Opto por não ser feliz todos os dias.

Por Joana Russinho, People Enthusiast, head of Human Resources e autora de “Eu e os Meus rh

Confesso que me começo a sentir pressionada (para não dizer irritada) por este autoritarismo quanto ao dever de “ser feliz sempre e para sempre”.
Talks motivacionais; vídeos “tu consegues”; case studies de sucesso; redes sociais infestadas de positividade; livros para todos os feitios invadem este mercado de felicidade onde pseudo-doutorados na matéria, leia-se oradores motivacionais, coaches; mentores, influencers, youtubers e autores de livros de autoajuda prescrevem as suas receitas.
O que se passa? O que está por detrás deste consumismo desmesurado que promete o alcance de um estado de suposta plena funcionalidade?
O psiquiatra Sigmund Freud defendia que todo indivíduo é movido pela busca da felicidade, mas essa busca seria uma coisa utópica, uma vez que para ela existir, não poderia depender do mundo real, onde a pessoa pode ter experiências como o fracasso, portanto, o máximo que o ser humano poderia conseguir, seria uma felicidade parcial. Ora, concordando com este ponto de vista, não gosto desta certeza que me tentam vender baseada na pressuposta assunção de que a felicidade é um objetivo para o qual tenho que trabalhar diariamente, mesmo que esteja doente e sem médico de família, que tenha o dinheiro contado para chegar ao final do mês, que os meus filhos estejam sem professores, ou simplesmente quando não me apetece sorrir para a fotografia.
Não consigo nem quero entrar em competição comigo mesma e com a sociedade para “ser feliz” todos os dias – não é esse o meu entendimento da vida. Também não quero ser perfeita, nem estressar constantemente com exercícios de autoaperfeiçoamento que me dizem ter de desenvolver de forma constante: exercícios para a saúde física, outros para a saúde mental, os que regulam a alimentação, as técnicas de mindfulness etc. etc. etc.. Chega!
Quero acomodar as emoções e lidar com elas conforme me fizer sentido. Quero ter opção de escolha no que se refere aos meus sentimentos. Quero ter um percurso de vida com altos e baixos, mas que seja gratificante. Posso? Não gosto de fazer exercício, adoro cerveja e chocolate, sou geralmente bem disposta, mas choro quando tenho vontade e não controlo a respiração se estiver a soluçar. Também não exercito a mente para passar para outro plano, prefiro ler. Posso? Ao fim de semana não me maquilho e opto pela praticidade. Se estou triste prefiro estar só comigo mesma e que me deixem em paz ao invés de inventar programas para me distrair. Posso? Ou vou ter menos amigos, seguidores e leitores por estas opções? Que seja.
Não conseguimos chegar a todo o lado, pelo menos eu sei que não consigo, sejamos por isso criteriosos no que deixamos que nos indiquem o que é o “óptimo”. Até porque muitas vezes o “bom” é suficiente. Por outro lado, não vivemos tempos fáceis, sendo presas apetecíveis para soluções instantâneas que prometem resolver todos os nossos problemas. Na dúvida, questionem-se. As ditaduras e as tendências podem ser perigosas.
Sim eu posso responder à pergunta: “Está tudo bem? – Mais ou menos”. Não, não é uma característica dos Portugueses, se não está tudo bem, não está! E está tudo bem em admitir que nem tudo vai bem!
Podemos ser um pouco menos politicamente corretos quando de facto não gostamos de algo? Quando não nos faz sentido #sergrato por mais um desaire que poderia ter sido pior?
E que tal ser apenas humano, com todas as nossas fragilidades, energia, tristeza, alegria, frustração, e tudo o que vocês lhe queiram acrescentar! Eu opto por esta via a não a de querer, só porque me mandam, ser feliz todos os dias.
#nãoàfelicidadeimposta