O que os dados nos dizem do mercado de trabalho: Flexibilidade e segurança em destaque

Qual a importância dos dados e o que revelam estes sobre o mercado de trabalho? No Workmonitor da Randstad, há um tema que se destaca, o da flexibilidade. Mas a par com a necessidade de segurança. Inês de Castro (Worten), Tiago Borges (Mercer) e David Ferreira (Randstad) comentam estes e outros temas, no segundo episódio das HR Talks.

 

Inês de Castro é directora de Human Resources (RH) da Worten, Tiago Borges Business leader da Mercer, e David Ferreira director de Staffing e Inhouse da Randstad Portugal. E foi pela Inês que a moderadora da conversa, Ana Leonor Martins, directora de redacção da Human Resources, começou, questionando sobre o papel que os dados desempenham na definição de prioridades e políticas a adoptar.

Na Worten, as decisões tomadas e a definição de prioridades são, «sem dúvida, baseadas em dados, não só no que respeita ao negócio, mas também às pessoas», garante a directora de Recursos Humanos. «Temos uma equipa de analistas dedicada apenas ao tema de People, e isso alavanca muito a nossa capacidade na tomada de decisões de uma forma muito mais rigorosa. Todas as alterações de processos, novas iniciativas, passam pelo escrutínio de dados.» A utilização de dados como ferramenta de avaliação e implementação de boas práticas é já um procedimento habitual da marca na gestão de Recursos Humanos. «Já ninguém “fala” sem dados, porque estamos muito habituados a ter este acompanhamento.»

Afirmando que esta recolha de informação é cada vez mais habitual nas empresas para alavancar processos e políticas de RH, Tiago Borges reforçou que, actualmente, «não se pode trabalhar em clima organizacional e engagement sem uma análise, cada vez mais aprofundada, dos dados». Mais, o Business leader da Mercer acredita que os dados são usados pelas empresas em cada vez mais vertentes, como por exemplo a nível do desenvolvimento do conhecimento no que toca ao mapeamento de competências e de colmatar as lacunas daquilo que se tem e do que é necessário, para além de temáticas que estão na ordem do dia «como os da diversidade e da equidade de pagamento, focado no género, que são temas para os quais, para haver um diagnóstico correcto das iniquidades, não nos podemos ficar apenas pelas percepções».

Na Randstad, promovem-se diversos estudos no sentido de recolher dados, não só para perceber tendências como para servir de barómetro para a realidade das empresas. Os resultados são evidentes, constata David Ferreira: «As organizações que tomam decisões através do data analytics têm resultados financeiros e de inovação muito superiores a todas as outras, conseguindo estar 20% acima da sua concorrência.» E isso dever-se-á ao facto de terem melhor percepção do mercado e de mais facilmente poderem dar resposta às expectativas dos profissionais.

 

Flexibilidade como palavra de ordem
Os dados mais recentes do Randstad Workmonitor para Portugal revelam que mais de 35% dos inquiridos deixou um emprego por não ser possível conciliar com a vida pessoal. Só depois surge a falta de oportunidades de progressão de carreira (34%) e o ser um local de trabalho tóxico (33%). Estes resultados não espantam o director de Staffing e Inhouse da Randstad, que faz notar que, nos últimos anos, se tem registado uma crescente evolução da importância do work-life balance. «Está no top 5 daquilo que são os elementos mais importantes nas tomadas de decisão, pois é cada vez mais valorizado pelos profissionais, como forma de assegurar o bem-estar tanto pessoal como profissional.» Concretizou: «Há dois elementos fundamentais para os profissionais, a flexibilidade no que toca a horários e local de trabalho, de forma a melhor conciliar com a esfera familiar e, em segundo, uma atmosfera saudável no trabalho «cada vez mais valorizadas pelos profissionais.»

Inês de Castro reiterou a importância da flexibilidade no que diz respeito ao modelo de trabalho (home/office), partilhando que os colaboradores da Worten encontraram o equilíbrio ideal no regime híbrido de três dias em casa e dois no office. Ressalvou, no entanto, que «não é só a questão do modelo de trabalho adoptado que é relevante neste contexto de flexibilidade no trabalho». Há outras formas de promover a flexibilidade. Deu alguns exemplos: «Em 2019, ainda antes da pandemia, a Worten lançou alguns programas, como por exemplo o “yourtime” e o “flexiwork”, em que os colaboradores podem, cumprindo as oito horas de trabalho, adaptar o seu horário. Depois, existe também a possibilidade de redução de horário durante um período, por algum motivo de que o profissional necessite; a oportunidade de ter mais cinco dias extra de férias, e, ainda, de tirar licenças sem vencimento.»

Ainda segundo o referido estudo, no que concerne às expectativas em relação à entidade empregadora perante o actual panorama económico, a flexibilidade surge acima da temática salarial, com uma taxa de 91% dos profissionais a destacarem a importância da mesma em detrimento da remuneração. O aumento salarial mensal de apoio ao acréscimo do custo de vida é referido por 52%. Para Tiago Borges, estes dados são um claro indicador da importância da flexibilização das empresas no que toca aos modelos e horários de trabalho. E revela que «nas entrevistas de emprego, a primeira pergunta feita pelos candidatos é, muitas vezes, o modelo de trabalho seguido pela empresa».

Não descurar a estabilidade nem a formação O survey da Randstad destaca outra variável importante para os profissionais, a estabilidade económica e laboral. Mais de 48% dos inquiridos admite a preocupação em perder o emprego (mais do que a média global – 37%), enquanto 95% dá importância à segurança no emprego e 64% está preocupado com o impacto da incerteza económica actual na estabilidade do seu posto de trabalho. E isto não é contraditório com a necessidade de flexibilidade. O Business leader da Mercer defende que a flexibilidade, sem dúvida na ordem do dia nas organizações, pode ser complementar à segurança. Reflectindo sobre a experiência da empresa que representa, contou que o conceito que têm trabalhado é o do «working partnership, no sentido que, cada vez mais, os colaboradores não querem trabalhar para a empresa, mas com a empresa. É óbvio que a flexibilidade é importante, mas, por outro lado, também é legítimo quererem trabalhar com empresas que tenham uma responsabilidade social, por exemplo na forma como olham para o planeamento dos recursos», salientou.

Consciente de que a situação macroeconómica actual é complexa e que tem contribuído para a importância dada à estabilidade, David Ferreira reforça a importância da formação dos profissionais. «Apostar no reskilling e no upskilling das pessoas que têm mais idade ou mais senioridade nas organizações pode ser um factor decisivo na retenção ou até na captura de talento, e, assim, as pessoas ficam mais seguras no desempenho das suas funções.»

 

Este artigo foi publicado na edição de Março (nº. 147) da Human Resources, nas bancas. 

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