O segredo do sucesso da Academia de Data Science do Banco de Portugal está na multidisciplinaridade, revela Cristina Castro

No painel de abertura da segunda parte da XXVII Conferência da Human Resources Portugal, o destaque foi a Academia de Data Science do Banco de Portugal, que prima «pela multidisciplinaridade e rápida capacitação dos colaboradores», revela a sua responsável Cristina Castro.

Fotos: NC Produções

 

Data Science foi o tema principal do painel de abertura da segunda parte da XXVII Conferência da Human Resources Portugal – «Academia de Data Science Banco de Portugal – Um exemplo de Upskilling». Com a responsabilidade de apresentar este painel, Cristina Castro, head da BdP Academia e responsável pela Escola de Data Science do Banco de Portugal, começa por referir que «a multidisciplinaridade é a chave para o sucesso desta escola».

Fundada em Junho de 2020, esta instituição foi criada a partir de uma necessidade detectada pelo Modelo de Gestão Integrada da Informação. Na altura, o objectivo do Banco de Portugal «foi atender à crescente e contínua necessidade de especialização por parte dos profissionais» na actividade de recolha, tratamento, exploração, análise e comunicação de dados.

«Percebeu-se que havia uma necessidade de fazer um upskilling e reskilling de pessoas que tinham de lidar com ferramentas de dados muito mais sofisticadas, para conseguirem lidar com a massa de dados que é recebida mensalmente através de várias instituições», acrescenta a oradora.

Factores para o sucesso

Além da multidisciplinaridade, o Banco de Portugal entendeu que era urgente «uma capacitação rápida e eficiente» dos colaboradores para uma formação intensiva em data-driven. «Temos 1600 pessoas e dar formação a tantas não é fácil. Precisávamos de chegar a muitas pessoas rapidamente e com um grande nível de qualidade», partilha a responsável.

Por este motivo, a academia comprometeu-se a «capacitar analistas de negócio para integrarem projectos de forma autónoma, numa relação win-win com data-analysts e data-scientists». Além disso, também se propôs «a fazer um upskilling dos profissionais já especializados na área e dos profissionais de Informação e Tecnologia».

Paralelamente, Cristina Castro explicou que o Banco de Portugal precisava de uma relação sustentável entre custo e benefício. «Queríamos que fosse possível fazer percursos individualizados e construídos sob medida, mas para fazer uma conversão em massa e mudar uma cultura é preciso uma relação de custo-benefício sustentável», reconheceu. Embora os custos estejam sob controlo, com o investimento a beneficiar o maior número possível de trabalhadores, «existe flexibilidade na escolha de cursos em universidades de renome, empresas de tecnologia de referência e experts nas suas áreas de conhecimento», alerta.

Esta escola está também assente num «project-based learning», em que os cursos são destinados a todos os trabalhadores do banco que necessitam de competências, sendo que o grau de necessidades é definido de acordo com as funções que desempenham. «Não queríamos que entrassem na escola por entrar, queríamos que viessem aprender para aplicarem nos seus projectos e no seu dia-a-dia», realça a oradora.

Foi com base nestes factores críticos que a BdP Academia disponibilizou a plataforma MOOC, que oferece uma multiplicidade de cursos online. «As pessoas têm imensa flexibilidade, podem fazer o self based learning de uma forma extremamente flexível e com momentos de aprendizagem ao longo do dia», afirma.

A responsável pela Escola de Data Science do Banco de Portugal menciona ainda que a instituição «dá a possibilidade aos colaboradores de escolher os seus cursos», embora sejam colocados prazos de três meses para as licenças de utilização das plataformas da academia. «Não queríamos ver licenças paradas. Queríamos licenças vivas, activas e a serem utilizadas. Queríamos pessoas que fizessem cursos e aplicassem esse conhecimento», justifica.

Percursos de formação

De acordo com Cristina Castro, os percursos de formação foram construídos e alinhados, desde o início, com a arquitectura de dados do Banco. Foi, inclusive, criada uma plataforma de cálculo «para dar apoio não só aos colaboradores do Banco de Portugal, que frequentam a Escola de Data Science, mas também aos profissionais que já saíram da instituição e precisam de continuar a aplicar este conhecimento».

A BdP Academiar criou uma Comissão de Curadoria, que integra o grupo de trabalho de data science, para actuar na orientação estratégica e composição dos percursos dos colaboradores. A profissional revela que começou por existir apenas «seis percursos de lançamento» e só mais tarde é que passou para «nove percursos de formação, com destaque para a integração de cursos e formações para iniciantes».

Assessment de necessidades

Para conseguir formar e capacitar todas as pessoas dentro da organização, a responsável defende que, em qualquer empresa, o assessment de necessidades é fundamental. «Se o assessment de necessidades não for bem feito, o projecto não chega a ser concluído», sublinha. Logo de seguida, justifica a sua afirmação: «é o assessment de necessidades que nos permite escolher as pessoas certas para a utilização de licenças, que são renovadas trimestralmente».

Ainda sobre o assessment, a oradora destaca a importância da «interacção com os departamentos», justamente para perceber quais os colaboradores que necessitam de upskilling ou reskilling. «Ou seja, no fundo, o assessment é fundamental para garantir que a empresa tem casos de sucesso», reforça. À interrogação sobre se todos os colaboradores conseguem acompanhar um curso virtual e concluir com sucesso, Cristina Castro é peremptória ao responder negativamente. Contudo, deixa claro que procuram criar soluções mais práticas, como a DATA.go – «uma rede de partilha de conhecimento e troca de informação, sobre várias questões relacionadas com data science».

«A DATA.go está estruturada e pode ser acedida através de um canal no Microsoft Teams», revela. Esta comunidade possui especialistas que auxiliam iniciantes com ficas e orientações, além de realizar tutorias com profissionais que revelem maior dificuldade para acompanhar os cursos em formato MOOC. Esta plataforma serve também para esclarecer dúvidas sobre códigos ou cálculos.

A responsável enaltece que «todo este caminho colocou o Banco de Portugal no caminho do data-driven», referindo, logo de seguida, que o seu modelo de trabalho «tem sido partilhado e implementado pelo Banco Central Europeu». A título de curiosidade, revela que o máximo de horas de formação da comunidade DATA.go foi de 24 horas consecutivas no Datathon 2022, com mais de 50 pessoas, divididas por 12 equipas, que se comprometeram a encontrar soluções analíticas interessantes para a base de dados.

Por último, a oradora revela alguns números sobre a Escola de Data Science do Banco de Portugal, como, por exemplo, terem sido leccionadas mais de 17.855 horas de formação. «Temos quase 600 alunos activos, existem 19 departamentos, mais de 1400 cursos concluídos e uma média de 30 horas de estudo por aluno», sublinha.

Em jeito de conclusão, a oradora congratula-se pelo projecto criado pelo Banco de Portugal: «é um projecto de sucesso, que nos faz muito felizes e que este ano vai ser celebrado com mais um Datathon, que vai acontecer nos dias 13 e 14 de Novembro».

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