O futuro do trabalho começa agora: Estamos prontos?

Foi este o mote para a conferência promovida pela Abreu Advogados, em parceria com a Human Resources, que reuniu diversos especialistas para analisar como mudou a forma como trabalhamos, que novos paradigmas estão a surgir e como estão as empresas a dar resposta aos novos desafios.

 

Por Sandra M. Pinto

 

A conferência “O futuro do trabalho começa agora: estamos prontos?”, que decorreu no passado mês de Setembro, no auditório da Abreu Advogados, em Lisboa, teve início com a intervenção de Inês Sequeira Mendes, managing partner da sociedade de advogados, que começou por explicar o porquê da escolha deste tema: «A pandemia deixou-nos como herança estes novos paradigmas no universo do trabalho, sendo um tema transversal a todos os sectores, que deve ser debatido por todos.»

A responsável constatou que «o último ano mudou profundamente a forma como trabalhamos e como nos relacionamos no nosso ambiente laboral, visto que agora nos deparamos com novos modelos de trabalho, novas realidades e, sobretudo, inúmeros novos desafios». Assim, importa analisar essas mudanças e perceber até que ponto «estamos todos nós, empresas e sociedade civil, preparados ou não para enfrentar estes novos desafios». Foi a essa pergunta que se procurou dar resposta nos dois painéis de debate que se seguiram, ambos moderados por Ana Leonor Martins, directora de redacção da Human Resources Portugal.

 

O que as empresas pensam fazer
Antes do início do debate, Rodrigo Simões de Almeida, CEO da Mercer, apresentou um estudo que serviu como enquadramento e ponto de partida para os temas a discutir, começando por reconhecer que os desafios são enormes e que, para os ultrapassar, é preciso o alinhamento entre todos. Mas, e ainda que seja inquestionável que a pandemia veio acelerar o trabalho flexível, esta é uma tendência que já se vinha a verificar.

De acordo com o estudo “Flexible Work”, da Mercer, «a implementação do trabalho flexível está no top 3 das preocupações dos gestores que percebem que têm de implementar este novo modelo de trabalho de uma forma que seja satisfatória tanto para empresas quanto para colaboradores», revela, concretizando: «33% das empresas ponderam manter o trabalho remoto e 75% optam por um modelo híbrido.»

Um dos factores que leva à não adopção do remoto na totalidade está relacionado com a capacidade de manter a cultura da empresa e com a organização do trabalho. «A produtividade manteve- -se, no entanto, a capacidade de inovar das equipas não é tão grande quando estamos em regime totalmente remoto», constata Rodrigo Simões de Almeida. Por outro lado, ainda «há muito controle dos colaboradores por parte dos líderes, o que também impede que haja um maior número de profissionais em teletrabalho». É preciso criar e fomentar uma cultura de responsabilização, «que consiga trazer um maior crescimento individual dos colaboradores e das próprias equipas», defende.

No que diz respeito ao horário flexível, 71% das empresas ponderam mantê- lo, sendo que o especialista assinala um incremento do trabalho em part-time, «um modelo que ajuda a resolver momentos de crise no emprego». O estudo reflecte ainda outra evidência: o facto de o trabalho freelance já fazer parte da rotina das nossas empresas, «e vai acontecer cada vez mais, ao mesmo tempo que, dentro das próprias equipas, os colaboradores puderem rodar entre diferentes funções».

Sendo o trabalho flexível assumido pela maioria das empresas, importa também decidir em que moldes ele se vai efectivar. Para 77% das empresas, terá cariz voluntário para os trabalhadores elegíveis, 30% referem que vão permitir que os colaboradores trabalhem a partir de qualquer lugar, e 75% das organizações estão a promover uma evolução cultural que seja mais favorável à adopção de modelos de trabalho flexível.

«Espera-se que ao longo dos próximos anos sejam implementadas algumas alterações nos escritórios, preparando os espaços de trabalho para as diferentes modalidades de trabalho flexível, de forma torná-los mais eficazes», acrescenta o CEO da Mercer. O estudo corrobora isso mesmo, demonstrando que 46% das organizações planeiam fazer alterações nos escritórios nos próximos cinco anos. «As alterações mais frequentes são a diminuição do tamanho do edifício e dos espaços, a diminuição dos gabinetes individuais e a transição para espaços mais colaborativos», concretiza, assinalando no entanto que «modelos one size fits all não são sustentáveis».

Rodrigo Simões de Almeida defende que vai ser preciso responder a uma série de questões para que se possa adaptar o modelo mais conveniente e acertado, como quais são os critérios e que funções são elegíveis para o trabalho flexível; com que frequência se pode trabalhar de forma flexível e quais as orientações a nível do horário; a partir de que local se pode trabalhar de forma flexível; de que forma devem ser implementados e geridos os modelos de trabalho flexível; e se existem tarefas específicas que precisam de ser realizadas num determinado local ou horário. «Está nas nossas mãos implementar uma política de trabalho flexível que seja benéfica para todos, empresas e colaboradores.»

 

Leia o artigo na íntegra na edição de Outubro (nº.130) da Human Resources, nas bancas.

Caso prefira comprar online, pode comprar a versão em papel ou a versão digital.

Ler Mais