Quem cuida dos profissionais de Gestão de Pessoas? O outro lado dos desafios actuais!

Por António Saraiva, Business Development Manager na ISQ Academy

 

Olá Sr. João, vai a jola do costume? João levanta a cabeça para o empregado do café do seu bairro e acena afirmativamente. E volta a ficar imerso nos seus pensamentos! João, com uma pequena mochila às costas, fuma o seu terceiro cigarro desde que saiu de casa, a uns restritos 200 metros. Aguarda pela abertura do café às 8h e bebe a sua jola como pequeno-almoço, para depois se perder num longo passeio matinal, faça chuva ou faça sol! Congeminando um futuro que… não encontra!
Um estudo muito recente revela que “81% dos profissionais de Recursos Humanos está em burnout, dos quais 62% consideram mesmo deixar o setor”. João, faz parte destas estatísticas. Com uma diferença: não encontrou, até à data, a possibilidade de transferência de setor. Tem 59 anos e não vislumbrou qualquer oportunidade. Levou muito a sério as suas responsabilidades durante a pandemia, tendo sido um dos mais ativos membros do seu departamento no suporte aos colegas de todos os outros setores. Um elemento fundamental na implementação do trabalho remoto. A verdade é que pensou nos outros e se esqueceu de si próprio e, alguém, se esqueceu… dele!
A Gestão de Pessoas, de uma forma geral, tem ganho influência, visibilidade, agilidade e tem tido impacto positivo nas Organizações. Em muitos casos, saiu da sua operacionalidade, até muito administrativa, para um conceito de parceiro estratégico. Não se pode falar ainda de uma transformação global, mas sim evolutiva. Com alguns altos e baixos, mas também de alguma consistência. Consciencializou-se e conseguiu até impor-se que mais que os processos, o fulcro essencial de uma Organização são as Pessoas. Mas o mundo é galopante e passa de crise para crise a uma velocidade estonteante. E a estatística de casos, se bem que de resultados por vezes dolorosos, passa para impactos nas famílias e na Sociedade, e numa perspetiva de roleta russa organizacional.
E esta incerteza, por via de quem sobrevive, seja a própria organização, sejam postos de trabalho, impactam definitivamente nas Pessoas. A Gestão de Pessoas, tem de correr atrás destes desafios. Como gerir, por via da retenção de talento, um mercado de trabalho cada vez mais apertado e de grande volatilidade, em particular com o desafio de novas profissões empurradas pelo aumento da digitalização e novos métodos laborais? E ao mesmo tempo, sabe que tem de cuidar das Pessoas: mais e melhores benefícios e Pessoas mais felizes, porque a produtividade, se em sentido contrário, é beliscada.
A verdade é quem é que cuida dos profissionais de Gestão de Pessoas? Respostas, tipo silogismo, podem surgir: são especialistas, logo não precisam! Ou, logo cuidam-se a eles próprios. A verdade, é que a realidade não é essa, até porque também são… Pessoas! Há que contrariar muitos dos estereótipos gerados sobre os profissionais deste setor. Sim, são especialistas em Pessoas, mas a carga mais operacional tem de ser mais ligeira, apostando-se na automatização de muitos processos, gerando-se, certamente, respostas em self-service, em que qualquer colaborador é também responsável pela sua vida organizacional. Porque, aí sim, gerir pessoas pode acrescentar mais Valor – com foco na diversidade, equidade e inclusão. Na felicidade e motivação dos colaboradores, na deteção precoce, ou suporte, a problemas de ordem comportamental. No fundo, a Gestão de Pessoas é zelar pelos processos, sim, mas acima de tudo garantir o desenvolvimento e bem-estar das Pessoas. Talvez assim, não exista o Sr. João em burnout, perdido, à procura do… futuro!