Os seus colegas são competentes ou incompetentes?

Certa vez li uma história sobre a conversa entre um pai e uma filha, que vou reproduzi-la aqui.

Por André Rosa, consultor e formador em Liderança / mestre em Gestão de Recursos Humanos

 

Um dia, a filha, procurou o pai e fez-lhe uma pergunta interessante: “Pai, porque é que as coisas ficam desarrumadas com tanta facilidade?”.

Ele perguntou-lhe: “O que queres dizer com desarrumadas, filha?”. Ela respondeu: “Sabes como é, pai. Quando as coisas não são perfeitas. Olha para a minha secretária agora. Está cheia de coisas. Desarrumada. E ontem à noite eu esforcei-me ao máximo para deixar tudo perfeito. Mas as coisas não permanecem perfeitas. Ficam desarrumadas tão facilmente!”.

O pai perguntou então à filha: “Mostra-me como é quando as coisas são perfeitas”. Ela arrumou tudo no lugar designado e depois disse: “Pronto, agora ficou perfeito. Mas não vai continuar assim”. O pai volta a perguntar: “E se eu mover esta lata de tinta para cá, cerca de um palmo? O que acontece?”. “Fica desarrumado. Além disso tinha de estar direita e não torta, como tu deixaste”. Então o pai pergunta: “E se eu movesse este lápis para cá?”. “Está desarrumado outra vez”, respondeu a filha. “E se eu deixasse o livro aberto?”, continuou o pai. “Também estava desarrumado!”

Foi então que o pai disse à filha. “Querida, não é que as coisas fiquem desarrumadas com mais facilidade. Tu simplesmente tens mais meios para desarrumar as coisas, e só tens um para deixar tudo perfeito”.

O que nos ensina esta história? Que precisamos de nos conhecer. Para liderar de forma eficaz, o líder precisa de conhecer as suas zonas cegas. Este é o poder do autoconhecimento! Enquanto esta filha não se deparar com o facto de que tem apenas uma forma para considerar que tem as coisas “perfeitas” e que tem vários meios para ter tudo desarrumado, ela vai continuar a viver uma vida onde se sentirá mais vezes mal do que bem.

Na liderança, com as equipas, com os colegas de trabalho passa-se exatamente a mesma coisa! Todos temos mais formas de ver as coisas “desarrumadas” do que “perfeitas”. Será que os nossos colegas são assim tão incompetentes ou será que nós temos mais meios para os acharmos incompetentes do que competentes? O que tem de acontecer para um colega ser considerado competente? E para ser considerado incompetente?

Se responder a estas perguntas, vai ver que as suas respostas vão-lhe mostrar que é muito mais fácil considerar alguém incompetente do que competente, devido às regras que definiu para considerar alguém competente ou alguém incompetente. E para si, o que tem de acontecer para se achar competente? E para se achar incompetente? Verá que é assustador, segundo as suas regras, a facilidade que é ser incompetente e a dificuldade que é para se ser competente!

A maioria das pessoas cria numerosos meios para se sentir mal e apenas uns poucos para se sentir realmente bem. Mas por que fazem isso? Fazem-no porque nem sabem que o estão a fazer. Estão “inconscientes” delas próprias.

É por esse motivo que o autoconhecimento tem um papel fundamental na vida de todos nós! Para além de nos permitir conhecermo-nos melhor, ajuda a conhecer os outros de uma forma completamente nova. O autoconhecimento permite observar o mundo não apenas com os nossos próprios olhos, mas também através dos olhos das outras pessoas!

E quando começamos a despertar, quando começamos a entender que tudo aquilo que acontece é nada mais nada menos do que o resultado daquilo que são as nossas representações internas (experiências passadas, crenças, valores, convicções, identidade, regras e até mesmo a nossa missão) começamos a ter mais paciência, compaixão, empatia, escutamos com mais atenção e conseguimos liderar e inspirar como antes não conseguíamos.

O autoconhecimento permite expandir a nossa mente e, através dessa expansão, permite-nos compreender melhor os outros. E o que há de melhor do que conseguir compreender os outros? Parece que as relações mudam, parece que o seu bem-estar muda. E por que digo parece? Digo parece porque o que muda é a percepção que tem sobre as coisas que muda.

Há uma frase do Henry Thoreau que reflecte esta mensagem: “As coisas não mudam, nós mudamos”. Os seus colegas não vão mudar, a percepção que tem sobre elas sim. Os seus relacionamentos não vão mudar, a percepção que tem sobre eles sim. O seu chefe não vai mudar, a percepção que tem sobre ele sim. Os seus subordinados não vão mudar, a percepção que tem sobre eles sim. E no final, como que por magia, vai dizer «Eles mudaram». Mas quem mudou foi você. Os seus colegas são competentes ou incompetentes?

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