Paulo Monginho, OGMA: Um desafio encarado com espírito de missão

Paulo Monginho assumiu a liderança da OGMA há pouco menos de um ano, é o primeiro português no cargo, e é com espírito de missão que o encara, numa casa onde está há mais de uma década e que conhece bem. Ambiciona, «através de uma liderança mobilizadora e motivadora, ter impacto positivo na vida profissional» de mais de 1600 pessoas, e fazer crescer uma empresa centenária.

 

Por Ana Leonor Martins | Fotos Nuno Carrancho

 

A OGMA – Indústria Aeronáutica de Portugal, S.A. é uma empresa do Grupo Embraer e assenta a sua actividade em duas grandes áreas de negócio: Serviços de MRO (manutenção, reparação e revisão geral de aeronaves de Aviação Civil e de Defesa, Motores e Componentes), que representa 70% do total do volume de negócios da empresa, e uma segunda área dedicada ao Fabrico e Montagem de Aeroestruturas, que representa os restantes 30%. Recentemente, tornou-se Centro de Manutenção Autorizado para a manutenção de motores do fabricante Pratt & Whitney, que equipam uma nova geração de aeronaves comerciais da Airbus e da Embraer. Para dar resposta a esta realidade, está a ser feito um avultado investimento, que prevê também a criação de mais de duas centenas de postos de trabalho qualificados nos próximos anos.

O discurso, entusiasmado, de Paulo Monginho tem grande foco nos resultados, mas também nas pessoas, com a consciência de que são elas o “motor” do sucesso. Identificando a formação e a requalificação como um dos grandes desafios neste âmbito, destaca outro grande projecto: a Academia Aeronáutica de Portugal, que está a ser preparada para dar resposta às necessidades da OGMA nos próximos anos, mas também para formar mão-de-obra qualificada para o cluster aeronáutico e de defesa português. Não tem dúvidas de que a indústria aeronáutica é um sector atractivo para trabalhar – e em Portugal. Tal como confia que, mesmo com 105 anos, a OGMA continua a ter uma palavra a dizer no mercado e tem o que é necessário para ser bem-sucedida: potencial, talento, experiência e conhecimento.

 

Qual a sua primeira reacção ao convite para ser CEO da OGMA, onde trabalhava há 11 anos? Essa hipótese já lhe tinha passado pela cabeça? Como encarou o desafio?
Aceitei o desafio de ser CEO da OGMA com responsabilidade, energia e humildade. Tratou-se de uma decisão do Conselho de Administração, que entendeu colocar-me este desafio único de liderar a empresa de referência na indústria aeronáutica, com mais de 100 anos de existência, que tem um legado de inestimável valor no sector e um enorme potencial para fazer ainda mais melhor.

Encaro a função de CEO não como um ponto de chegada, mas sim como uma oportunidade de, através de uma liderança mobilizadora e motivadora, ter impacto positivo na vida profissional de outras pessoas. E vi este desafio como uma oportunidade para tentar dar o meu contributo para deixar uma marca positiva, não só no presente, mas também que permita a continuidade da empresa nas próximas décadas. É uma oportunidade de fazer crescer a OGMA. Encaro este desafio com espírito de missão, com responsabilidade acrescida face às funções que desempenhei no meu percurso aqui, e com o foco em entregar resultados.

Acredito que a OGMA continua a ter uma palavra a dizer no mercado e que tem o que é necessário para ser bem-sucedida: potencial, talento, experiência e conhecimento. Enquanto líder da empresa, procuro ajudar a organização a seguir o rumo correcto para atingir a excelência.

 

O que lhe foi pedido e o que definiu como prioridades de actuação?
Em qualquer organização, a equipa executiva pretende entregar resultados aos accionistas, garantir a sustentabilidade presente e futura do negócio, e reunir os recursos humanos e materiais para responder com qualidade e no tempo certo às necessidades dos clientes. A OGMA não foge a essa realidade e, como tal, procura sempre conquistar novos negócios e continuar relações duradouras com clientes de décadas, que nos encaram como parceiros.

A equipa de gestão que lidero identificou um conjunto de prioridades estratégicas para este novo ciclo: apostar numa equipa motivada e focada no atendimento aos clientes; maior eficiência e competitividade na geração e captação de novas oportunidades de negócio; consolidação da relação com clientes já de longa data; e continuar a apostar na melhoria contínua, na excelência e no cumprimento dos melhores padrões de qualidade e segurança. A concretização destas prioridades será um trabalho de equipa, no qual todos os colaboradores da OGMA têm um papel activo e decisivo.

