Paulo Jorge Silva, SIVA: Para onde caminhamos?

Paulo Jorge Silva, director de Recursos Humanos da SIVA, realça que «não aprendermos com estes eventos disruptivos que vivemos seria dramático e irresponsável». Está convencido de que «estas aprendizagens nos vão levar a outros lugares, em termos organizacionais e de Gestão de Pessoas», mas não crê que «as mudanças sejam tão radicais como alguns analistas antecipam». Leia a sua análise aos resultados do XXXIV Barómetro Human Resources.

 

«As situações críticas constituem oportunidades de aprendizagem para todos os envolvidos. Nada de novo nesta frase, nem no pensamento sistémico e positivista que a sustenta. Também com esta enorme crise pandémica que atravessamos, estamos a aprender a todos os níveis da nossa vida: pessoal, familiar, profissional, etc…

Aprender é, para mim, um evento evolutivo e de desenvolvimento e, logo, deve ser potenciado e aproveitado. Não aprendermos com estes eventos disruptivos seria dramático e irresponsável. Estou convencido de que estas aprendizagens nos vão levar a outros lugares, em termos organizacionais e de Gestão de Pessoas, mas não creio que as mudanças sejam tão radicais como alguns analistas antecipam.

Tal como os resultados apontam, novas configurações organizacionais são naturalmente previsíveis, nomeadamente no que respeita ao equilíbrio entre presença física, teletrabalho e interacção entre equipas. Esta crise permitiu testar, com sucesso, um modelo misto que derrubou alguns preconceitos quanto à produtividade das pessoas em teletrabalho. Mas nem tudo é assim tão linear, e o teletrabalho não será, na minha opinião, panaceia para as organizações e colaboradores no futuro mais próximo.

Vários estudos conduzidos durante os últimos meses apontam para a necessidade de manter/implementar momentos de convívio/interacção presencial entre colegas, devido à natureza social do ser humano, evitando-se assim a sensação de isolamento social e profissional sentidos. Sem contacto, as relações laborais tendem a tornar-se mais “frias” e menos colaborativas, aumentando, inclusive, a desconfiança e a insegurança. Mais facilmente pode perder-se o propósito do papel de cada um na organização. Perde-se igualmente acesso a uma dimensão importante na interacção e compreensão do outro (uma componente importante da inteligência emocional) – a linguagem não verbal.

Acredito que mais importante do que implementar uma forma diferente de organização do trabalho será apostar numa forma diferente de liderar e motivar pessoas nesse contexto, dando mais relevo a outras competências e enfrentando o novo cenário de outro ângulo. Reduzindo-se o contacto dos colaboradores com a empresa, é necessário apostar em iniciativas, e processos, que promovam e mantenham viva a cultura e o foco nos objectivos.

Confiança mútua, propósito e resiliência são, na minha opinião, factores fundamentais para ter sucesso em tempos conturbados como os que continuamos a viver.»

 

Este testemunho foi publicado na edição de Fevereiro (nº. 122)  da Human Resources, no âmbito da XXXIV edição do seu Barómetro.

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