
Profissão sem fronteiras. Internacionalização do bartending
Por Hugo Silva, fundador da Cocktail Team
Há muito que o bar deixou de ser apenas o local onde se servem bebidas. Hoje, é um espaço de encontro, de partilha e de identidade. Cada cocktail preparado é uma história contada em líquido, uma fusão de culturas, técnicas e inspirações. O bartender moderno é, antes de mais, um intérprete cultural, alguém que traduz tradições locais em experiências universais.
A globalização transformou a mixologia numa linguagem comum. Já não se trata apenas de dominar receitas ou tendências, mas de compreender o significado que cada ingrediente carrega. Um bartender português pode estar a preparar um cocktail em Londres com rum caribenho, citrinos sicilianos e um toque de mel do Alentejo, e essa combinação simboliza exactamente o mundo em que vivemos: interligado, diversificado e em constante reinvenção.
A internacionalização da profissão abriu novas oportunidades. Hoje, bartenders portugueses competem em palcos internacionais, assumem funções de formação em grandes grupos hoteleiros e representam o país em bares de renome mundial. São reconhecidos entre os melhores à escala global, ou não fossem galardoados bastas vezes nos eventos mais importantes, que juntam a nata deste sector. E isto resulta da capacidade de estes profissionais levarem consigo uma assinatura, identificada em torno da hospitalidade e criatividade que caracterizam Portugal.
Mas a internacionalização não se resume a viagens. Sair do porto de abrigo, em busca de novas experiências exige, igualmente, atitude. Significa aprender com outras culturas, integrar novas técnicas e regressar com a bagagem cheia de experiências que enriquecem a prática local.
Nesse sentido, a formação de profissionais de excelência torna-se fundamental. O tecido empresarial não pretende ter apenas curiosos, antes quem responda aos desafios destes tempos modernos. E que vão dos horários caóticos, ao bulício constante, à capacidade de estar a par das tendências, de criar algo do zero.
Muitas exigências é um facto; mas, na verdade, temos acompanhado cada vez mais jovens que começaram atrás do balcão e hoje lideram equipas em destinos tão distintos como Macau, Dubai ou São Paulo, que começaram apenas como um apoio e agora têm o seu negócio. O que os une é a curiosidade, o rigor e o desejo de crescer num sector que, mais do que nunca, exige formação e visão global. Que implica muito mais do que o jeito ou gosto em estar atrás do bar, exige conhecimentos e curiosidade pelo comportamento humano, pesquisa pelos hábitos e tradições de povos e civilizações, sempre com um toque individual, aquele toque que nos diferencia das simples máquinas.
A mixologia é, pois, uma forma de arte que atravessa fronteiras e aproxima pessoas. Num tempo em que se fala tanto de diferenças, um cocktail bem preparado continua a ser uma das formas mais simples de criar ligação. Quando alguém levanta um copo, celebra-se mais do que uma bebida, celebra-se a cultura, o talento e a capacidade humana de comunicar através dos sentidos.
O futuro do bartender é, inevitavelmente, sem fronteiras. E talvez esteja aí a verdadeira magia da profissão, a oportunidade de transformar o mundo num lugar mais próximo, uma bebida de cada vez.