Pedro Ramos, TAP: Será apenas híbrido o nosso futuro? Não será também anfíbio?

 

 

Por Pedro Ramos, director de Recursos Humanos do Grupo TAP, vice-presidente da APG, presidente da DCH Portugal, membro Conselho Estratégico da ABRH Brasil e membro do Conselheiro Editorial da Human Resources Portugal

 

Muito se tem falado sobre o futuro do mundo do trabalho que será marcado pela certeza de que será verdadeiramente híbrido!

Na verdade, essa certeza advém de um ano de experiência de trabalho remoto, por oposição a um anterior contexto quase sempre presencial. Descobertos e apropriados que estão os fascínios do trabalho remoto, da utilização eficaz das tecnologias de comunicação à distância, estão agora a ser preparadas e desenhadas novas formas de organização do trabalho que permitam conciliar toda a experiência do trabalho em contexto digital e dos momentos desejados (saudades!) presenciais, onde, para além do olhar à distância, o aperto de mão, a proximidade física e social permitirão usufruir e beneficiar do melhor “dos mundos todos”!

Bem, mas quem disse que o futuro do trabalho será híbrido, apenas por passar por um misto de presencial e remoto em termos da (nova) organização do trabalho?

Na minha opinião, o futuro do trabalho será híbrido, não só fruto do resultado da dualidade presencial versus não presencial do trabalho, mas também derivado ao facto de, no futuro, o trabalho depender do resultado da interação entre pessoas Versus robots, em clara continuação do iniciado no contexto da quarta revolução industrial e que ficará marcado pela gestão de equipas mistas de pessoas e robots no qual cada um terá de “desempenhar” o seu papel, mobilizando o conjunto de competências críticas para o negócio.

Desta forma, poderemos afirmar que o (tal) futuro também será híbrido devido ao resultado de uma terceira equação: o produto da relação pragmática entre o mundo real versus mundo virtual. A cada vez maior aplicação e recurso à Inteligência Artificial na gestão e nos processos de organização de pessoas é hoje, como no futuro, uma constante; ainda mais que,  neste futuro cada vez mais será necessário acelerar a flexibilização e a agilização dos processos, dos meios e das respostas dentro das nossas empresas, também estas cada vez mais desmaterializadas. A agregação positiva destas duas inteligências – inteligência artificial e inteligência humana (não devia ser, antes, natural?) reforçarão certamente a natureza híbrida das empresas do futuro ou, diria, das empresas com futuro!

 

Mas, será apenas de um mundo híbrido de que estamos a falar?

Ao que parece este novo mundo, por alguns autores já designado de “Mundo BANI” (em português, FANI) que é marcadamente “Frágil, Ansioso, Não-linear e Incompreensível” está a criar-nos, de forma híbrida, grandes e renovados desafios em termos da velocidade, fragilidade e volatilidade das coisas e dos processos que temos em mãos para realizar, decidir e entregar…

A única solução é, na minha perspectiva, prepararmo-nos para nos adaptarmos aos novos contextos de “dentro de água”, “debaixo de água” ou à “tona da água” (três das expressões aquosas da nossa língua portuguesa que reforçam uma grande capacidade de adaptabilidade a diversas realidades desconhecidas), interpolados com momentos que, aproveitando a mesma linha de raciocínio, poderão ser classificados de etapas de “areia movediça”, de “terra batida” ou de “terreno arenoso”, para os quais teremos de estar verdadeiramente equipados e preparados.

Assim, uma espécie de mundo que, ao mesmo tempo, exige de nós respostas em contexto híbrido, anfíbio e todo-o-terreno será certamente o futuro (imediato) que temos pela frente.

 

 

 

 

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