 

E quais têm sido as principais dificuldades… ou desafios?
É incontornável dizer que o quadro económico resultante da pandemia e agravado pela guerra na Ucrânia constituem desafios à operação. Tem-no sido em todos os sectores de actividade, a indústria aeronáutica não é excepção.

Quando falamos em sectores industriais, é necessário ter presente realidades como a escassez no mercado internacional de matérias-primas e outros materiais, necessários para a concretização de trabalhos específicos, ou disrupções nas cadeias de fornecimento e no transporte internacional. Este contexto obriga a um esforço redobrado de monitorização, de planeamento rigoroso das actividades, de flexibilidade para encontrar soluções quando surgem constrangimentos e de procurar ter uma abordagem eficiente, sempre aliada à qualidade e à segurança.

 

São desafios que se mantém…
Um ano depois, os indicadores que temos mostram que estamos a seguir o caminho certo e que, no essencial, as linhas orientadoras estratégicas delineadas se revelaram acertadas. Mas demonstram também que temos de continuar a trabalhar de forma afincadamente, que não podemos assumir nada como garantido e que só desta forma conseguiremos ser competitivos.

 

Neste quase um ano, já consegue identificar uma “grande conquista”?
Mais do que falar numa grande conquista, prefiro dizer que estamos a ter a oportunidade de desenvolver um projecto que vai, efectivamente, mudar a OGMA e fazer crescer a organização a todos os níveis, seja no alargamento das suas competências e na criação de postos de trabalho, seja na conquista de negócio e pelo seu contributo para a facturação da empresa. Falamos do importante investimento que está a ser concretizado na nossa área de Motores, fruto do facto de a OGMA se ter tornado Centro de Manutenção Autorizado para a manutenção de motores do fabricante Pratt & Whitney, que equipam uma nova geração de aeronaves comerciais da Airbus e da Embraer.

Este é um projecto muito importante, estratégico e relevante para a OGMA, que envolve um investimento de 90 milhões de euros, expande a gama de serviços de manutenção de motores da OGMA, prevê criar 200 postos de trabalho nos próximos anos, e permite à empresa ter um crescimento significativo do seu volume de negócios até 2027. É um privilégio ver este projecto evoluir diariamente e verificar que as infra-estruturas e equipamentos que estamos a preparar vão contribuir decisivamente para o futuro da organização.

 

Lembra-se da primeira decisão que tomou?
Gostaria de salientar a opção estratégica de verticalizar a organização pelas nossas áreas de negócio, agilizando processos e tornando mais claras e objectivas as áreas estratégicas nas quais nos devemos concentrar: Manutenção de Aviação Civil e de Defesa; Manutenção de Motores; e Fabrico e Montagem de Aeroestruturas.

 

Para além da aposta na área de Motores, que grandes projectos têm actualmente em curso?
Outro projecto importante é a Academia Aeronáutica de Portugal, situada nas nossas instalações, e que constitui igualmente um passo estratégico para a OGMA. A indústria aeronáutica é muito especializada e exige uma continuidade do conhecimento. Para se ter uma ideia, formar um novo Técnico de Manutenção Aeronáutica demora, pelo menos, cinco anos. É um período longo, mas é demonstrativo do conhecimento, da experiência, das certificações e do grau de exigência necessários para trabalhar nesta indústria.

Dados do sector a nível internacional estimam que, em 2041, serão necessários mais de 610 mil Técnicos de Manutenção Aeronáutica (TMA) em todo o mundo, sendo que 120 mil estarão na Europa. Estes dados dão um retrato das necessidades de colaboradores a nível global, à qual Portugal também não foge, mas são igualmente reveladores de que existe espaço para apostar na formação de TMA. É, por isso, importante destacar esta Academia, uma iniciativa que envolve a OGMA, a idD Portugal Defence, um consórcio de escolas de engenharia, e a AED Cluster, que está a ser preparada para dar resposta às necessidades da OGMA nos próximos anos, mas também para formar mão-de-obra qualificada para o cluster aeronáutico e defesa português. Em breve, serão dados a conhecer novos pormenores sobre este projecto.

 

Leia a entrevista na íntegra na edição de Outubro (nº. 154) da Human Resources, nas bancas. 

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