Portugal subiu no ranking mundial de talento. Mas por que continua a perdê-lo?

No mais recente ranking de mundial de talento (IMD World Talent Ranking 2022), Portugal ocupa a 24.ª posição (de entre 63 países), tendo melhorado duas posições em relação ao ano anterior. Este resultado geral positivo muda de figura quando analisamos as dimensões desagregadas deste ranking.

 

Patrícia Teixeira Lopes, associate dean da Porto Business School

 

Apesar da subida da posição geral, Portugal regista uma descida enorme de 10 lugares na dimensão “Atractividade”, devido, em grande parte, ao péssimo desempenho nos critérios “fuga de talento” e “atracção e retenção de talento”.

A atracção e a retenção do melhor talento são fundamentais para o desenvolvimento económico de um país e para a sustentabilidade de uma sociedade próspera e coesa. O talento é um factor chave para potenciar a inovação, a criação de empregos e, consequentemente, o crescimento e a sustentabilidade das empresas e dos países.

Perante esta constatação, qual o grande desafio que se coloca aos empregadores portugueses? O grande desafio é que, no mundo globalizado em que vivemos, as empresas não competem pelo talento localmente. Na realidade, actualmente, as empresas, quer queiram, quer não, competem globalmente pelo talento. Isto significa que, no panorama da atracção e da retenção de talento, as empresas portuguesas têm como concorrentes, por exemplo, alguns países da União Europeia, capazes de proporcionar um conjunto de benefícios mais cativantes, entre os quais melhores salários, oportunidades de evolução profissional e salarial, um maior equilíbrio entre a vida profissional e pessoal, a flexibilidade horária, ou uma cultura organizacional positiva.

Além disso, e quando o tema é “o estado da arte do talento”, as empresas e os países deparam-se também com uma escassez de profissionais qualificados em algumas áreas especializadas, como é, por exemplo, o caso da tecnologia e das engenharias e, portanto, também se compete pelas competências e qualificações mais procuradas.

A resposta para este importante desafio é complexa e multidimensional. É certamente um tema de salários, especificamente, da inversão da tendência de baixos salários praticados em Portugal. Este é um dos caminhos que terá de ser conduzido. Contudo, para tal é necessário conseguir ganhos de produtividade e de valor acrescentado na economia portuguesa. Outro grande desafio.

Olhando novamente para o ranking do talento, encontramos algumas pistas sobre como atingir esses objectivos. Portugal apresenta desempenhos extremamente pobres nos critérios “investimento em formação por parte dos empregadores” e “importância conferida à motivação dos colaboradores”. Mostra-se, assim, a importância de as empresas portuguesas aumentarem o investimento em educação e formação. É igualmente importante que criem as condições necessárias para melhorar o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional e que desenvolvam políticas de gestão de talentos dirigida à motivação dos colaboradores.

Em suma, trata-se de desenvolver lideranças focadas nas pessoas, que compreendam a importância de investir nas pessoas e, por esta via, criar um círculo virtuoso de motivação e retenção do melhor talento que potenciará um ambiente favorável aos negócios e ao investimento em geral e que, por sua vez, representará novas oportunidades de emprego no nosso país. É este o caminho para o crescimento e o desenvolvimento de Portugal. Porque atrair e reter talento, mais do que um desafio, é uma oportunidade para o nosso país.

 

Este artigo foi publicado na edição de Fevereiro (nº. 145)  da Human Resources, nas bancas.

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