
Nuno Costal, NTT Data: «O próximo estágio é uma força de trabalho digital»
Para Nuno Costal, Principal director da NTT Data, 2025 será um ano de mudança e é fulcral olhar para o futuro do trabalho com uma nova mentalidade e definir uma estratégia de IA, foi o desafio deixado na 29ª conferência Human Resources, que aconteceu ontem no Museu do Oriente.
Com o tema “Rising together: shaping a future where human potential isn’t limited by time, task or knowledge”, Nuno Costal, responsável pela área de estratégica tecnológica da NTT Data, começou por levar os presentes numa viagem ao passado, ao momento em que, enquanto crescia, havia promessa de um mundo cheio de tecnologia.
«Já comecei a trabalhar num mundo recheado de tecnologia», com desktop, internet, reuniões por chamadas telefónicas, sms e apresentações em powerpoint. E à medida que foi crescendo como profissional, a tecnologia também foi evoluindo. «Neste momento, consigo trabalhar e aceder a informação em todo o lado», com cloud, laptop, e-mails no smartphone, entre outras ferramentas.
Ainda que esse crescimento tenha sido gradual, Nuno Costal salientou que não mudou de forma estruturante o seu trabalho e a natureza do seu trabalho. «Tornou-me mais eficiente e dotou-me de um conjunto de ferramentas que utilizo no dia-a-dia para ser de facto mais eficiente», porém confessou que «sabe a pouco». «Prometeram um mundo em que a tecnologia estava em todo o lado», com carros voadores, viagens espaciais e uma integração homem-máquina perfeitamente residente, «desde a nossa vida pessoal à profissional, em que interagíamos com as máquinas e as máquinas interagiam connosco para nos tornar melhores». E considera que essas promessas estão um pouco adiadas, porque já passaram mais de duas décadas e sente que «ainda vivemos no mesmo espaço e no mesmo momento».
Contudo, «parece que 2025 é o ano em que uma destas promessas vai finalmente começar a ser entregue», revelou. Seja nas empresas, em casa, nos jornais ou na internet, a conversa que está sempre presente é sobre inteligência artificial. «E este vento da mudança está dentro das grandes organizações do mundo», garantiu, partilhando dados de um estudo da NTT Data, que mostra que dos mais de mais de 2300 decisores e C-level inquiridos a nível global, «apenas 1% acredita que isto é uma moda. Os restantes sabem que veio para ficar».
Referiu ainda que 97% dos CEO esperam um impacto material e substancial na implementação destas tecnologias e 99% das organizações investiram mais do que tinham planeado na sua adopção. Por isso, Nuno Costal defende que «a hora de experimentar com a IA acabou» e chegou o momento de a «adoptar de forma massiva dentro das organizações».
Aliás, o aumento do investimento também incrementa as expectativas e «70% dos CEO espera, de facto, uma transformação significativa já em 2025», 54% em Portugal, acrescentando o «sentido de urgência de andarmos ao mesmo passo e ao mesmo caminho do resto das empresas mundiais».
Outra expectativa são os benefícios da IA para o ser humano. «E a grande expectativa que todos temos é sermos aumentados como seres humanos e termos um futuro onde, no contexto profissional, coexistimos de forma perfeitamente integrada.»
Desde a elevada eficácia e optimização dos processos de trabalho à eliminação de tarefas rotineiras e repetitivas do dia-a-dia, espera-se que a produtividade individual seja aumentada através do acesso a um conjunto de assistentes e de mais informação ao dispor, mas também maior eficiência na tomada de decisões.
Também é expectativa que, enquanto colaboradores, a ligação à organização seja mais simples e que a forma como os «seres humanos de carbono» colaboram uns com os outros seja melhorada pela IA.
Para tudo isto, «há uma coisa clara. São precisas duas entidades para dançar este tango: nós e a tecnologia», garantiu Nuno Costal. Por isso, acredita que o próximo estágio é «uma força de trabalho digital». E dá um vislumbre de como poderá ser o ambiente de trabalho de um colaborador daqui a dois anos. Além dos «colegas de carbono normais», irá trabalhar com «colegas digitais – Agentic AI -, como por exemplo Helena, uma junior researcher, Alissa, uma Data scientist, Leonardo, o assistente comercial, e até um chefe de gabinete, que permitirá comunicar com o resto da organização.
Para operar nesse ambiente de trabalho, será necessário um conjunto especial de competências, referiu. «Precisamos de competências de liderança e priorização; competências de espírito crítico e resolução de problemas; competências de adaptabilidade e flexibilidade; e competências de comunicação e colaboração.»
Ainda que, para Nuno Costal, este conjunto de skills não tenha nada de especial e é o que tem vindo a ser trabalhado e desenvolvido pelas organizações junto dos seus colaboradores, será necessário que esse processo «seja muito mais rápido nos próximos anos e que, dentro de pouco tempo, estas competências já estejam activas nas pessoas para conseguirmos tirar, de facto, o partido certo da tecnologia». Sobre este tema, deixou mais um alerta no sentido de urgência: «neste momento, 67% dos decisores não consideram que as suas pessoas tenham as skills necessárias para lidar com este novo mundo. O número cresce para 87% em Portugal.»
Assim deixou um desafio de olhar para dentro das organizações «e começar a olhar para o futuro do trabalho com uma nova mentalidade», pois novas estratégias são precisas, especialmente a definição de uma estratégia de IA. «Porque sem considerar que, no centro de uma estratégia de IA está também uma estratégia de gestão de talentos e de gestão de força de trabalho, então dificilmente vamos conseguir cumprir com as expectativas criadas.»