivo, Marco Serrão alerta para os riscos sobre a utilização indevida e os impactos negativos que podem surgir.
No entanto, o orador acredita que a tecnologia deve ser usada ao serviço das pessoas, potencializando as suas competências e capacidades. «A tecnologia só faz sentido se melhorar as nossas competências, a nossa capacidade e a nossa vida», sublinha. Para Marco Serrão, a integração desta ferramenta nas organizações deve ser vista como uma simbiose entre o homem e a máquina, onde «a tecnologia proporciona os “superpoderes” necessários para que as pessoas sejam mais produtivas e impactem positivamente as suas organizações».
A jornada da Galp em termos de transformação digital continua a evoluir, com novos projectos em fase de testes e o objectivo de, futuramente, implementar soluções mais sofisticadas, como o Talent Marketplace, uma plataforma que permitirá uma experiência mais personalizada e dinâmica para os colaboradores. A integração da IA nestes sistemas representa, assim, uma visão de futuro para a empresa, onde a tecnologia e a humanidade coexistem para melhorar a forma como as empresas funcionam e, consequentemente, a vida das pessoas.
Em conclusão, Marco Serrão defende que a transformação digital não é apenas uma questão de adoptar novas tecnologias, mas de perceber o seu potencial para melhorar a experiência dos colaboradores e optimizar os processos organizacionais, sempre com uma visão ética e responsável. «O potencial é enorme e o que nós queremos é utilizar a tecnologia para melhorar a vida das nossas pessoas, a produtividade da empresa e continuar a dar passos na nossa jornada e na nossa visão que é fazer da Galp uma grande empresa para trabalhar», conclui.