O que podemos aprender com a inovação social?

Por Carlos Sezões, Managing Partner da Darefy – Leadership & Change Builders

Há anos que me interesso pela inovação e empreendedorismo social. Clarificando os conceitos, falamos de projectos que procuram soluções inovadoras, eficazes e sustentáveis para problemas importantes e complexos, muitas vezes menosprezados, de uma sociedade. Dimensões como educação, inserção profissional, formação ao longo da vida, combate à exclusão social, saúde e envelhecimento activo, sustentabilidade ambiental e economia circular são alguns exemplos mais emblemáticos. Projectos desta natureza, promovidos por associações, ONG’s, instituições de solidariedade social e mesmos startups, guiam-se pelo impacto social que procuram gerar – daí a designar-se a esta nova realidade como “economia de impacto”. Tanto podem ser projectos de âmbito nacional ou mesmo transnacional (como a assistência médica ou a ajuda ao desenvolvimento em países do ainda designado “terceiro mundo”) como iniciativas comunitárias, à escala de um bairro ou de uma pequena localidade (por exemplo, o empreendedorismo sénior com base em actividades culturais ou o combate à toxicodependência e apoio à inserção social de uma comunidade desfavorecida).
Apesar de alguma ambiguidade nas classificações e respectivos dados estatísticos, uma coisa é evidente: trata-se de uma dimensão que cada vez agrega mais pessoas (sejam vínculos profissionais ou voluntários) e gera cada vez mais valor (social e mesmo financeiro).
Tenho acompanhado esta realidade em termos de cidadania e participação cívica (agendas para o País) e de participação em programas coaching/ mentoring, com vista a capacitar gestores e líderes de projectos inovadores – tentando apoiar o seu crescimento e escalabilidade.
De uma coisa estou desde já certo: o mundo corporate (empresarial) terá muito a aprender com o mundo da inovação social. Como os seus líderes, os seus processos de gestão, a sua criatividade e a forma de chegar aos resultados. Explicito algumas destas dimensões:

  • Gestão de recursos

Os projectos de inovação social, especialmente numa fase early-stage (ou se começam numa escala reduzida), são por natureza criativos e optimizadores dos (poucos) recursos necessários para começar a trabalhar e ter impacto. Os chamados “underused resources” da sociedade são aqui críticos: espaços disponíveis (ex. uma unidade industrial ou armazém abandonado) ou tempo livre (ex. profissionais séniores, com tempo livre e vontade de ajudar) são exemplos paradigmáticos.

  • Lideranças motivacionais e transformacionais

Líderes de projectos de inovação social raramente têm como proposta de valor para as suas equipas uma “remuneração premium”. Como tal, focam-se na missão, na visão de na promessa de transformação de determinada dimensão da sociedade… em último caso, transformar vidas! E esse é o seu maior triunfo para alinhar e mobilizar as suas pessoas, profissionais ou voluntárias.

  • Experimentação e gestão da inovação

Nos projectos de inovação social, de impacto comunitário, não existem na maioria das vezes “roteiros” ou planos já escritos. Muito do que se faz é numa base de tentativa-erro. Como tal, o uso de ferramentas experienciais de ideação e prototipagem (ex. design thinking) torna estes projectos ágeis, rápidos e adaptáveis às mudanças das comunidades e problemas sociais que pretendem transformar.

  • Foco no impacto

 Esta é para mim, uma lição essencial.  Como em todos os sistemas sociais (e nas empresas, claro), existirão equilíbrios, expectativas e conflitos internos a gerir (as internal politics) mas aqui os impactos sociais são uma dimensão mais visível, que mobiliza e alinha as vontades. Exemplos de projectos concretos: quantos estudantes estamos a recuperar, quantas pessoas estamos a retirar da exclusão social e a reinserir no mercado de trabalho, quantos projectos de empreendedorismo sénior estamos a gerar por ano ou qual o nível de adesão de uma comunidade a um novo projecto de revitalização cultural. No âmbito do seu negócio, e também nos novos imperativos de ESG (environmental, social and governance) as organizações empresariais teriam muito a aprender neste foco no impacto.
Em suma, a minha humilde sugestão a todos os líderes empresariais é simples: seja como investidores, sponsors ou mentores, empenhem-se na inovação social. É gratificante nos resultados e uma fantástica fonte de aprendizagens.

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