Portugal Digital com Propósito: novos desafios, os mesmos dilemas

Por Vanda Vieira, Psicóloga Especialista em Psicologia do Trabalho, Social e das Organizações; em Psicologia da Educação; em Psicologia Vocacional e do Desenvolvimento da Carreira

 

Foi lançado ontem, a dia 31 de maio de 2021, a Associação para o Desenvolvimento Digital e Tecnológico “Portugal Digital com Propósito”. Esta iniciativa nasce a partir de um ambicioso movimento de líderes criado para cumprir o Acordo de Paris e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável até 2030. Junta a tecnologia, a inovação e a colaboração e à semelhança de outras iniciativas focadas no digital, é importante não esquecer as pessoas. As pessoas e a usabilidade dos sistemas de informação, as pessoas e a relação com a algoritmos e a inteligência artificial, como apoiar as pessoas na mudança tecnológica, preparando-as em termos de novas competências, que implicações no meu trabalho e na sua vida pessoal face às relações mediadas pelas novas tecnologias.

A psicologia e os psicólogos/as podem e devem estar envolvida nestes processos de contribuição para a transição digital, aliados no mesmo desígnio de criar conhecimento, inclusão, dar maior bem-estar às pessoas. Vivemos rodeados de tecnologia. E tecnologia faz parte da nossa vida. Viu-se o quão importante foram as (novas) tecnologias para manter as relações sociais e diminuir o isolamento durante o confinamento ou a importância da usabilidade na implementação de determinados programas/serviços. Estamos dependentes da tecnologia, mas a tecnologia não deve dominar-nos; a supervisão dos sistemas deve ser humana, e não mediada por “máquinas que aprendem”. A tecnologia é nossa aliada, mas não devemos dar-lhe um superpoder. Veja-se a Amazon que desenvolveu um programa de seleção de novos profissionais baseado na inteligência artificial e que teve abandonar porque o algoritmo era tendencioso na escolha das pessoas, tratando-se de uma solução enviesada dado não envolver toda a diversidade e factores de contexto que contribuem para a criação de locais de trabalho saudáveis.

A este propósito do contributo da psicologia e de outras áreas do saber para a evolução tecnológica, encontramos dois bons exemplos a nível nacional: a Ordem dos Psicólogos Portugueses desenvolveu uma aplicação inovadora em parceria com o HEI-Lab: Human-Environment Interaction Laboratory, da Universidade Lusófona, para treino de tomada de decisão ética em Realidade Virtual (RV), tendo como objectivo disponibilizar uma ferramenta pedagógica e formativa. Este recurso, o primeiro nesta área desenvolvido pela OPP, foi desenhado para a formação inicial obrigatória dos psicólogos juniores, reforça o papel que a Psicologia também pode e deve ter na geração de valor no contexto tecnológico. Um outro bom exemplo é o Interactive Tecnologies Institute – LARSyS, um centro de excelência em design e tecnologia centrados no papel do ser humano para as mudanças globais. Aqui trabalha-se a Human Computer interacion, com base na interdisciplinaridade entre a Psicologia e as Ciências Sociais, a Ciência da Computação, Criatividade e o Design como áreas científicas centrais. É um centro que trabalha as Tecnologias Assistivas, a Aprendizagem e a Cultura Digital, a Sustentabilidade enquanto principais áreas de aplicação para desenvolver capacidades e promover inovação face aos desafios sociais, como o clima ou a demografia; os sistemas de trabalho ou os fluxos de capital; a gestão de recursos sustentáveis ​​ou a eficiência energética; a gestão das pandemias.

Outros dois bons exemplos a nível europeu são o European Network of Human Centered Articificial Intelligence e o Human Brain Project. O primeiro é uma rede europeia que trabalha a inteligência artificial (IA) com impacto na autonomia humana, nas novas interações sociais e nas novas formas de atividade humana, na relação com o emprego, saúde, privacidade, justiça e segurança. O segundo, o Projeto Cérebro Humano visa colocar em prática uma infraestrutura de pesquisa que permitirá aos investigadores e à indústria avançar no nosso conhecimento de neurociência, computação e medicina relacionada com o cérebro. Em suma, tecnologia sim, mas com e para pessoas!

Para mais info:

https://digitalwithpurpose.org/

https://www.ordemdospsicologos.pt/pt/noticia/3098

https://iti.larsys.pt/

https://www.humane-ai.eu/

https://www.humanbrainproject.eu/en/

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