Maria Duarte Bello, MDB – Coaching e Gestão de Imagem: «Será que a procura pelo bem-estar é uma nova fonte de stress?»
A crescente valorização do bem-estar também pode gerar um novo tipo de pressão: a de alcançar o equilíbrio perfeito.
Por Maria Duarte Bello, CEO da MDB – Coaching e Gestão de Imagem
A procura pelo bem-estar tem-se tornado uma prioridade em diversas áreas da vida quotidiana, principalmente no contexto do trabalho e da vida pessoal. As pessoas estão mais conscientes da importância de cuidar da saúde física e mental, o que é, sem dúvida, um avanço. No entanto, esta crescente valorização do bem-estar também pode gerar um novo tipo de pressão: a de alcançar o equilíbrio perfeito. O que levanta uma questão importante: a procura pelo bem-estar, em vez de proporcionar alívio, pode tornar-se numa nova fonte de stress?
Nos últimos anos, houve um aumento significativo na oferta de produtos, serviços e práticas voltadas para o bem-estar, como aplicações de meditação, aulas de ioga, dietas balanceadas e até mesmo conteúdos motivacionais. As redes sociais amplificaram esta tendência, com pessoas que partilham as rotinas de autocuidado e estilo de vida saudável. Embora estas práticas possam ser benéficas, a constante exposição a este tipo de narrativas cria a sensação de que todos deveriam estar em constante busca pelo bem-estar perfeito.
Este cenário pode gerar uma pressão adicional. Para algumas pessoas, o facto de não conseguirem aderir a todas estas práticas pode traduzir-se num sentimento de fracasso. A ideia de que o bem-estar é um objectivo a ser alcançado, uma espécie de estado ideal de equilíbrio físico, mental e emocional, pode transformar a procura numa obrigação na já longa lista de exigências da vida actual. Em vez de aliviar o stress, a procura pelo bem-estar pode, paradoxalmente, amplificá-lo.
A pressão para “cuidar de si” de maneira ideal pode alimentar o perfeccionismo. Neste contexto, o autocuidado deixa de ser um processo natural e torna-se numa tarefa que precisa de ser cumprida de forma impecável. O tempo reservado para meditar, fazer exercícios ou ter uma alimentação saudável pode transformar-se em mais um item da rotina diária a ser riscado de uma lista, perdendo o propósito original de trazer paz e tranquilidade.
O mesmo perfeccionismo também pode gerar sentimentos de culpa e ansiedade. Se uma pessoa não consegue manter uma rotina rígida de autocuidado ou sente que não está a alcançar o nível de bem-estar que deveria, o resultado pode ser um aumento da frustração. Em vez de sentir-se revigorada, a pessoa vê-se stressada pela pressão de cumprir com as expectativas.
Outro ponto de reflexão é como o bem-estar tem sido cada vez mais mercantilizado. A indústria do bem-estar, que envolve desde academias até spas, produtos de beleza e programas de desenvolvimento pessoal, gera milhares de milhões de euros anualmente. Ora, esta comercialização pode reforçar a ideia de que alcançar o bem-estar é um processo caro e, muitas vezes, inacessível para algumas pessoas, o que, por sua vez, pode aumentar a sensação de inadequação ou de exclusão.
Além disso, a sobrecarga de informações sobre bem-estar, que incluem dietas, rotinas de sono, métodos de produtividade e técnicas de relaxamento, pode deixar as pessoas confusas e sobrecarregadas. Em vez de simplificar a vida, a procura por uma vida equilibrada pode torná-la mais complicada.
Embora a busca pelo bem-estar possa, em alguns casos, transformar-se numa nova fonte de stress, não significa que a busca por equilíbrio e autocuidado seja algo negativo. O desafio é encontrar uma abordagem saudável e realista. O bem-estar não deve ser encarado como uma meta rígida, mas como um processo contínuo, flexível e individualizado, ou seja, pessoal. Em vez de tentar seguir todas as tendências, é importante que cada indivíduo encontre o que realmente funciona para si, sem se comparar a modelos idealizados.
A chave é reconhecer que a procura pelo bem-estar não se trata de alcançar um estado de perfeição – não é uma competição ou uma imposição externa -, mas de viver com mais leveza, aceitando que nem sempre será possível fazer o ideal.
Este artigo foi publicado na edição de Outubro (nº. 166) da Human Resources, nas bancas.
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