Pandemia provoca queda de produtividade e horas trabalhadas dos portugueses

A produtividade horária dos trabalhadores portugueses, medida através do produto interno bruto (PIB) real por hora trabalhada, sofreu uma quebra de quase 3% no último trimestre de 2020, a maior descida de que há registo nas séries do Instituto Nacional de Estatística (INE), que remontam a 1996, adianta o Dinheiro Vivo.

 

É preciso recuar ao tempo da troika (ao primeiro trimestre de 2014), uma época de enorme destruição de emprego, de valor na economia e de desemprego historicamente elevado, para encontrar a segunda pior marca nesta medida da produtividade aparente do trabalho, indicam cálculos do Dinheiro Vivo com recurso aos dados do INE.

O ano de 2020 foi marcado por uma das recessões mais violentas da história moderna portuguesa, tendo marcado de forma muito pronunciada o segundo trimestre do ano passado, quando chegou a economia e foi imposto o primeiro confinamento geral.

Segundo a publicação, para evitar uma grave crise social, os países um pouco por todo o mundo desenvolvido avançaram com apoios ao emprego sem precedentes, designadamente um subsídio para as empresas poderem reduzir a factura com salários e os horários de trabalho, sem terem de despedir.

Em Portugal, quase 900 mil trabalhadores foram afectados pelo lay-off, o que significa que, ou pararam de trabalhar (suspensão de contrato, embora sem perder o emprego) ou tiveram de reduzir o número de horas trabalhadas.

De acordo com o INE, nesse segundo trimestre de 2020, a quebra no PIB foi enorme, claro, na ordem dos 16%, o emprego recuou cerca de 3%, mas o número de horas trabalhadas colapsou quase 24%. Isso fez com que, momentaneamente, a produtividade subisse (quase 10%), mas neste cenário atípico.

O INE explica que «a evolução do emprego ocorreu num contexto em que foi instituído o regime simplificado de lay-off, limitando o impacto no número de trabalhadores desempregados provocado pelo encerramento de empresas, total ou parcialmente, de forma temporária” e que “consequentemente, observou-se um comportamento distinto entre o emprego medido em número de indivíduos e em número de horas trabalhadas». Este último mostrou-se muito mais volátil.

O Dinheiro Vivo revela que depois da primeira vaga da crise pandémica, a economia começou a mostrar as suas feridas mais permanentes. Muitas empresas fecharam, faliram, o desemprego começou a subir, e no final do ano, o efeito de redução de horas trabalhadas deixou de ser dominante. A quebra da economia superou o efeito das horas a menos por haver menos empregos e mais desempregados. Isso faz cair a produtividade medida em termos de horas laboradas. O impacto foi grande, o maior de que há registo.

Segundo a publicação, a riqueza produzida pela economia no quarto trimestre recuou mais de 6% face a igual período de 2019, mas o volume de horas trabalhadas, embora tenha recuado bastante, não afundou tanto. O INE diz -3,6%. Assim, a produtividade afundou 2,6% neste período em análise.

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