Que características deve (ou tem mesmo) uma empresa de ter para fidelizar talento?

Longe vai o tempo em que se acreditava, existia a expectativa ou se ambicionava um emprego para a vida.  O mundo do trabalho mudou, as empresas mudaram e, acima de tudo, as pessoas que fazem as organizações mudaram.

Por Sofia Valentim, manager, insurance banking & financial services, professionals, da Randstad Portugal

 

O contexto socioeconómico, dos últimos 3 anos, alavancado pela pandemia, impulsionou um conjunto de transformações que nos fizeram a todos repensar prioridades e colocar em perspectiva aquilo que é realmente importante e o que nos traz, verdadeiramente, satisfação, realização e felicidade.

Não é cliché que todos queremos ser felizes nos vários domínios da nossa vida e a realização profissional ocupa, para muitos de nós, um desses pilares. Continua a ser verdade que a maioria das horas activas do nosso dia são passadas a trabalhar.

O choque de realidade de que todos fomos alvo nos últimos tempos fez com que, para a maioria dos profissionais, se tornasse imperativo que este tempo passasse a representar maior qualidade e significado, e não apenas um meio para atingir um fim. Os fenómenos da Great Resignation e do Quiet Quitting a que assistimos desde o início da década de 2020 reflectem isto mesmo.

Não vivemos, contudo, numa sociedade utópica, e o salário continua a representar um dos principais factores que leva os profissionais a sair das empresas e a procurar novas oportunidades.  Não obstante, tornou-se cada vez mais evidente que se trata de um factor higiénico. Sozinho, já não se retém o verdadeiro talento.

As pessoas procuram estabilidade, mas flexibilidade, a possibilidade de terem um verdadeiro equilíbrio entre a vida profissional e pessoal e organizações com um propósito e que, efectivamente, o ponham em prática.

O 20.º Workmonitor reflecte exactamente esta tendência. 72% dos profissionais encara o trabalho como um dos elementos importantes da sua vida. E, embora o contexto socioeconómico actual seja de incerteza, isso não faz com que as pessoas se tornem menos exigentes quanto à necessidade de um correcto work-life balance. Mais de metade dos inquiridos (61%) não aceitaria um trabalho que colocasse em causa este equilíbrio e 48% confessa que equacionaria demitir-se se o seu trabalho o impedisse de aproveitar devidamente a sua vida.

Que não se pense, contudo, que as pessoas deixaram de querer trabalhar ou que se dedicam menos. Muito pelo contrário. Colaboradores que se identificam com as empresas para as quais trabalham, que conseguem gerir com qualidade o seu tempo, são profissionais mais felizes e mais produtivos e com um nível de entrega superior.

Desenvolvem projectos em que acreditam e que encaram também como seus e não só da empresa. Há um alinhamento de propósitos: individual com o da organização, o que conduz a um sentimento de pertença e simultaneamente de orgulho – as pessoas revêem-se com o trabalho que realizam e com as empresas para qual o desenvolvem, o que por si só é um factor de retenção. Não é segredo que são as pessoas a verdadeira força das organizações. São as pessoas que fazem a diferença, as equipas que impulsionam projectos e aceleram o desenvolvimento das empresas!

Perante este contexto, coube às empresas responder a estas tendências, com vista a reter e a continuar a atrair o talento certo para as suas actividades e negócio. As “regras” do mundo do trabalho mudaram! Compete, neste momento, também às organizações conseguir satisfazer as expectativas e necessidades dos seus colaboradores, e não só o antigo inverso!

As empresas que melhor se adaptarem e responderem a este novo paradigma são, sem dúvida, as que mais facilmente conseguirão atrair os melhores profissionais, e manter consigo aqueles que realmente fazem a diferença e que as podem colocar também numa posição diferenciadora, em termos de mercado.

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